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DATA DA PUBLICAÇÃO 30/07/2012 | Geral
Playcenter fecha com público e funcionários já saudosos
Playcenter fecha com público e funcionários já saudosos  O Playcenter fechou as portas depois de 39 anos . Foto: Adriano Vizoni/Folhapress
O Playcenter fechou as portas depois de 39 anos . Foto: Adriano Vizoni/Folhapress
A faxineira chorou quando viu o príncipe vermelho abraçado à princesa amarela. Nunca mais. Mas Efigênia dos Santos, 17 anos trabalhando no Playcenter, fez questão de se recompor: "Temos de trabalhar sorrindo", disse.

E deu uma de suas últimas vassouradas, sem saber bem para quê, no parque inaugurado em 27 de julho de 1973, a partir de hoje só existente em lembranças.

A Rainha de Copas encarnada pelo ator Diogo Aulis, 28, parou por alguns minutos de estrangular criancinhas e de fazer caretas malcriadas.

Voz embargada como não convinha ao personagem, disse que ontem foi o dia mais difícil desde que os trabalhadores ficaram sabendo do fechamento do parque, em abril: "A gente estava no processo de negação, achando que, talvez, na última hora, alguma coisa salvasse o Playcenter. Só hoje compreendemos que é mesmo o fim".

Luiz Gustavo da Silva, 29, caracterizado como a apavorante madrasta da Bela Adormecida, sacudia os chifres, inconformado com o fechamento do parque que frequenta desde a adolescência. "Saía do Guarujá com amigos. Aqui era o sonho."

Uma turma de funcionários contratados e terceirizados se reuniu às 11h na entrada, junto a cerca de mil visitantes, que se acotovelavam para ser os primeiros a entrar. Todos prometiam permanecer até o fim.

Engolido

"A cidade engoliu o Playcenter", lamentou o comerciante Ricardo Franciuli, 33. Ele lembrou que nem gostava tanto assim do palhaço Bozo, que tinha um programa infantil no SBT dos anos 80. "Mas eu era tão apaixonado pelo Playcenter que fiz de tudo para participar de uma gincana do Bozo. Só para ganhar um 'Passaporte da Alegria', ingresso para todos os brinquedos."

"Que criança, passando pela marginal Tietê, não ficava com os olhos fixados no brilho dos brinquedos, no logotipo do parque?", perguntou Darik Paes, 21, coordenador comercial que andava pelas atrações com um cigarro aceso entre os dedos.

No Playcenter, morto sem se render ao politicamente correto, até ontem ainda se podia fumar livremente nas partes abertas. E tomar cerveja. "Não é que nem 'aquele' Reino da Fantasia da Disney", desdenhou Paes, dando outra tragada.

Fiat 147

O parque estava velhinho mesmo. Uma trombada cenográfica mostrava um 147, carrinho popular da Fiat dos anos 80. Várias atrações pareciam mais coisa de quermesse de cidadezinha do interior. Tinha até pescaria e jogo de argolas com garrafas de refrigerante.

Mas ai de quem, ontem, criticasse o local. A direção do parque distribuiu e todos fizeram questão de ostentar um broche com os dizeres fúnebres "Playcenter 29.07.12. Curti até o último dia!"

"Velhinho ou não, é o parque de diversões da cidade", protestou Luana Domingues, 13, estudante que jurava já ter visitado o Playcenter 85 vezes.

A Folha encontrou-a em companhia do irmão Lucas Vaz Lima, 14 (40 visitas declaradas ao parque), no acesso à montanha-russa Looping Star. Estavam em meio a 300 metros de gente enfileirada, já saudosa do brinquedo radical. "Eu não gosto do Hopi Hari. É longe e os funcionários não são tão gente fina como os daqui", disse Luana.

Careta demais

A direção do parque informou que pretende reinaugurar o local no primeiro semestre de 2013.

Mas será de outro jeito. Em vez de atrações radicais, como o elevador em queda livre Turbo Drop, de julho de 1997 e ainda em atividade, ou as montanhas-russas, a ideia é "oferecer à família serviços e atrações que possibilitem uma interação plena entre pais e filhos".

"Isso é o cúmulo do fim da picada. É um absurdo. O Playcenter era o primeiro território que se conquistava quando o cara ou a mina começava a sair com a sua turma, sem a família", discursou o contato publicitário Evandro de Moraes Hess, 36.

Habitué do Playcenter desde os 13 anos, ele deu o primeiro beijo no parque. Ontem, para se despedir, levou, pela primeira vez, a mãe, para ela ver como era. "O mundo ficou careta demais", reclamou.

Por Laura Capriglione, de São Paulo - Folha Online
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