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DATA DA PUBLICAÇÃO 12/06/2017 | Cidade
Problema relacionado ao crack é considerado de risco alto em Mauá
Problema relacionado ao crack é considerado de risco alto em Mauá Foto: Celso Luiz/DGABC
Foto: Celso Luiz/DGABC
O problema do crack existe e é visível nas cidades do Grande ABC, que aparecem em mapeamento da Confederação Nacional dos Municípios. Mauá é a única cidade onde o tema é classificado como de nível alto de preocupação. São Bernardo, São Caetano e Diadema têm índice médio de alerta, enquanto em Ribeirão Pires a classificação é baixa. O ranking é atualizado mediante informações enviadas pelas prefeituras – Santo André e Rio Grande da Serra não forneceram dados. O índice de alerta é definido de acordo com os níveis de percepção de circulação da droga e dos problemas que ela causa nas áreas da Saúde, assistência social e Segurança.

A inexistência de mapeamento regional e a falta de ações integradas para o enfrentamento do problema são tidos como principais entraves. Conforme especialistas, os dados alertam para a necessidade de urgência da integração das políticas públicas e da ampliação da rede de atendimento ao usuário. “O Grande ABC tem profissionais altamente classificados, mas existe uma escassez de ofertas nos serviços de atenção. O modelo da região, com os consultórios de rua e os Caps, trabalhando a redução de danos, é altamente qualificado. O problema é que não temos oferta dos dispositivos de Saúde e de assistência social para dar apoio a essas pessoas”, explica o professor de Direito Penal e especialista em políticas públicas sobre drogas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maurides Ribeiro.

Hoje, o cenário em relação ao tema é desenhado basicamente com dados dos atendimentos realizados pela rede de Saúde. Santo André possui 215 usuários de crack acompanhados pelo Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e Ribeirão Pires, 39. Em São Bernardo, são 120 usuários atendidos atualmente, o que a administração estima representar 40% do total de dependentes. Em Mauá, são 1.564 pacientes ativos no Caps AD e em torno de 70 a 80 acolhimentos diários.

O assunto também é pouco discutido no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. A entidade afirmou que o tema não foi debatido recentemente pelo GT (Grupo de Trabalho) Saúde, mas foi pauta do GT Segurança por causa da preocupação com a migração de usuários da Cracolândia de São Paulo (leia mais ao lado).

“Primeiramente as administrações da região precisam utilizar os agentes de saúde para o cadastramento destas pessoas. É um trabalho de longo prazo, não se faz em um único dia. Além da Saúde, elas precisam de políticas de apoio, trabalho e renda”, afirma o professor de Sociologia da Universidade Metodista de São Paulo, Oswaldo de Oliveira Santo Junior.

A professora do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Solange Nappo, acrescenta que programas que pregam a abstinência e a internação compulsória, como o desempenhado na Capital, têm poucas chances de dar certo. “Em um dia o usuário de crack fuma 40 pedras. Como ele vai ficar sem fumar nenhuma no dia seguinte? A redução de danos é importante, mesmo que seja uma política que dê resultados a longo prazo, porque ele precisa se sentir atraído a sair de lá. Eu penso que programas como o De Braços Abertos (gestão Fernando Haddad PT), se aprimorados, têm grandes chances de mudar esse quadro. Mas, é um trabalho de formiguinha”, conclui.

A ação desenvolvida na Capital até o ano passado foi citada como exemplo de sucesso para a reinserção dos usuários de drogas na sociedade em relatório divulgado no início do ano pela OSF (Open Society Foundations).

Duas cidades veem aumento após ações na Cracolândia

As ações na chamada Cracolândia, na região da Luz, em São Paulo, como operações policiais e demolições de prédios vazios, começaram a ser desenvolvidas no final de maio pelo prefeito João Doria (PSDB), com o projeto da Nova Luz. Desde então, pelo menos Santo André e Mauá já afirmaram que sentiram aumento no número de usuários de drogas.

Em Mauá, a Prefeitura informou que observou crescimento de 10% na procura do serviço, em relação ao ano passado, principalmente na Praça 22 de Novembro e Praça da Bíblia, pontos apontados como concentração desta população.

Conforme o coordenador da atenção especializada e da Saúde Mental de Santo André, Danny Martyn Van de Groes, pessoas que eram de lá já foram atendidas nos serviços do município. Ainda não há uma estimativa em números deste impacto.

“Temos registro no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) de pessoas que vieram de lá. A gente é conhecido como uma cidade acolhedora, além de ter essa proximidade com o Centro de São Paulo por causa do trem”, disse.

Conforme dados da Prefeitura de São Paulo, desde o dia 21 foram realizadas 12.687 abordagens na região da Luz. Deste total, foram 7.049 encaminhamentos para acolhimento nos equipamentos da rede assistencial e 5.638 recusas de atendimento. Na última quinta-feira foram feitas 519 abordagens, com 323 acolhimentos e 196 recusas.

Recomeço é fruto de força de vontade
“Agora estou aprendendo que eu também posso viver no mesmo mundo que vocês. E estou gostando”. A frase é de J.B., 42 anos, moradora de Santo André que tenta pela segunda vez se livrar do vício em crack, maconha, cocaína, lança-perfume e bebida alcoólica,itens com os quais convive há mais de 20 anos. A decisão de abandonar a situação de rua e buscar tratamento no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) Santo André. foi tomada sozinha, há cinco meses, após se dar conta da situação em que estava.

A vida que J. teve em São Paulo foi bem diferente da planejada quando deixou a cidade de Serra Branca, na Paraíba. “Nunca mais vi os meus pais e penso que vai ser difícil ter contato com minha família”. Por ser maltratada pela prima, que já morava aqui e que ela trabalhava de babá, J. decidiu sair de casa. “Já fiquei no Cambuci, República e depois vim para Santo André, há uns 15 anos. Ficava perto do viaduto (Tamaturaca) e montava um barraco lá. Comecei a usar farinha (cocaína) e depois fui experimentando as outras. Usava até ficar sem dormir.”

Entre o tempo que ficava na rua, J. recolhia papelão e vivia de doações. Todo o dinheiro que conseguia usava para comprar drogas. “Tinha muito medo. Uma vez até tentaram me matar. Meu barraco começou a pegar fogo.”

Não é a primeira vez que ela tenta pedir ajuda. Há cinco anos, chegou a começar o tratamento, porém voltou para as ruas. Mesmo assim, J. continuava sendo acompanhada pelo consultório de rua. “Eu não conseguia mais comer de tanto que eu tremia. Foi quando decidi fazer o tratamento.”

Agora, ela tenta retomar a vida. Vive na república terapêutica, unidade de apoio que possibilita moradia até seis meses, e se prepara para trabalhar e alugar uma casa. Hoje, ela descobriu que gosta de fazer bijuterias e comemorou pela primeiro vez o aniversário no último mês. “Nunca tive uma festa surpresa com bolo e o pessoal fez para mim. Fiquei emocionada. Quero arranjar meu cantinho e estou arrumando meus dentes. Pensava que era chato, mas estou me sentindo muito bem.”

Por Yara Ferraz - Diário do Grande ABC
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