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DATA DA PUBLICAÇÃO 30/06/2014 | Turismo
Pelos caminhos do Sal
A temperatura de 12ºC era o menor dos obstáculos. A chuva fina e a bruma espessa é que davam mais trabalho porque tornavam o piso mais escorregadio, lamacento e desconfortável – além de quase invisível. Mesmo assim, cerca de uma centena de ciclistas sorria feliz por participar, no sábado, do passeio inaugural do Caminho do Sal, que recupera o percurso desenvolvido pelos portugueses no século 17 para levar sal de São Vicente até o planalto paulista.

Como o condimento era um bem extremamente valioso, fundamental para a conservação dos alimentos, e não podia ser produzido no Brasil, tinha de vir de Portugal. Por causa desta importância, criou-se uma rota que ligava o fim do caminho criado pela Serra do Mar pelo padre José de Anchieta (hoje pertencente ao município de São Bernardo) com a vila de Santana de Mogi das Cruzes.

No século seguinte, com a descoberta de pedras preciosas na região de Cuiabá (atual Mato Grosso), o Caminho do Sal passou a ser usado pelos que queriam evitar a cobrança de impostos pela coroa portuguesa. Assim, para coibir a ação dos contrabandistas, em 13 de maio de 1722, o rei de Portugal mandou vedar parte do trajeto, mais precisamente o trecho conhecido como Zanzalá. Aliás, o nome significa ‘flor de Deus’ por fazer alusão à planta aleluia, que cresce na Serra do Mar.

A parte chamada de Zanzalá começa no Km 39,5 da Rodovia Caminho do Mar e segue por 15,5 quilômetros pela Estrada Mogi das Cruzes, atravessando represa, área de montanha e um belo mirante de onde se pode ver o mar. De bicicleta, esse trecho leva cerca de duas horas para ser percorrido e é considerado de dificuldade média a quem já é praticante de cicloturismo. Para os que preferirem cumprir o percurso a pé, é bom reservar pelo menos cinco horas para a caminhada.

Quando a trilha se encontra com a SP-122, começa o trecho dos Carvoeiros, com dez quilômetros que a pé consomem cerca de três horas e metade deste tempo para quem prefere as magrelas. O trecho foi classificado como de menor dificuldade.

O trajeto mais pesado da trilha é o que parte da Vila de Paranapiacaba e segue em direção a Taiaçupeba. Chamado de trecho Bento Ponteiro, em homenagem a um dos primeiros moradores da região do Alto da Serra que na juventude construía pontes, esse pedaço do Caminho do Sal é o que apresenta maior dificuldade tanto em virtude da distância, de 27,5 quilômetros, quanto da topografia do terreno. Para quem quiser fazer a pé, é bom reservar pelo menos oito horas para a caminhada. Já pilotos e ciclistas gastam metade do tempo para cumprir este trajeto.

“O interessante do Caminho do Sal é que ele unifica a história dos municípios da região”, observa Eduardo Pin, morador da Vila de Paranapiacaba e um dos responsáveis pela pesquisa histórica que precedeu a reconstituição da rota criada pelos portugueses e bandeirantes. “O caminho resgata João Ramalho, fundador de Santo André, Brás Cubas e outros desbravadores que se estabeleceram por aqui, trazendo para os dias de hoje a ligação histórica e a identidade dos municípios desta região da Serra do Mar”, destaca Pin.

De fato, o passado em comum fez com que Santo André, São Bernardo e Mogi das Cruzes buscassem uma parceria que tem tudo para gerar frutos. “O fomento dos aspectos turísticos traz negócios para os municípios ligados pelo caminho e nos posiciona como uma alternativa interessante, com a vantagem de ser bem pertinho das grandes cidades”, afirma o secretário de Gestão de Paranapiacaba, Ricardo Di Giorgio, lembrando que grupos podem solicitar o acompanhamento de um monitor, a ser designado pela Subprefeitura de Paranapiacaba.

“O Caminho da Fé, que sai de Tambaú, no interior paulista, atravessa o Sul de Minas Gerais e termina em Aparecida, foi uma inspiração importante para investirmos na ideia de incentivar as pessoas a conhecer o Caminho do Sal. Acreditamos que a combinação de história com ecoturismo é poderosa”, diz o secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo, João Ricardo Guimarães Caetano.

E é mesmo. Molhada de chuva, suja de lama e com a pele e os olhos brilhando de alegria, a ciclista Maíra Pinheiro Albanese, 28 anos, comemorava o fim da primeira etapa do passeio de inauguração da rota realizado no sábado. Depois de percorrer os 15,5 quilômetros do Zanzalá e os dez quilômetros do trecho dos Carvoeiros sob condições climáticas difíceis, a moça era toda motivação. “A ligação do caminho com a história da região é bem legal. Dá a sensação de que a gente faz parte de uma coisa maior”, diz a tecnóloga de processos gerenciais, que mora em São Bernardo. “O passeio é lindo. Desafiador, mas vale a pena. Ainda mais porque a minha bicicleta acabou de voltar da revisão e está tinindo”, celebra.

“Bicicleta é como livro. Só é bom quando se usa”, completa o professor universitário Volney Correa, 44, também de São Bernardo. “E o bom deste caminho é que existem placas de orientação, o que traz um sentimento de segurança para quem é novo na região”, diz o ciclista, que só sentiu falta de sinalizações do tipo ‘Você está aqui’ com detalhes sobre quanto já foi percorrido e quanto falta pedalar. “Mas o bom de passeios organizados como este é que sempre tem alguém por perto. Isso é ótimo porque na região o celular não pega”, completa.

Viciados em superar desafios com suas magrelas, os amigos Amarildo Bordoni, 41, de Santo André, e Ricardo Minassian, de São Paulo, também não escondiam a satisfação pela abertura do Caminho do Sal. “Hoje tivemos apoio e sinalização, mas espero que nos dias comuns, que não sejam de inauguração, as cidades providenciem uma ronda ostensiva no trajeto, porque os equipamentos que a gente tem na bike são caros”, diz Bordoni, que confessa ser fã das belezas e da história de Paranapiacaba. “O caminho mostra um outro lado disso aqui”, diz. “Claro que tem o frio, a dor e as ladeiras, mas, no final, é um grande prazer”, avalia o especialista em manutenção de equipamentos para cozinhas profissionais. “O aspecto cultural do projeto me chamou atenção. É muito legal pedalar em locais que, além de bonitos, significam alguma coisa. Até senti falta de saber mais”, diz Minassian. O engenheiro civil paulistano, experiente em eventos esportivos, elogiou a infraestrutura do ponto de partida da trilha e também da parada na vila inglesa. “O que me preocupa foi a presença de motos na trilha, que é voltada para ciclistas e pedestres. Outra preocupação foi que não vi infraestrutura de socorro fixa, só a que nos acompanhava pelo caminho. Isso em dias normais, sem passeios organizados, fica ainda mais importante, porque a trilha não é para novatos”, pondera Minassian, cliclista experiente que completou o circuito de ida e volta entre a saída da rota Zanzalá e o fim da Carvoeiros, na parte baixa de Paranapiacaba, em sete horas – sem dar a mínima para o frio, a chuva e a neblina.

Por Andréa Ciaffone - Diário do Grande ABC
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