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DATA DA PUBLICAÇÃO 28/02/2016 | Setecidades
Saúde pede socorro
Saúde pede socorro Foto: Celso Luiz/DGABC
Foto: Celso Luiz/DGABC
Sexta-feira, dia 26 de fevereiro. Para a catadora de materiais recicláveis Lilian Sousa, 36 anos, a data marca o fim de longa jornada. Após aguardar durante um ano e três meses por consulta, a moradora do Jardim Silvina, em São Bernardo, finalmente conseguiu levar sua filha Ingrid Nascimento Cesar, 15, para a primeira sessão de fisioterapia no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Santo André. Portadora da Síndrome de Sotos (caracterizada pelo crescimento físico excessivo durante os primeiros anos de vida), a jovem aguardava desde 2014 pelo encontro com especialista para solucionar fortes dores nos joelhos, ocasionadas justamente pela doença.

“Fiquei com medo de o problema agravar sem as sessões de fisioterapia, mas dependo da rede pública. Não tem outra forma de agir. É confiar em Deus”, relata.

O sofrimento de Lilian e de sua filha não é exceção na região. Embora o artigo 196 da Constituição Federal sinalize que “a Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos”, moradores do Grande ABC ainda enfrentam diariamente dificuldades para acessar serviços pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Nos últimos 20 anos, o número de leitos em geral, incluindo UTI (Unidade de de Terapia Intensiva) e especialidades, cresceu somente 36,42% no Grande ABC. Apesar de atender os parâmetros do Ministério da Saúde – que determina a existência de um a três leitos de UTI para cada 10 mil habitantes, ou seja, entre 260 e 780 unidades –, os 352 leitos para tratamento intensivo do SUS oferecidos para a população de 2,6 milhões de pessoas na região ainda não têm se mostrado suficiente para suprir a demanda diária. Dependente da rede pública de Saúde, o aposentado Maurilio Maia Filho, 55, sentiu na pele essa ausência de vagas.

Internado na segunda-feira no PS (Pronto-Socorro) Central de São Bernardo para diagnosticar o motivo de fortes dores na perna direita, o paciente foi obrigado a passar três dias na unidade de Saúde sentado em cadeira de rodas. “Disseram que não tinham leitos na ala onde estou internado, por isso precisava ficar na cadeira. Tentei ser transferido, mas estou esperando por um médico para fazer o exame de Doppler venoso, mas até agora nada. Infelizmente, pobre se ficar doente morre aqui no Brasil.”

O PS Central de São Bernardo, onde o aposentado precisou ser internado, é uma das várias unidades do Grande ABC que estão abandonadas pelos governantes. Superlotação, estruturas precárias, obras inacabadas somam-se à falta de materiais e profissionais. Os equipamentos que compõem o SUS na região apresentam, em sua maioria, falhas crônicas.

Para agravar a situação, municípios da região ainda precisam lidar com a falta de especialistas. Diagnosticada há dez anos com bronquite crônica, a dona de casa Valdomira Rosa, 63, enfrenta longa espera para passar em consulta. “Dessa vez demorou oito meses. Mesmo assim é muito tempo. Pagamos tanto imposto para faltar o básico. Sem contar que, mesmo eles tendo o serviço, precisamos nos ‘virar nos 30’ para chegar até ele. Eu mesmo preciso pegar três conduções da minha casa (na Vila São José) para chegar aqui em Diadema (no Hospital Estadual Serraria), pois eles não marcam próximo de casa a consulta”, desabafa.

Embora afirme que tenha todos os motivos para desistir do tratamento médico que faz para cuidar da pressão alta e diabetes, o aposentado Eufragio Alves Santos, 80, conta com o empenho dos governantes. “Não posso colocar minha saúde em risco. É preciso acreditar que eles irão cumprir com o que é direito de todos”, afirma.

Municípios têm falta de especialistas
Na avaliação do coordenador do GT (Grupo de Trabalho) de Saúde do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e secretário de Saúde de Santo André, Homero Nepomuceno Duarte, faltam médicos especialistas na região. “Infelizmente, isso tem interferido diretamente na longa espera de pacientes para passar em consulta. Essa ausência não é só problema nosso, mas sim em todo o País, por isso o governo federal tem investido nessa área”, relata.
Levantamento feito pelo próprio Homero, no segundo semestre do ano passado, apontava para insuficiência de profissionais em algumas áreas, tais como homeopatia (seis), geriatria (nove), reumatologia (20) e gastroenterologia (29). Para o biomédico especialista em Saúde Pública e professor da Universidade Metodista Victor Hugo Bigoli, o problema da falta de profissionais no Grande ABC é ainda mais agravante. “Além da alta demanda na procura por especialistas, a região tem má distribuição dos especialistas”, afirma.

O diagnóstico é constatado ao analisar a quantidade de profissionais em cardiologia na região. Enquanto São Bernardo possui 55 e Santo André 39, cidades como Diadema e Mauá só têm 16 e 8 médicos na área, respectivamente.

De acordo com Homero, além de a região precisar de médicos especialistas para entrar em zona de conforto, as prefeituras do Grande ABC necessitam se empenhar em construir mais 90 leitos de UTI no sistema público de Saúde. “Nosso principal problema está na urgência e emergência. Precisamos desafogar esse atendimento.DM

Má gestão agrava situação na área

Especialistas em Saúde são unânimes ao analisar a atual situação da Saúde pública no Grande ABC. Na visão deles, a falta de empenho de gestores agravou ainda mais os problemas que equipamentos públicos apresentam nos últimos anos.
Para o biomédico especialista em Saúde Pública e professor da Universidade Metodista Victor Hugo Bigoli, falta mais dedicação do poder público. “Não é apenas a ausência de recurso, os problemas de Saúde começam principalmente pela má gestão, acompanhados pela burocracia e a falta de compromisso. Somos região privilegiada na arrecadação de impostos, o que poderia ser revertido de forma efetiva na Saúde.”

O pensamento é compartilhado pelo professor do departamento de prática de saúde pública da FSP (Faculdade de Saúde Pública) da USP (Universidade de São Paulo) Oswaldo Yoshimi Tanaka. “Os municípios que compõem o Grande ABC têm, de longe, condições muito melhores que outras cidades do Estado para ter um sistema bom. Se municípios como Santo André e São Bernardo têm enfrentado dificuldades, com certeza é porque seus gestores não conseguiram administrar seus equipamentos. Essas cidades não poderiam estar com esse estado crítico.”

Segundo Tanaka, se as prefeituras não tomarem atitudes rápidas, a situação pode se agravar. “O País está em crise. Conseguir verba agora será muito difícil. É preciso que prefeitos saibam que as medidas para melhorar o sistema devem partir deles, caso contrário os moradores irão sofrer ainda mais.”

Por Daniel Macário - Diário do Grande ABC
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