NOTÍCIA ANTERIOR
SOS substitui obras nas estradas
PRÓXIMA NOTÍCIA
Sobe para 6 número de vítimas da gripe A em São Bernardo
DATA DA PUBLICAÇÃO 17/08/2009 | Setecidades
Vila histórica tem casas demolidas em Ribeirão Pires
Um dos patrimônios mais marcantes da história de Ribeirão Pires corre o risco de ser apagado da memória da cidade. A Vila Operária, no Bairro Santa Clara, está sendo destruída e os moradores nada podem fazer, pois o local pertence à pedreira Santa Clara. Quem vive nas casas com arquitetura colonial afirma que desde o começo do ano funcionários que se identificam como representantes da pedreira alegam que a área onde estão aproximadamente 30 casas será utilizada pela empresa para construção de um galpão que abrigará maquinário pesado. Procurada desde a semana passada pelo ABCD MAIOR, a direção da empresa não se pronunciou.

De acordo com o relato da vizinhança da vila, assim que algum morador abandona as casas um grupo de trabalhadores destrói a construção. Aos ocupantes dos imóveis não é oferecida indenização ou mesmo transporte para mudança. “A gente deveria desocupar a casa no começo do ano, mas não temos para onde ir. Não é fácil conseguir um novo lugar tão rápido assim”, disse o autônomo Valmir José Silva, morador da vila.

A manutenção das casas e da vila sempre foi feita pelos moradores, que até a década de 1990 não contavam com saneamento básico e energia elétrica. “Tivemos de reivindicar tudo para que as condições pudessem melhorar”, relembra o motorista Jeter Barbosa Santana, que vive no local há 30 anos.

Aluguel
Desde 2006, ainda de acordo com os residentes, a pedreira não cobra aluguel. Para ocupar uma das antigas residências, a população da vila relata que pagava um valor simbólico para a pedreira. Mensalmente, o motorista Santana desembolsava R$ 100, o mesmo valor cobrado do autônomo Silva. Em outra parte da vila, o aluguel era negociado com o inquilino. O aposentado Onófrio Francisco Rocha, um dos moradores mais antigos da comunidade, pagava até 2006 apenas R$ 30. “Sempre trabalhei na pedreira e vivi por mais de 30 anos na vila. Meus filhos foram criados aqui e agora querem que eu largue tudo e procure outro lugar”, reclamou o aposentado.

Denúncia
A degradação da vila motivou o Instituto do Patrimônio Histórico do ABC a formalizar denúncia no Ministério Público, que deve receber o documento nesta terça-feira (18/08). Um dos historiadores do instituto, Arnaldo Boaventura, explica que o Bairro Santa Clara é um marco histórico para Ribeirão Pires.

“Aquela região já abrigou a Fazenda Bandeirantes, as primeiras olarias da cidade e duas igrejas historicamente importantes”, disse Boaventura. A intenção do Instituto, conforme o historiador, é criar um projeto junto à Prefeitura para resgatar o patrimônio histórico da cidade. “Vamos fazer um levantamento histórico sobre a pedreira Santa Clara e a relação da empresa com a sociedade ao longo dos anos”, afirmou o historiador.

Greve
A região do Pilar Velho, em Ribeirão Pires, abriga atualmente um complexo patrimônio histórico que inclui remanescentes das antigas olarias, a Vila Operária e as igrejas do Pilar e Santa Luzia. Ainda hoje, muitos dos moradores da vila tratam o local como colônia, uma antiga lembrança dos anos 30 do século passado. De acordo com historiador de Ribeirão Pires, Américo Del Corto, a Vila Operária surgiu inicialmente para abrigar os funcionários das antigas olarias. “As próprias olarias forneceram material para a construção das casas. Contudo, hoje as residências possuem apenas as paredes originais, pois as telhas já foram trocadas”, explica o historiador.

A pedreira Catedral, hoje conhecida como Santa Clara, foi fundada no começo do século 20 e passou a fornecer blocos para a construção da Catedral da Sé, na Capital. Com isso, a Vila Operária ganhou novas moradias, que foram ocupadas pelos funcionários da pedreira. O memorialista e jornalista Ademir Médici explica que a vila chegou a comportar aproximadamente 600 moradores. Antes da chegada dos oleiros, o terreno que abriga a Vila Operária e a pedreira pertencia à fazenda Bandeirantes.

De acordo com historiadores, a fazenda possuía construções da época da escravidão, como pelourinho e ainda uma possível senzala. “Mas não podemos confirmar como era a antiga fazenda, pois com a chegada da pedreira, todas as construções foram destruídas. Hoje, não podemos saber ao certo onde se encontrava a sede da Bandeirantes”, explica o historiador do Instituto do Patrimônio Histórico do ABC, Arnaldo Boaventura.

A Vila Operária, ainda de acordo com Boaventura, foi palco da segunda greve do Brasil. O movimento ocorreu em 1907, ano em que foi fundado a União dos Canteiros do Estado de São Paulo, com uma unidade em Ribeirão Pires. Os trabalhadores das olarias paralisaram os trabalhos exigindo aumento salarial de 10%. A greve durou seis meses e a reivindicação dos canteiros foi atendida.

Abandono
Os historiadores da Região criticam a destruição das casas da Vila Operária e acrescentam que muitos prédios históricos foram perdidos ou estão descuidados na cidade. “O município já perdeu várias olarias, bem como outros casarões e até a sede da Fazenda Bandeirantes. Agora a Prefeitura está deixando que a vila se perca”, disse Boaventura.

A Igreja de Santa Luzia é outra construção que faz parte da história da Vila Operária. Como explicou o historiador Arnaldo Boaventura ,do Instituto do Patrimônio Histórico, a igreja foi construída pelos trabalhadores da pedreira. Durante a lapidação, constantemente lascas de pedra atingiam os olhos dos funcionários. “Santa Luzia é a protetora da visão, por isso os trabalhadores decidiram erguer a igreja”, disse Boaventura. Atualmente, o templo religioso, que deu o nome ao bairro em que se encontra, está parcialmente destruído e sem manutenção. O lixo se acumula dentro do altar e parte das paredes estão pichadas. A Prefeitura de Ribeirão Pires não informou se pretende tomar alguma atitude a respeito da antiga igreja e as demais construções históricas da cidade.

Por Renan Fonseca - ABCD Maior
Assine nosso Feed RSS
Últimas Notícias Setecidades - Clique Aqui
As últimas | Setecidades
25/09/2018 | Acidente na Tibiriçá termina com vítima fatal
25/09/2018 | Santo André quer tombar 150 jazigos de cemitérios municipais
21/09/2018 | Região ganha 13 mil árvores em um ano
As mais lidas de Setecidades
Relação não gerada ainda
As mais lidas no Geral
Relação não gerada ainda
Mauá Virtual
O Guia Virtual da Cidade

Todos os direitos reservados - 2024 - Desde 2003 à 7712 dias no ar.