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DATA DA PUBLICAÇÃO 18/01/2010 | Geral
Patrimônio histórico de São Paulo tem até ''puxadinho''
São Paulo tem se mobilizado para ajudar a cidade de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, a se recuperar da enchente que destruiu grande parte do município no início do ano, mas assiste ao patrimônio histórico da capital paulista se deteriorar. Esta degradação se agrava ainda mais com as incessantes chuvas que estão castigando a capital neste mês.

Para constatar essa deterioração do patrimônio histórico, basta uma caminhada pelas ruas da Bela Vista, bairro na região central que teve áreas inteiras tombadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), em resolução publicada em 2002.

Além do tombamento destas áreas, como a região do Bixiga, que abriga dezenas de restaurantes e centenas de imóveis - como casarões, igrejas e teatros, e conjuntos arquitetônicos, como escadarias, praças e logradouros - são protegidos pela resolução, que determina preservação integral do bem tombado. O artigo 8º desta resolução estabelece que nenhuma intervenção pode ser realizada nos bens tombados sem a prévia aprovação do Departamento do Patrimônio Histórico e do Conpresp. A lista completa dos bens tombados pode ser acessada pela página da Prefeitura na internet.

Apesar disso, a Vila Itororó, um complexo de 37 edificações, com destaque para um palacete de quatro pavimentos e adornada por 18 colunas, que começou a ser construído em 1920, apresenta grau elevado de deterioração, mesmo sendo tombada também pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).

No palecete da vila, por exemplo, os atuais moradores – seis famílias, ao todo - construíram ‘puxadinhos’, construções anexas de bloco e cimento, alterando a fachada da edificação. Além disso, possivelmente por ter sido construída sobre o Córrego Itororó, minas d'água estão "brotando" no quintal das casas.

Depois das fortes chuvas deste mês, as minas estão surgindo dentro das próprias casas, na sala, cozinha ou qualquer outro cômodo, segundo relatou ao G1 a secretária Antônia Souza Cândida, de 48 anos, que atua como uma coordenadora da Vila Itororó.

Moradora do local há 29 anos, ela disse que, apesar de externamente as edificações parecerem cortiços, por dentro estão bem conservadas.

Conselho do patrimônio

Rovena Negreiros, presidente do Condephaat, confirmou que houve alterações na fachada do palacete. “Essas alterações são anteriores ao tombamento de 2005, quando o palacete já havia se transformado em um cortiço”, informou Negreiros, por e-mail.

Além disso, ela admitiu que este patrimônio histórico corre sério risco, tanto pela falta de conservação quanto, possivelmente, pelas chuvas. “Não sabemos se é possível atribuir tais problemas às fortes chuvas ou, ao menos, exclusivamente a elas. É preciso avaliar melhor outros possíveis problemas”, ressaltou.

Ela lembrou que o projeto de implantação da Vila Itororó previa a exploração de uma mina d’água para a construção da primeira piscina particular em um imóvel residencial na capital. “É possível que as águas subterrâneas tenham se aflorado em outros pontos e que não estejam sendo direcionadas para a piscina”, disse.

Mas este seria apenas um dos problemas a ser resolvido, segundo Rovena. “Com o passar dos anos, tendo como hipótese a falta de manutenção da piscina e mesmo do conjunto arquitetônico tombado, seria de se esperar que os encanamentos e tubulações estejam em condições precárias, podendo provocar infiltrações nos imóveis, a ponto de comprometer suas estruturas”, reconhece a presidente do Condephaat.

Desapropriação

A assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura do município, também por meio de e-mail, informou que a Vila Itororó está para ser desapropriada por meio de decreto. “O governo do estado irá realizar a desapropriação dos imóveis históricos da vila e a secretaria irá desapropriar três imóveis que dão acesso ao complexo da Vila Itororó”, diz a assessoria.

A secretaria municipal informou que já contratou, inclusive, o projeto de restauro em dezembro de 2009 ao custo de R$ 706 mil. A vila deverá se transformar em um centro cultural. “A conclusão deste projeto está prevista para 2011, quando será possível licitar o projeto e começar as obras que devem ser concluídas até o final de 2012. Tudo isso pressupondo que a desapropriação do local seja concluída neste ano”, explica a assessoria da secretaria.

A presidente do Condephaat disse ao G1 que o projeto de transformar a Vila Itororó em centro cultural existe “desde o final da década da 1970”, mas até agora não foi protocolado no órgão nenhum projeto de recuperação.

De acordo com a assessoria da Prefeitura, a desapropriação já foi determinada e só é necessário aguardar uma definição judicial sobre a quem será destinado o valor da indenização: se aos moradores ou ao atual proprietário da vila. Depois da venda da vila pelo antigo proprietário, anos atrás, os moradores entraram na Justiça para evitar que fossem despejados.

Enquanto não sai esta decisão, eles aguardam por uma solução dos órgãos competentes, pois além de não poderem mexer externamente nos imóveis, a vila não conta com serviços essenciais, como rede de esgoto, iluminação pública e nem coleta de lixo.

“Meu sonho é que as construções sejam restauradas e a vila volte a exibir toda a beleza destas construções. No ano passado, fizemos aqui a ‘Vilada Cultural’. Temos interesse de permanecer e transformar este lugar em uma atração turística, gastronômica e cultural”, diz Antônia Cândido.

Casarões

Além da Vila Itororó, é possível observar, em uma rápida caminhada em direção ao Centro pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, alguns casarões antigos em mau estado de conservação, inclusive com pichações nas paredes externas. Pelo menos um teve as portas e janelas emparedadas para evitar invasões por moradores de rua.

Muitos viraram cortiços. “Os proprietários não têm interesse em preservar e alugam barato. Muitas famílias acabam se instalando nestas casas e degradando-as ainda mais”, lamentou Walter Taverna, de 75 anos, um dos fundadores da Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista (Sodepro).

Ele acompanhou o G1 na visita por alguns dos imóveis tombados da Bela Vista. Dentre eles, o Castelinho da Brigadeiro, localizado no número 826, e a Casa de Dona Yayá, na Rua Major Diogo, 353. Ambos foram restaurados, mas estão à mercê dos vândalos. O muro do Castelinho, por exemplo, foi pichado.

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Cultural informou que, apesar de o bairro ser tombado pelo Conpresp, não tem como intervir no caso de imóveis particulares.

Por Marcelo Mora - G1, em São Paulo
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