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DATA DA PUBLICAÇÃO 03/08/2009 | Cultura
Vestido de Noiva em cartaz no Teatro Municipal de Santo André
Marcello Antony, Leandra Leal, Vera Zimmermann, Luciana Carnieli, Pedro Henrique Moutinho, Rodrigo Fregnan, Cacá Toledo, Helô Cintra, Maria do Carmo Soares e Flávio Tolezani integram o elenco. Texto de 66 anos faz parte do rol das peças psicológicas do dramaturgo

Depois de Salmo 91 e Calígula, o diretor Gabriel Villela leva ao palco Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, peça considerada marco inicial do moderno teatro brasileiro, encenada pela primeira vez em 1943 por Ziembinski. A montagem é uma combinação de estilos dramáticos. Com Marcello Antony, Leandra Leal, Vera Zimmermann, Luciana Carnieli, Maria do Carmo Soares, Pedro Henrique Moutinho, Rodrigo Fregnan, Cacá Toledo, Helô Cintra e Flávio Tolezani. O espetáculo faz apresentações nos dias 08 e 09 de agosto no Teatro Mun. de Santo André.

Polêmica desde a época da primeira montagem, Vestido de Noiva integra, segundo o professor e Dr. Sábato Magaldi, estudioso de Nelson Rodrigues, a série de peças psicológicas do dramaturgo, com uma linguagem forte que transporta para o palco a profunda angústia presente nos textos do autor, que chocam e emocionam o público há gerações pelo modo cru e abrupto de retratar a realidade velada da classe média carioca.

A protagonista Alaíde (Leandra Leal) é uma mulher que vive um triângulo amoroso com seu marido Pedro (Marcello Antony) e sua irmã Lúcia (Vera Zimmermann). Depois de uma discussão com Lúcia, Alaíde é atropelada. Desacordada, alternando entre o sonho e a realidade, ela revive passagens de sua vida: o dia de seu casamento, o suposto assassinato que cometeu contra seu marido e os planos de Pedro e Lúcia de matá-la. Essas lembranças e alucinações são conduzidas pela figura de Madame Clessi (Luciana Carnieli), uma prostituta idolatrada por Alaíde. A mente da protagonista é povoada ainda pelas figuras da mãe, dos médicos, dos jornalistas que cobrem o acidente, das prostitutas do bordel de Clessi - personagens vividos pelos outros seis atores do elenco.

Realidade, memória e alucinação
Estruturado em três planos intercalados que remetem a diferentes dimensões: realidade, memória e alucinação -, o texto é essencialmente freudiano, já que os planos da alucinação e da memória se passam no subconsciente da personagem. Em um constante jogo entre realidade e alucinação, questiona-se a distorção e a subjetividade da realidade, bem como as fronteiras entre o real e onírico.

No que se refere aos três planos, o diretor Gabriel Villela não segue a proposta arquitetônica de Santa Rosa, cenógrafo da montagem original de Ziembinski dos anos 40. Gabriel privilegia o trabalho de ator e o texto. A passagem para cada um dos planos recai mais sobre a capacidade dos atores de contar a história do que a cenografia em si. "Os três planos estão presentes originalmente de acordo com as rubricas do autor. O palco só não está dividido em três níveis. A condução do pensamento do espectador para cada um deles se dá por meio de outros artifícios que não sejam oriundos da cenografia, principalmente através da interpretação e da luz", afirma o diretor.

Escrita por Nelson Rodrigues em três atos, a encenação de Gabriel tem dois atos, divididos por um intervalo de 15 minutos. "O primeiro e segundo atos da peça acontecem o tempo inteiro dentro da alucinação. A realidade que às vezes penetra nesse mundo se dá por informações pontuais, como os sons do acidente, os batimentos cardíacos da personagem enquanto o médico a está operando. Mesmo assim, os dois mundos estão muito interligados, interpenetrados e intersecionados", explica.

Os personagens e seus intérpretes
É a primeira em vez que Marcello Antony e Leandra Leal são dirigidos por Gabriel Vilela. O convite aos atores veio da novela Ciranda de Pedra, na qual contracenavam com o produtor do espetáculo, Claudio Fontana. A eles se uniram as veteranas de parceria Vera Zimmermann, com quem Gabriel já trabalhou seis vezes, e Luciana Carnieli, que está em sua quarta peça com o diretor.

Apaixonada pela obra de Nelson Rodrigues desde os 15 anos, Leandra Leal conta que sempre teve o desejo de interpretar um personagem do escritor. "Fiz um papel que me diziam ser muito rodrigueano na novela Pecado Capital, em 1998. Nessa época, li a obra completa de Nelson e tive a certeza de que faria alguma peça dele. E agora chegou a hora, duplamente - interpretei ano passado Ritinha [no filme Bonitinha mas Ordinária, de Moacyr Góes] e este ano Alaíde. Fico muito feliz por fazer esses dois papéis, mas há ainda vários outros personagens dele que gostaria de interpretar", revela a atriz.

"Os personagens rodrigueanos são muito densos e têm desejos muito grandes. Nelson constrói narrativas baseadas no desejo e no seu impedimento. Para o ator, é muito rica essa questão de luta interna dos desejos versus o social e a moral. Ao mesmo tempo, são desejos humanos, possíveis. Essa história é uma disputa clássica entre irmãs. As duas sempre tiveram conflitos, e Pedro foi o ícone disso, que acabou por desencadear um final trágico", conta Leandra.

