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DATA DA PUBLICAÇÃO 14/04/2009 | Saúde e Ciência
Primeira paciente de Chagas viveu 72 anos com micróbio da doença
A primeira paciente da história diagnosticada com mal de Chagas, examinada e tratada pelo próprio descobridor da doença, não morreu por causa dessa enfermidade tropical, mas em razão de uma isquemia cerebral, 72 anos depois.

Berenice Soares de Moura entrou para a história da medicina e do Brasil no dia 14 de abril de 1909, aos dois anos de idade. Naquela data, o médico Carlos Chagas concluiu um trabalho feito a partir de exames com o sangue da menina, em Lassance, no sertão mineiro. No dia seguinte, o cientista já escrevera anotações descrevendo todo o ciclo da doença causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi.

Um artigo científico sobre a descoberta foi publicado em 22 de abril de 1909 e deixou o brasileiro perto de ser o primeiro a receber o Nobel.

Chagas foi indicado ao prêmio por identificar a doença que leva seu sobrenome, mas não chegou a receber a honraria.

A saúde de Berenice, porém, já valera como um prêmio.

"Minha avó viveu toda a vida, até os 74 anos, com a doença. E nunca teve as consequências graves do Chagas", diz a física Jacira Moura Costa, neta de Berenice, hoje professora de ensino médio em Pirapora, às margens do São Francisco, a 75 km de Lassance.

Na casa da nora de Berenice, onde Jacira recebeu a reportagem da Folha, fotos da personagem ilustre são exibidas ao lado de uma medalha religiosa, presente dado pelo próprio Chagas à paciente histórica.

Berenice gostava de contar aos familiares a história dela e do médico. Não sabia ler, mas adorava cozinhar. Preparava arroz socado no pilão e fazia queijos.

"Foi por meio dela mesmo que passei a conhecer essa história. Ela adorava quando os netos, nas férias, ficavam na fazenda", diz Jacira. "Meu pai, sim [Antônio José de Moura], morreu por causa do mal de Chagas, que ele provavelmente pegou quando ainda vivia em zona rural", diz Costa.

A maneira com que a doença evolui ainda não é bem explicada pela ciência, a exemplo da história da família. Ninguém sabe por que os sintomas aumentaram em Antônio, mas não em sua mãe, Berenice.

"Meu pai fez questão de se mudar para a cidade para que todos os filhos pudessem estudar", diz Costa. E Berenice conheceu três dos nove bisnetos.

Médico no trem

Apesar de ter morrido na cidade de Pirapora, Berenice sempre viveu na fazenda, na zona rural, conta a neta. Na infância, em casa de pau-a-pique, é que teve os sintomas da doença desconhecida.

"Os pais dela ficaram sabendo que havia um médico em um vagão em Lassance que estava atendendo as pessoas. Eles resolveram levar minha avó até lá."

Carlos Chagas, que encontrou a pequena paciente ainda na fase aguda da doença, conseguiu reverter o quadro, usando raízes e folhas, diz Costa. Passado o problema, o médico quis adotar a menina, mas a família não concordou.

Mais tarde, ela ganhou "consciência da importância da descoberta", diz a neta. "Em vida, ela recebeu muitas visitas de médicos e viajou também para eventos em Belo Horizonte e Rio de Janeiro."

Hoje, na região, a doença descoberta por Chagas não está mais entre os principais problemas de saúde pública, conta Jacira. "No ano passado o grande problema foi a dengue", diz. "Um dos meus filhos pegou."

Dos 6.200 habitantes de Lassance, 3.509 tiveram dengue em 2008. Neste ano, porém, o prefeito recém-empossado Idson Brito (PSDB), um cardiologista, diz ter conseguido controlar a doença. A cidade não teve dengue em 2009, afirma.

Por Eduardo Geraque - Enviado especial da Folha de S.Paulo a Lassance (MG)
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