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DATA DA PUBLICAÇÃO 07/05/2008 | Cidade
Sem-teto consolidam invasão em Mauá
Três dias após vencer o prazo de um mês para a desocupação do terreno no Jardim Olinda, em Mauá, as famílias do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) dão indícios de que não pretendem deixar o assentamento. Organizados em dez grupos - cada um deles com cozinha, fogão, banheiro e coordenadores responsáveis pela alimentação, manutenção dos barracos, higiene e disciplina -, eles planejam melhorias para consolidar a ocupação do espaço, de propriedade particular.

Criatividade não falta para isso. Enquanto Maria Íris Cerqueira, uma das coordenadoras do acampamento, mostra um barraco com cama e espelho no teto improvisado de lona, do outro lado do terreno, Pedro Ferreira Lustosa, 45 anos, cava a 11ª fossa do assentamento. "Quero deixar tudo pronto ainda hoje (terça-feira)", diz o sem-teto de dentro do buraco de, aproximadamente, um metro e meio.

Logo ao lado, o casal Elaine Cardoso dos Anjos, 28, e Tito Oliveira Santana, 42, serram pedaços de madeira para reforçar o barraco, que já conta com grade na janela e dobradiça na porta de madeira. "Já virou disputa com o vizinho para ver quem deixa a casa mais ajeitada. É ele bater um prego lá para eu bater outro aqui", brinca Santana, enquanto coloca um relógio do time do coração, o Palmeiras, na lona da ‘varanda', onde costuma jogar baralho com colegas à noite.

Tudo, é claro, no mais absoluto silêncio. "De domingo a quinta, temos lei do silêncio a partir das 22h. Os responsáveis pela disciplina do movimento agem para que as pessoas que vão trabalhar no dia seguinte possam ter um sono tranqüilo", explica Maria.

A exceção ocorre aos sábados, quando grupos de fora se encarregam de promover saraus com apresentações de capoeira e de maculelê para entreter os assentados, com direito a fogueiras e trajes típicos.

Mas nem tudo é festa no Jardim Olinda. A falta de água potável, por exemplo, castiga os assentados desde o início da ocupação, em 28 de março. "A gente precisa ir longe, e a pé, para encher o balde", conta Maria, lembrando que boa parte das doações de água e alimentos provém da Paróquia de São João Batista.

No domingo, a coordenadora do assentamento, Helena Silvestre, disse que havia encaminhado um ofício à Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) solicitando fornecimento de água e que o abastecimento deveria ser iniciado ainda nesta semana. A Sama, no entanto, informou que não havia recebido qualquer documento do gênero até o início da tarde de terça-feira.

O mau tempo também preocupa o movimento. "A chuva deixa tudo cheio de lama, mas o pior mesmo é o Lourenço (como o vento é chamado pelo assentados), que arranca as lonas", conta Maria.

Apesar dos percalços, a infra-estrutura melhora a cada dia. Quando o MTST deu início à ocupação, em 28 de março, o movimento era formado por cerca de 150 famílias. Hoje, o número passa de 800, configurando a maior invasão do Estado em relação aos assentamentos de Embu e de Campinas, iniciados no mesmo período.

Vizinhos temem que imóveis do bairro sejam desvalorizados

Para a vizinhança, o acampamento é visto com preocupação. "Formamos uma comissão de moradores e o Leonel (Damo) disse que eles vão sair. A gente trabalha duro para ter uma casa com escritura e aí eles vêm, invadem do lado, e desvalorizam o nosso imóvel. Uma casa avaliada em R$ 70 mil passa a valer R$ 30 mil. Para mim, isso é roubo. É uma jogada política", reclama a moradora de uma casa na rua em frente, que preferiu não se identificar.

Outra vizinha diz temer pela segurança do bairro. " Quando eles invadiram, lançaram o boato de que algumas casas estavam sendo marcadas para serem assaltadas depois."

Prefeitura - Enquanto os sem-teto comemoram a permanência no terreno, Prefeitura, CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e CEF (Caixa Econômica Federal) discutem o destino das famílias.

No mês passado, o dono da área, José Waldir Costa Lemos Junior, teria cogitado a possibilidade de vender o espaço à administração do município. O Secretário da Habitação de Mauá, José Roberto Correa, no entanto, afirmou terça-feira que a Prefeitura não tem interesse em adquirir o terreno. "Por causa da topografia, vai custar caro construir casas ali. Seria melhor transferi-las para outro local. Além disso, mapas indicam que haveria uma nascente de água ali."

Segundo Correa, a Prefeitura não deverá interferir nas negociações entre os assentados e o proprietário do terreno enquanto o cadastro das famílias não for entregue corretamente. "Pedimos este cadastro no início da ocupação. Mas o que eles nos apresentaram estava incompleto, sem título de eleitor e renda familiar. A Caixa tem planos para até três salários mínimos. Já quem recebe menos de um salário vai para a CDHU. Por isso, precisamos ver quem é de Mauá e atendê-los separadamente, conforme a renda de cada família."

Por Heloísa Cestari - Diário do Grande ABC
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