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DATA DA PUBLICAÇÃO 15/05/2015 | Geral
Uma em cada quatro regiões de SP tem aumento no consumo de água
Média da capital segue em queda; mapa mostra índices de 2013 até março.

Jardins é a campeã em gasto d’água; Grajaú tem a menor média da cidade.


Apesar de o consumo de água na cidade de São Paulo continuar em queda, algumas regiões têm registrado um aumento em 2015. Dados da Sabesp de março, os últimos divulgados pela empresa, mostram que seis áreas ampliaram os gastos e seis mantiveram o mesmo patamar do mês anterior. As outras 14 tiveram queda no consumo. A Sabesp divide a cidade em 26 regiões de atendimento.

A média da capital, de 10,3 mil litros por domicílio, é a menor desde o início da crise hídrica. Mas houve uma desaceleração na curva neste início de ano. Em fevereiro, a média ficou em 10,4 mil litros.

O G1 elaborou um mapa com os dados de consumo mensais por região desde janeiro de 2013, antes do início da crise. Ele será atualizado mensalmente. O mapa mostra um consumo maior na região central e menor nos bairros periféricos da capital.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Capital (CGE), São Paulo teve o verão mais chuvoso dos últimos 15 anos. Apenas em janeiro o índice de chuva abaixo da média esperada para o período. Com mais chuva, muita gente pode ter se descuidado na economia de água.

Para a urbanista Marussia Whately, que atua no Instituto Socioambiental e coordena a Aliança pela Água, um projeto que reúne quase 50 entidades e busca enfrentar a atual situação, houve um "relaxamento" nos últimos meses. "Começou a chover e pareceu estar tudo bem. O assunto saiu da pauta”, afirma.

Ela ressalta que há também “um limite daquilo que é possível fazer em relação à economia d’água”. “Isso gera uma preocupação. Se não é possível economizar mais e será preciso uma quantidade maior que a proporcionada pela chuva até o fim do ano, como vai fechar essa equação?”

Já a gerente de Atendimento e Relações com o Consumidor da Sabesp, Samanta de Souza, diz que, com a chegada do inverno e com temperaturas mais baixas, a probabilidade é que a média de consumo de água caia mais nos próximos meses.

Dificuldade em economizar

Gerente de uma lanchonete nos Jardins, Givanilson Dantas, de 42 anos, diz não ter conseguido diminuir o consumo por causa da higiene. O estabelecimento, que funciona das 7h às 23h, atende diariamente 90 pessoas e conta com oito funcionários. “A gente usa muita água. Tem que lavar a louça, o salão. E todo dia a gente lava a cozinha e o banheiro.”

Durante a crise hídrica, a lanchonete adotou algumas alternativas para economizar, como a instalação de válvulas novas, mais econômicas, no banheiro e na cozinha. “Também colocamos baldes no telhado para pegar água da chuva e usar na limpeza da calçada”, diz. Isso, porém, não foi suficiente para baixar a conta, que se manteve em torno de R$ 1 mil.

Funcionário de um prédio de alto padrão no bairro, Marcelo dos Santos, de 45 anos, conta que o grande problema são os gastos individuais. “Tem morador que usa mais [água] que outro.” Com 20 apartamentos, cada um ocupando um andar, o condomínio tem um gasto médio de R$ 2.400 por mês com água.

Santos diz que o edifício demanda muita água para manter as áreas comuns e suas duas piscinas limpas. “A gente já tem sistema de água de reúso para lavar a calçada. Agora a gente quer instalar um sistema para tratar essa água e poder usar nas piscinas.”

Redução no consumo
Os dados da Sabesp obtidos pelo G1 mostram que, em dois anos, a cidade teve uma redução de 28% no consumo d’água.

A região com o maior percentual de queda em dois anos é a do Ipiranga: 34,6%. A economia média é de 5.710 litros por mês em cada ligação. Hoje, são gastos 10,8 mil litros por local.

Para Samanta de Souza, a região do Ipiranga é muito residencial, o que faz com que a média de consumo seja mais baixa que regiões que oferecem muitos serviços – como a região dos Jardins, que concentra um grande número de hotéis, restaurantes e outros pontos comerciais.

Essa diferença de perfil urbano faz com que a diferença de consumo entre as regiões da cidade chegue a até 70% – Jardins está no topo, e Grajaú, na ponta de baixo. Segundo Souza, o fator econômico também pesa. "A pessoa que tem uma restrição orçamentária maior observa mais o consumo [e a conta de água]. Já uma família que tem poder aquisitivo superior muitas vezes preza pelo conforto e não pelo orçamento."

A urbanista Marussia Whately acredita que o índice do Ipiranga também está relacionado à redução da pressão da água adotada pela Sabesp. O bairro é um dos mais afetados, com 18 horas de redução na pressão por dia (das 13h às 7h).

