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DATA DA PUBLICAÇÃO 05/12/2011 | Cidade
Poluentes do Polo de Capuava podem ser causa de doença
Poluentes do Polo de Capuava podem ser causa de doença  Chaminés das empresas do polo liberam substâncias tóxicas para a atmosfera. Foto: Andris Bovo
Chaminés das empresas do polo liberam substâncias tóxicas para a atmosfera. Foto: Andris Bovo
0 horizonte é cinza, coberto pela fuligem da queima de gases dos flares (chaminés). O cheiro incomoda, o pó preto toma conta das casas e pessoas adoecem. A suspeita de Maria Ângela Zaccarelli Marino, pesquisadora e professora de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC, é que o uso dos solventes clorados, como o tricloroetileno, durante o processo de queima das petroquímicas seja um dos responsáveis pelo alto índice de moradores doentes na região do Polo de Capuava, nas divisas entre Santo André, Mauá e São Paulo.

A substância tóxica estudada é um hidrocarboneto clorado que, em processos térmicos, pode liberar substâncias químicas chamadas dioxinas e furanos, dois dos POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) mais perigosos do mundo.

“Cientificamente, ainda não sabemos qual é o POP ou os demais agentes que saem das chaminés, mas desconfiamos que o gatilho se dá no uso dos solventes”, comentou. Durante 20 anos de pesquisas, a médica pôde comprovar o aumento de doenças autoimunes, como tireoidite, diabete tipo 1 e artrite reumatóide em moradores de bairros vizinhos ao polo (leia texto abaixo).

De acordo com o CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica), de São Paulo, a quantidade de pessoas com estas doenças nos Jardim Sônia Maria e Jardim Silvia Maria, em Mauá; Parque Capuava, em Santo André; e Parque São Rafael, na Capital, chegaram a 46%, enquanto que em outros bairros, longe das petroquímicas, atingiram 2,9%.

O coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Paulo Saldivia, que trabalha com a médica Maria Ângela para descobrir os agentes poluidores na região alerta para os perigos dos poluentes. “Refinarias, queima de combustível fóssil, indústrias petroquímicas e plásticas estão entre as fontes de POPs.”

A teoria da PhD em Toxicologia e Saúde Ambiental da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, Ana Maria Cheble Bahia Braga, reforça as desconfianças da pesquisadora do ABCD do envolvimento dos solventes clorados.

A especialista explicou que nestes casos os poluentes não são necessariamente formados nas petroquímicas, mas são compactados e liberados pelo uso.

“A maioria das fontes vem, por exemplo, de incineração de resíduos.”

O outro lado - Em nota, a Apolo que representa quatro empresas do Polo (Braskem, Cabot, Oxicap e Oxiteno) rebateu as análises da professora da Faculdade de Medicina do ABC e disse que nenhum estudo mostrou-se conclusivo sobre a prevalência das doenças ou à vinculação das empresas com a poluição local.As empresas justificam ainda que trabalham dentro dos mais altos padrões internacionais de segurança e preservação ambiental.

Vizinhos às indústrias dizem ter perdido a saúde

Pelas ruas do Jardim Sônia Maria, em Mauá, é comum encontrar moradores com doenças autoimunes, por conta da poluição que sai chaminés das petroquímicas. Entre as enfermidades mais comuns está a tireoidite de Hashimoto, uma disfunção na glândula da tireoide, localizada no pescoço.

“Nesta doença, o organismo fabrica anticorpos que destroem a glândula da tireoide”, explicou Maria Ângela Zaccarelli Marino, pesquisadora e professora de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC. Mesmo com medicação diária, a doença traz diversos sintomas para o resto da vida como cansaço, depressão, alteração de peso, queda de cabelos e diminuição da frequência cardíaca.

Silenciosa, a doença na dona de casa Sandra Adriana da Silva, 42 anos, só foi descoberta há dez anos, devido ao excessivo aumento de peso. Ao fazer os exames, a tireoidite se mostrou avançada. “O médico disse que minha tireoide estava morta”, lembrou. Com o passar do tempo, o cansaço, a depressão e o desânimo também abateram a moradora de Mauá. “Não tenho disposição para nada. Os olhos veem, o coração sente, mas o corpo não reage”, desabafou.

“E não é apenas a tireoidite crônica, o fato é que várias doenças autoimunes estão ligadas à poluição que sai do polo”, destacou Maria Ângela. Entre as doenças estão também a menopausa precoce, vitiligo (mudança da pigmentação da pele), diabete tipo 1 e artrite reumatóide (que causa a deformação das articulações). “São todas doenças incapacitantes e progressivas”, alertou a médica.

A aposentada Verônica da Silva Carlone, 60 anos, acha que morar no Jardim Sônia Maria desde criança foi crucial para o desenvolvimento de doenças como tireoidite e diabetes. “Não há ninguém na minha família que tenha diabetes.”

Por Claudia Mayara - ABCD Maior
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