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DATA DA PUBLICAÇÃO 20/10/2008 | Cidade
População do Grande ABC é 20% nordestina
Os números comprovam as características observadas dia-a-dia no Grande ABC. Os nordestinos representam 20% da população, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). São cerca de 500 mil pessoas cuja origem está no Nordeste. Os maiores índices, proporcionais, estão em Diadema e Mauá, onde a comunidade está concentrada na periferia e há casas típicas que remetem o migrante à terra natal. A distância é amenizada em receitas especiais, que levam, principalmente, farinha e carne seca.

O movimento de migração teve, como pano de fundo, a busca por trabalho e melhores condições de vida. Os famosos caminhões do tipo ‘pau-de-arara' traziam operários para atuar, principalmente, nas linhas de montagem da Volkswagen e Mercedes-Benz. "A chegada da indústria automobilística, nos anos de 1950 e 1960, causou a procura pela região. O início do processo migratório, porém, aconteceu antes, quando imigrantes europeus e asiáticos se estabeleceram no interior do Estado. Depois, migraram para o Grande ABC", conta o memorialista Ademir Médici.

Um percentual significativo de estrangeiros ainda firmou endereço fixo em São Caetano. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que 2,5% da população da cidade é de fora do País - índice maior do que o observado para as regiões Norte e Sul. A fábrica da GM explica parte do deslocamento. Muitos executivos vieram orientar a produção de carros.

O processo de urbanização e industrialização que o Grande ABC experimenta a partir de 1950 é o grande atrativo. Professora de Sociologia na Universidade Metodista de São Paulo, Luci Praun explica como se dividiram os migrantes na região. "Uma parte desses trabalhadores vai para as fábricas. Outra parcela importante vai trabalhar como operário na construção civil."

Mas independentemente da oportunidade, a saudade é comum a toda população nordestina. Com orgulho da terra de origem, os migrantes buscam aproximação em pequenos detalhes. "A rapadura é o gosto do Nordeste. Todo mundo vem buscar para lembrar de casa. Tem gente que passa aqui todos os dias", diz o funcionário de uma casa típica de São Bernardo, Ivonaldo Alves.

É o caso da professora Giselda Cajueiro da Silva, 52 anos. "Compro queijo do tipo requeijão. Quando como, logo penso na minha infância."

"Vim pelo sonho de viver em São Paulo"
Há 26 anos, Manoel Moreira Júnior fez a mesma viagem de muitos conterrâneos e deixou o sertão do Ceará em busca de uma oportunidade no Sudeste. Distante da ‘cidade grande' cerca de 3.100 quilômetros, a natal Acopiara, onde morava na fazenda com os pais e dois irmãos, ia ficando para trás na poeira da estrada que o conduzia para o sonho de trabalhar e viver em São Paulo.

"Não tinha opção de emprego no Ceará", justificou. Como não poderia deixar de ser, a nova vida foi difícil. "Nos primeiros meses eu só pensava em voltar. Vim com uma mão na frente e outra atrás. A viagem foi dolorida, gostava muito da roça, dos amigos e de uma namorada que eu tinha", contou com sorriso nos lábios.

Tão logo desceu no bairro Piraporinha, em Diadema, onde morava uma tia, ele fez questão de se ocupar. "Trabalhei em subempregos quando cheguei. Fui frentista de posto de gasolina, garçom de churrascaria por muito tempo e, por fim, comerciante", afirmou.

Hoje, com 47 anos, Manoel Moreira Júnior, que já viveu em Santo André, São Bernardo e voltou para Diadema, ainda mora em uma casa simples, mas tem o conforto de poder se dedicar à tarefa que mais gosta e tem talento: a poesia.

Emprestando o nome de sua cidade, ele já assinou mais de 100 cordéis e sete livros sob o pseudônimo de Moreira de Acopiara. Seus primeiros versos foram publicados quando tinha 32 anos e ainda era garçom. Um de seus trabalhos foi recentemente adotado pelo Ministério da Educação.

O cordelista sonha com a viagem de volta. Enquanto ela não vem, mas já exercitando o retorno, ele se lembra de quando pegou gosto pela poesia. "Ainda menino me interessei pelo cordel. Na minha casa não tinha energia elétrica, logo, não tinha televisão, a única diversão era um rádio de pilha e ouvir o cordel, que mamãe lia para mim", contou.

Diadema - Mais nordestino dos municípios do Grande ABC, Diadema inaugurou em dezembro do ano passado, em uma das entradas da cidade, próximo à Prefeitura, o Monumento em Homenagem aos Migrantes.

Forjada em concreto e alvenaria, paradoxalmente, a obra foi construída por um peruano, e reproduz a imagem de uma família, com pai, mãe e filho, que se unem para construir uma moradia.

Ainda em 2007, foi inaugurado o MAP (Museu de Arte Popular de Diadema). Segundo o secretário interino de Cultura, Sérgio Lara, 70% das 389 obras de arte adquiridas pelo museu "falam do sertanejo e das cidades do interior".

De origem indígena e muito apreciada no Nordeste, a popular tapioca também recebeu atenção, com a criação, em 2005, do Projeto Tapioca, para ajudar os comerciantes da iguaria de mandioca.

Na lista estadual, Minas Gerais é líder
Excluindo o Estado de São Paulo, Minas Gerais é o local de origem da maioria dos migrantes do Grande ABC. São cerca de 146 mil pessoas ou 6.4% do total da população do Grande ABC. Em segundo lugar está a Bahia, com 144 mil moradores na região, seguido de Pernambuco, com 121 mil habitantes nos sete municípios.

As prefeituras afirmam não ter programas específicos para o trato com os migrantes de quaisquer estados do Brasil, com exceção de Diadema (leia reportagem acima). Nos bairros mais afastados, os moradores, porém, sabem diferenciar os costumes típicos. Na Vila São Pedro, em São Bernardo, a predominância é de pernambucanos e baianos. Em Diadema, há 150 pontos de comércio característicos em, pelo menos, 11 bairros.

Na Vila Assis, em Mauá, a miscigenação é dominada por mineiros. "Se quiser uma casa do Norte por lá, morro de fome", afirma o comerciante Sebastião Fernandes da Silveira. Dono de uma casa típica com produtos mineiros e nordestinos, Silveira afirma que vende bem de farinha a bolacha. As mercadorias são ‘importadas' dos estados produtores. Entre os nordestinos, as receitas mais tradicionais são o baião de dois e a costumeira feijoada, feita com feijão de corda, carne seca, lingüiça salgada, pé e orelha de porco. Para acompanhar, farinha de mandioca e cachaça da terra.

"Chego a vender 60 quilos de farinha por dia. Aqui no Jardim Zaíra (Mauá), os nordestinos são maioria, devem ser uns 80% do total. A concorrência é grande, a gente precisa negociar bem, para vender por um bom preço."

Sonho - Independentemente dos gostos pessoais, da história de vida pregressa e do que aconteceu com os migrantes que desembarcaram no Grande ABC, a maioria desta população chegou em busca do mesmo sonho. "A idéia de fazer a vida. Deixar uma condição de muita miséria no lugar de origem e ir para outro lugar, conseguir emprego e cuidar da família", explica a professora sociologia na Universidade Metodista de São Paulo, Luci Praun.

Por Adriana Ferraz e André Vieira - Diário do Grande ABC
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