Segundo Samanta, porém, "o período de redução de pressão não impacta no consumo". "Existe uma norma técnica brasileira que fala que todos os imóveis devem ter uma reserva adequada para 24 horas de abastecimento. Se o cliente não tem essa reserva, aí sim [a redução de pressão] pode impactar o consumo dele", afirma a gerente da Sabesp.

Com um salão de beleza no Jardins, a região recordista de gastos, a empresária Fernanda Prado, de 28 anos, conseguiu economizar, mas de forma compulsória. “É que acaba a água todo dia depois das 15h30”, afirma. O estabelecimento recebe, em média, 50 clientes por dia e, por isso, gasta muita água. “Não só na lavagem normal de cabelo, mas quando pinta. São várias lavagens, não tem como não usar água.”

Com a diminuição da pressão feita pela Sabesp, as torneiras deixam de receber água da rua e se mantêm com o que fica na caixa d’água. A mudança fez com que a conta, que era de R$ 1.260 em dezembro, caísse para R$ 751 em março. “E com o desconto, ficou em R$ 530.”

Apesar da economia, Fernanda diz não estar feliz com a situação. “Já fiquei sem água, quando acabou a reserva da caixa. Sorte que era domingo e o salão não funcionou. Passei muito nervoso.” Ela instalou neste mês uma nova caixa d’água, o que deve diminuir sua ansiedade e aumentar a reserva para que seus 28 funcionários trabalhem à vontade.

Para tentar amenizar a conta, o morador do Ipiranga Safir Naun, de 38 anos, usou a criatividade. Durante o verão passado, ele quis presentear a filha, Safira, de 6 anos, com uma piscina de 1,2 mil litros. Para não gastar mais, decidiu aproveitar a água da chuva que caia sobre sua casa. "A gente tinha um cano que ia direto do telhado para o esgoto. Aí, fizemos uma ligação direto para a piscina.” Com um filtro, que custou R$ 60, e muito cloro, ele deixa a água limpa para a menina nadar à vontade.

O invento deu tão certo que a piscina chegava a transbordar durante os temporais. Pensando na economia, ele comprou uma cisterna de 500 litros e a instalou no quintal. O filtro ajuda a bombear a água para o reservatório. “Minha mulher usa essa água para lavar roupa, na descarga, para limpar a casa”, diz. Com isso, ele conseguiu economizar bastante. "Antes eu gastava R$ 120. Agora, consegui economizar mais de R$ 40.”

Medidas urgentes
A coordenadora da Aliança pela Água diz que ainda há medidas urgentes para lidar com a situação atual que não foram tomadas. “No que diz respeito a fontes alternativas de água, por exemplo, até o momento não foi disponibilizada pelos órgãos públicos uma lista de caminhões-pipa que têm licença para trabalhar, se for preciso utilizar o serviço de forma emergencial. Também não foi apresentado até agora um plano de contingência. A gente está em maio, já passou o verão e era pra ele ter sido feito no ano passado. O próprio comitê de crise foi formado com uma série de problemas de representação e só se reuniu uma vez.”

Marussia Whately diz ainda que são necessárias campanhas mais efetivas, “para instigar a solidariedade das pessoas”.

Em nota, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo diz que o plano de contingência unificado para todos os municípios da região metropolitana será apresentado na próxima reunião do comitê, a ser agendada para os próximos dias. "O consenso da reunião foi que este plano será preventivo, já que todos se comprometeram a trabalhar em conjunto para evitar medidas mais drásticas, como o rodízio - hipótese hoje distante graças às obras emergenciais em curso e às medidas adotadas para diminuir a dependência do Cantareira e estimular a redução do consumo, tudo isso aliado ao esforço da população."

Sobre as campanhas, a secretaria diz que "pesquisas feitas pelo Datafolha mostram que 99% da população do estado tem conhecimento da crise hídrica que atinge São Paulo (assim como outros estados do Sudeste e Nordeste)". "Isso é resultado de campanhas publicitárias promovidas pela Sabesp e pelo governo em veículos de comunicação de diversas mídias e com grande alcance, desde o início de 2014, para informar a população da gravidade da seca que atinge o estado e salientar a importância da redução do consumo."

A pasta informa ainda que a Sabesp distribuiu encartes informativos para os consumidores e disponibiliza informações relevantes em seu site, como os índices diários de todos os reservatórios. "Mais de 83% da população está economizando água, aderindo ao sistema de bônus instituído pela Sabesp para estimular a redução do consumo, dado que revela a união, o esforço e a 'solidariedade' dos paulistas."

Por Clara Velasco, Paulo Toledo Piza e Thiago Reis - G1, em São Paulo
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