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DATA DA PUBLICAÇÃO 16/11/2009 | Cidade
Rodoanel causa distúrbios psicológicos
Famílias em Mauá foram desapropriadas e afirmam que não têm assistência.

Famílias removidas de suas casas pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário SA) no Jardim Oratório, em Mauá, acusam a concessionária de não prestar assistência social e de saúde previstas. Afirmam que a medida desencadeou distúrbios psicológicos em várias pessoas, como depressão, ansiedade e pânico, além de doenças como o alcoolismo, problemas que não estão sendo acompanhados por profissionais especializados. A remoção de quase 2 mil famílias é necessária para a construção da extensão da avenida Jacu-Pêssego, obra complementar ao trecho Sul do Rodoanel. Quase 1,2 mil famílias já deixaram suas casas.

Os problemas foram desencadeados principalmente, de acordo com famílias ouvidas pelo ABCD MAIOR, pelo valor da indenização paga. Como a área era irregular e os moradores não tinham a escritura dos terrenos, o valor pago não foi suficiente para que comprassem um imóvel da mesma categoria. Gilberto da Costa, 49 anos, desempregado, deixou o Jardim Oratório, onde morou durante 27 anos, em junho. Recebeu R$ 37 mil de indenização e só conseguiu comprar uma casa no núcleo Cerqueira Leite.

Desde então, tem problemas para dormir e toma remédios para depressão. “A assistente social da Dersa me fez sentir como um refugiado na minha própria terra. Disse que tinha invadido um terreno e que era melhor aceitar a indenização. Caso contrário, ficaria sem nada. Disse também que morar em outra favela para mim não seria problema. Fui humilhado.” Costa contou que está tendo problemas para se socializar no novo núcleo porque ainda não foi ‘aceito’.

A psiquiatra Maria Della Mônica, da Faculdade de Medicina do ABC, explicou que grandes mudanças, como no caso das famílias do Jardim Oratório, podem desencadear doenças psíquicas em pessoas que já possuem pré-disposição. De acordo com a médica, caso a doença não seja tratada, o quadro pode se agravar. “Quando alguém fica sem perspectiva, tudo pode acontecer, pois a pessoa perde a estabilidade. Já atendi casos parecidos e o tratamento é longo.” Para Mônica, a Dersa teria de fornecer assistência médica, já que é causadora dos transtornos no bairro.

Fora da casa que construiu ao longo de 30 anos e com a indenização de R$ 44 mil, a viúva Raimunda Ferreira da Costa, 50 anos, foi morar com a filha no Interior de São Paulo, pois ainda não conseguiu comprar uma casa onde seja possível criar os outros três filhos “com tranquilidade”. Raimunda toma remédios para diversos problemas desde que se mudou e ainda não conseguiu transferir os filhos para outra escola.

A Dersa informou que é oferecido apenas atendimento de caráter social às famílias e que ninguém demonstrou interesse. A informação é contestada por ex-moradores do Oratório, que afirmam que nenhum tipo de acompanhamento foi oferecido. Além de Costa e Raimunda, a reportagem conversou com dez outras pessoas que afirmam estar com distúrbios psicológicos provocados pela remoção.

Lógica capitalista - De acordo com a coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Metodista, Lucieneida Dováo Praun, as famílias do Jardim Oratório, em Mauá, estão sendo vítimas do desenvolvimento urbano, que está unicamente a serviço do comércio e da produção. “Esses anéis viários beneficiam primeiramente as indústrias. É a lógica capitalista onde as pessoas são jogadas para a periferia e dão lugar ao que é chamado de progresso. Isso que está sendo feito não é interesse público, é interesse privado. Fala-se em compensação ambiental, mas compensação para quem?”

O professor Oswaldo Santos Junior, da Faculdade de Direito e Humanidades da Universidade Metodista, ficou impressionado com o fato de as famílias viverem há 30 anos no bairro e ainda não possuírem a documentação dos terrenos. “O Estatuto das Cidades prevê que em ocupações como essa de Mauá o poder público providencie a escritura das áreas. A primeira lei que não se cumpriu ali foi essa”, afirmou.

Tumulto - Cerca de 80 moradores removidos do Jardim Oratório, em Mauá, pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário SA), fizeram protesto na tarde desta quinta-feira (12/11) na Câmara do município. A Defensoria Pública da União havia marcado uma reunião com os moradores no local e desmarcou 30 minutos antes do horário combinado. O encontro foi agendado para que os ex-moradores apresentassem “provas” de que a Dersa pagou valores de indenização abaixo do que os imóveis valiam.

Revoltados com o ‘furo’ da Defensoria, as pessoas presentes protestaram na porta da Câmara. Parte deles dizia acreditar que o cancelamento da reunião havia sido uma manobra política para impedir que o assunto continue a ser discutido.

De acordo com informações da Defensoria Pública da União, a reunião foi desmarcada porque o defensor escalado foi promovido e que outro profissional será escalado para acompanhar o caso das famílias removidas do Jardim Oratório. Até o momento não há previsão de quando o encontro será realizado.

Por Carol Scorce - ABCD Maior
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