Vera Zimmermann, que encarna a irmã Lúcia, defende que sua personagem é "uma vilã com justa causa". "Há uma tendência natural de sempre acabarmos defendendo o personagem, mas particularmente acho que Lúcia foi traída primeiro. A irmã roubou todos os seus namorados e, inclusive, o homem da sua vida. Por ter se sentido traída e roubada tantas vezes, Lúcia se tornou uma pessoa vingativa, uma vilã", afirma Vera.

A atriz conta que esse é um dos seus maiores desafios como atriz. "Lúcia vai aos poucos se desvelando, sofre uma transformação do primeiro para o segundo ato. São quase dois personagens em cena. No início do espetáculo, Alaíde não sabe quem é essa mulher de véu, que está ali como um vulto. No final do segundo ato, lembra que a mulher do véu é Lúcia, e acontece um grande embate entre as irmãs. Construir a linha entre essas passagens é uma grande tarefa", diz ela.

O objeto de disputa das duas irmãs é Pedro, vivido por Marcello Antony. "Pedro é um cara muito cínico, malandro. Casa com uma das irmãs, mas tem a outra como amante. Claro que essa também é a visão de Alaíde, porque é ela quem preside a trama, mesmo depois de sua morte. Mas, como a peça transita o tempo todo entre realidade e alucinação, possibilita várias interpretações. É uma peça atemporal, que pode ser lida daqui a 60 anos e ainda vai dar margem para muitas leituras", considera o ator.

Marcello diz que o convite para a peça coincidiu com a intenção de se dedicar integralmente ao teatro este ano. "No final do ano passado, estava procurando um texto para encenar. Procurei de tudo, mas nada me agradava. De repente, aconteceu este convite e era tudo o que eu queria", conta. "Minha base toda é no teatro, essa é a minha 15a peça. Fiquei 12 anos em televisão e agora estou me permitindo tirar um ano para o teatro, como inspiração e renovação, porque o teatro abre todas as possibilidades para o ator", afirma.

Acompanhando as desventuras desse trio central está Madame Clessi, personagem interpretada por Luciana Carnieli que norteia a viagem mental de Alaíde. Circundada por uma aura de glamour e beleza, Clessi é uma prostituta do começo do século, da Belle Époque. Uma mulher completamente apartada da sociedade pela sua condição de prostituta, ao mesmo tempo em que é muito influente, por ser rodeada de homens poderosos. Clessi sofre uma morte trágica - vestida de noiva, é assassinada por seu amante de 17 anos. Segundo Luciana, para Alaíde "Clessi é um ídolo, a imagem da mulher liberal que a faz sair um pouco da sua vida burguesa".

Sobre o diretor
Diretor, cenógrafo e figurinista, Gabriel Villela estudou direção teatral na USP e iniciou sua carreira em 1989 com Você Vai Ver o que Você Vai Ver, de R. Queneau, e O Concílio do Amor, de O.Panizza. Ganhador de diversos prêmios, como Molière, Prêmio Sharp, Shell, Troféu Mambembe, cinco APCA, Prêmio APETESP e PANAMCO, Gabriel já encenou Heiner Muller (Relações Perigosas), Calderón de la Barca (A Vida é um Sonho), William Shakespeare (Romeu e Julieta), Nélson Rodrigues (A Falecida), Arthur Azevedo (O Mambembe), Strindberg (O Sonho) e João Cabral de Melo Neto (Morte e Vida Severina). Depois veio a trilogia de musicais de Chico Buarque para o TBC: Ópera do Malandro, Os Saltimbancos e Gota D'Água.

Dirigiu também A Ponte a Água de Piscina, de Alcides Nogueira, ganhador de três Prêmios Shell, em 2002. Em 2004 montou Fausto Zero, do escritor alemão J.W. Goethe, com a qual esteve na Rússia. Em 2006 , montou Esperando Godot. Em 2008, foi premiado com a peça Salmo 91, tornando-se um dos mais renomados diretores teatrais com reconhecimento internacional. No mesmo ano montou Calígula. Com o Grupo Galpão (Romeu e Julieta e A Rua da Amargura), foi convidado para uma temporada no Globe Theatre, em Londres, uma reconstrução do teatro original em que Shakespeare encenava seus textos, no século XVI, conquistando a crítica e o exigente público londrino.

Ficha Técnica:
Texto:
Nelson Rodrigues. Direção e figurinos: Gabriel Villela. Cenografia: J.C. Serroni. Elenco: Leandra Leal, Marcello Antony, Vera Zimmermann, Luciana Carnieli, Maria do Carmo Soares, Pedro Henrique Moutinho, Rodrigo Fregnan, Cacá Toledo, Helô Cintra e Flávio Tolezani. Produção Executiva: Claudio Fontana. Produção Local: C.A. Produções.

Serviço

Teatro Municipal de Santo André
Praça IV Centenário, s/nº - Centro
475 Lugares / Ar condicionado/ Estacionamento

Dia: 08 e 09 de Agosto
Horário: Sábado - 21 horas / Domingo -19 horas
Duração do espetáculo: 100 minutos. / Indicação: 14 anos.

Bilheteria: Aberta a partir de 28 de julho Terça a sábado das 14h às 19h e domingo das 15h às 19h, ou até o início dos espetáculos.

Preços dos ingressos

Inteira:
R$ 60,00

Antecipada: R$ 50,00

Promoção: R$ 40,00

Meia: R$ 30,00
Estudantes, aposentados, idosos acima de 60 anos e professores da rede estadual.

Em qualquer situação de desconto
Obrigatória a identificação:
No ato da compra e na entrada do teatro, estudante apresentar boleto original do mês.

Informações
4433-0789 / 2093-3176
www.caproducoes.com.br

Por Assessoria - C.A. Produções
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