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DATA DA PUBLICAÇÃO 19/01/2010 | Saúde e Ciência
Xixi na cama pode ter causas genéticas, destaca médica
Algumas semanas atrás, atendi uma garotinha de cinco anos que ainda fazia xixi na cama toda noite. É uma reclamação comum: pelo menos 15% de crianças saudáveis de cinco anos de idade não passam uma noite completamente secas. Fazer xixi na cama é bastante comum até em crianças mais velhas.

Porém, o que pode ser mais surpreendente em relação à enurese noturna primária, para usar o termo clínico para a incontinência urinária em crianças que ficam bem durante o dia, mas nunca passam uma noite secas, é que a condição muitas vezes é baseada na genética.

Em outras palavras, não se trata de problemas emocionais, ou erros que os pais fizeram durante o treinamento para o uso do banheiro, ou preguiça, que algumas pessoas ainda atribuem ao fato de fazer xixi na cama (e o problema é cerca de três vezes mais comum em meninos do que em meninas).

De fato, uma das piores coisas de fazer xixi na cama é o estigma. Os que sofrem com isso e suas famílias têm sido acusados de várias faltas, de pais falhos até criminalidade latente (em 1945, o "The New York Times" relatou um estudo de psicologia sobre o histórico de 500 homens que passaram por problemas disciplinares na Marinha em tempos de guerra. O indicador mais poderoso de não se dar bem na Marinha, segundo o artigo, era uma combinação de três fatores: expulsão da escola, prisão civil e enurese após os cinco anos de idade).

A enurese pode ter várias causas psicológicas. Algumas crianças não possuem um hormônio que diminui a produção de urina à noite. Outras simplesmente fazem xixi na cama porque a capacidade de sua bexiga é pequena.

"Geralmente, o encontro que tenho com crianças que atendo na minha clínica é assim", disse Dra. Jennifer Abidari, chefe de urologia pediátrica do Centro Médico Santa Clara Valley, na Califórnia. "Desenho algumas bexigas; três delas são grandes e uma é bem pequena."

"Pergunto a eles qual das bexigas faz xixi na cama e eles geralmente dizem que é a pequena. Eu digo: 'Você está certo - sua bexiga é menor do que a sua idade, e não é culpa sua'. Vejo o filho olhar para um dos pais e sei que ali tinha um conflito."

Genética

Em 1995, a primeira notícia sobre uma base genética para o xixi na cama chegou às manchetes, depois que pesquisadores dinamarqueses relataram uma relação com o cromossomo 13. "Está muito claro que existe um forte componente hereditário no curso da enurese", disse Dr. Soren Rittig, professor de nefrologia pediátrica do Hospital Universitário Aarhus, na Dinamarca.

Rittig é um dos cientistas que publicaram novas descobertas sobre a genética da enurese noturna, que, como se descobriu, está longe de ser simples; a relação com outros três cromossomos foi encontrada em outras famílias.

Os pesquisadores identificaram várias famílias grandes na qual a enurese foi herdada seguindo um padrão autossômico dominante, isto é, se um dos pais tinha um histórico de fazer xixi na cama, a criança tinha 50% de chance de herdar a condição.

À medida que as crianças ficam mais velhas que meu paciente, tratamentos comportamentais e outros podem fazer uma grande diferença. Crianças cujas bexigas tendem a sofrer espasmos têm a possibilidade de serem tratadas com drogas anticolinérgicas, e crianças sem o hormônio diurético podem tomar uma versão sintética.

No entanto, essas drogas tratam do sintoma, não do problema que está por trás. "Considero a enurese um retardo do desenvolvimento que melhora sozinho", disse Abidari, acrescentando que, se a medicação é interrompida e o desenvolvimento não progride, "as crianças vão voltar a fazer xixi na cama de novo".

Nesses casos, um tratamento eficaz é um alarme na cama, que vibra e faz barulho quando uma criança começa a urinar. Abidari afirma que o alarme pode curar o problema, mas pode ser difícil para a família, especialmente se a criança dorme bem. "Imagine, o alarme dispara, todo mundo na casa acorda, mas a criança continua dormindo", disse ela. O sucesso exige motivação de todas as partes.

Comprometimento

Os médicos, enfermeiros e psicólogos que tratam da enurese podem ser quase messiânicos sobre o alívio que podem oferecer às crianças e às famílias. "O médico deve estar entusiasmo para querer tratar as crianças que fazem xixi na cama", disse Dr. Kenneth I. Glassberg, diretor de urologia pediátrica do Morgan Stanley Children's Hospital of NewYork-Presbyterian.

Também deve haver um comprometimento por parte da equipe, acrescentou ele, para lidar com consultas frequentes, ligações telefônicas e o apoio de longo prazo necessário para as crianças e suas famílias.

Todas as crianças com esse problema deveriam ser examinadas para verificar a presença de infecções do trato urinário. Crianças que desenvolvem enurese secundária, isto é, elas ficam completamente secas por seis meses, depois voltam a fazer xixi na cama-- podem ter infecções, constipação (um intestino grosso cheio demais pode pressionar a bexiga) ou vários outros problemas, incluindo questões comportamentais e psicológicas.

Minha paciente também estava tendo acidentes diurnos, e muitos especialistas deveriam tratar disso antes mesmo dos cinco anos. Podem ser os mesmos problemas com a bexiga, mas também pode haver elementos comportamentais.

Além de fatores anatômicos e hormonais, "desenvolver incontinência diurna e noturna é uma combinação de prontidão neurológica, prontidão de desenvolvimento e a interação entre uma criança e seu ambiente, seja a creche, os pais, os irmãos, a pré-escola", disse Dr. Alison D. Schonwald, professor assistente de pediatria da Harvard Medical School e co-autor de "The Pocket Idiot's Guide to Potty Training Problems" (Alpha, 2006).

Meu plano era checar a urina da paciente de cinco anos, apenas para me certificar que ela não tinha nenhuma infecção e indicar um urologista pediátrico. Embora a mãe da paciente achasse que os problemas de fazer xixi durante o dia estavam melhorando, ela gostou da ideia de consultar um especialista. E a própria menina demonstrou o controle de sua bexiga quando simplesmente se negou a urinar num recipiente de plástico.

PERRI KLASS é médica e escreve para o jornal "The New York Times"

Por Perri Klass - New York Times / Folha Online
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