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DATA DA PUBLICAÇÃO 29/04/2014 | Economia
Setor automotivo tem pior trimestre desde 2009
Setor automotivo tem pior trimestre desde 2009 Foto: Denis Maciel/DGABC
Foto: Denis Maciel/DGABC
Nos três primeiros meses do ano, a indústria de materiais de transportes, representada no Grande ABC pelo setor automobilístico, em sua maioria, demitiu 1.746 trabalhadores. Este é o pior resultado dos últimos cinco anos para o segmento. Para se ter ideia, no mesmo período do ano passado houve a contratação de 469 pessoas.

As informações sobre o saldo de vagas (dispensas menos contratações) são de levantamento do Diário com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), que considera apenas o emprego com registro em carteira.

As montadoras, empresas mais fortes da cadeia automotiva, foram as últimas a dar sinais de que o cenário do segmento não é dos melhores. E, não à toa, os funcionários começam a se preocupar com a situação. Por enquanto, volume menor de demissões ocorreu nessas companhias – a maior parte tem se dado na parte mais fraca do elo, as autopeças –, mas o medo nos corredores é claro, já que as empresas vêm anunciando medidas para se adequar ao mercado, que caminha para desaceleração.

Acordos coletivos entre sindicatos e montadoras ainda garantem a maior parte dos empregos. Mas, no caso das firmas que fornecem à cadeia, a situação não é a mesma, e a tendência é de piora. Os cortes começaram em janeiro, como última solução dos empresários para reduzir custos.

Em 2009, a indústria de transportes da região havia dispensado 4.017 profissionais nos primeiros três meses do ano. Mas, na época, toda a economia do País estava em alerta. Poucos meses antes, o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou e desencadeou a crise financeira mundial que, mesmo já controlada, deixou o mundo com vários machucados econômicos. Naquela época, os empresários estavam cheios de incertezas, tendo em vista que não sabiam como as economias brasileira e internacional reagiriam. Tanto que o Grande ABC perdeu, no total, 12.170 postos de trabalho no primeiro trimestre. Esse é quase o saldo de vagas perdidas somente na indústria no mesmo período em 2009: 11.051.

Para o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, a situação deste ano é complicada. “Para esse cenário do setor automotivo não vejo uma catástrofe, mas estamos em situação que deixou de ser confortável.”

Balistiero calcula que, para cada empregado das montadoras na região, quatro profissionais atuam nas demais empresas da cadeia automotiva. Na teoria, o mesmo ocorreria com demissões nas fabricantes, ou seja, cada dispensa provocaria mais quatro cortes.

Na avaliação do especialista, o caminho mais provável é de que as fornecedoras das montadoras serão as mais atingidas. E, desta maneira, o emprego é ferramenta para reduzir custos. O aumento das demissões, caso os empresários ainda tenham recursos, serão inevitáveis com a possível redução de demanda, ainda mais nesse cenário em que os importados da China têm sufocado a produção nacional de peças e componentes.

Para o coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, o professor de Economia Sandro Maskio, reduções nas produções das montadoras e escoamentos de estoques tendem a travar os pedidos para a cadeia instalada no Grande ABC. O que indicaria mais cortes. “Neste caso, o impacto seria muito rápido, e se daria em cerca de um ou dois meses.”

O empresário e diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, Emanuel José Viveiros Teixeira, lembrou que os cortes são inevitáveis, caso as montadoras continuem diminuindo as encomendas para os empresários do Grande ABC. “Nessa situação nos perguntamos como vamos pagar as contas. Hoje, se mandarmos o trabalhador para casa não temos nem como pagá-lo.”

Incertezas na economia estimulam cortes

As incertezas dos empresários são baseadas em vários fatores econômicos que o País tem apresentado nos últimos meses. Entre eles, o aumento dos juros, a pressão inflacionária, a alta tributação e a falta de crença na política nacional, avalia o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, Emanuel José Viveiros Teixeira.

Ele acrescenta, ainda, que a situação do empresariado é de risco. “A maior parte das indústrias está inadimplente. Por isso, 90% estão operando com factoring (cessão de crédito mediante aquisição de faturamento representada por duplicatas, notas promissórias e cheques pré-datados). Os juros vão de 3% a 5% ao mês”, conta Teixeira.

Apenas como comparação, conforme dados da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), empréstimos bancários para capital de giro custam, em média, 1,77% ao mês.

“Só para entender um pouco a situação, o lucro que o empresário tem em suas vendas já fica com o operador do factoring (por causa dos altos juros)”, completa o diretor do Ciesp.

BARREIRAS - O coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, explica que o cenário econômico conta com fatores que estimulam a redução do consumo de carros e indicam que não há previsão de melhora para 2014 e 2015.

Isso porque, descreve o acadêmico, para combater a crise iniciada em 2008, o governo federal estimulou o consumo por meio do endividamento das famílias. Houve redução da taxa básica de juros, a Selic, para o menor patamar histórico, de 7,25%, e desoneração de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a indústria automobilística, que resultou em queda nos preços dos veículos zero-quilômetro.

Como houve muita aquisição de automóveis com crédito mais barato e facilitado, em parcelamentos que ainda não terminaram, os consumidores ainda seguem endividados e sem capacidade de comprar ou trocar seu veículo.

“Há, ainda, a desaceleração do aumento real da renda”, destaca Balistiero, citando o movimento como desestímulo a novas aquisições. Soma-se, ainda, a previsão do mercado financeiro de que a inflação será mais alta do que o esperado pelo governo federal (o teto da meta é de 6,5%), diminuindo o poder de compra dos brasileiros, além da tendência de manutenção, ou elevação, do patamar atual de crédito. A Selic, base para a precificação dos empréstimos e financiamentos, está em 11% ao ano. “A perspectiva de melhora do setor é pequena, porque não há indício de que a renda voltará a subir como antes e que os juros vão baixar”, completa Balistiero.

Férias e licenças são soluções a novo cenário

Entre as medidas anunciadas pelas montadoras para se adequar ao mercado atual está o lay-off (suspensão temporária de contrato de trabalho) de cerca de 900 empregados da Volkswagen a partir do dia 5.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, os integrantes da lista ficarão em casa por cinco meses, mas terão que participar de curso de qualificação profissional ainda não definido e receberão apenas salário líquido, com participação do governo federal no pagamento.

Em nota, a Volks declarou que o lay-off é ferramenta prevista em contratos com o sindicato “para adequar-se à demanda atual do mercado”.

Segundo a Fenabrave, houve redução de 1,68% no número de emplacamentos de veículos novos no País no primeiro trimestre, contra o mesmo período do ano anterior.

A General Motors, por exemplo, colocou os funcionários em férias coletivas do dia 14 até ontem. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano afirma que tem conversado com a montadora para segurar os postos de trabalho. No período, 50 operários perderam o emprego.

No caso da Mercedes-Benz, o problema é o segmento de caminhões. A companhia entende que há excedente de 2.000 funcionários na unidade de São Bernardo, por isso anunciou um PDV (Programa de Demissão Voluntária), que se encerra no dia 9. Também pretende reduzir um turno da produção de caminhões, mas não divulgou quantos dos 2.000 trabalhadores ficarão de licença em casa a partir do dia 5.

Já a Scania vai deixar de férias coletivas 3.200 funcionários, ou seja 80% do total, entre os dias 12 e 26.

Por Pedro Souza - Diário do Grande ABC
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