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DATA DA PUBLICAÇÃO 08/05/2015 | Tecnologia
Pais tentam equilibrar paixão do filho por games com atividades em família
Gabriel Ramos, 10 anos, é autista e aprendeu a jogar antes de saber falar.

Psicopedagoga fala da importância de dosar tempo dedicado à tecnologia.


Aficionado por jogos, o pequeno Gabriel Ramos, de 10 anos, divide-se diariamente entre os dois videogames, o computador, além dos aplicativos dos celulares dos pais em sua casa no bairro do Jardim das Margaridas, em Salvador. Embora pareça ser uma atividade solitária, é através da brincadeira que a mãe, Fernanda Ramos, enxerga Gabriel interagindo mais com a família. Gabriel foi diagnosticado aos seis anos com autismo.

"É uma maneira dele ficar mais calmo. Ele começou a interagir muito por causa dos jogos e desenhos. A gente começou a perceber a interação por isso, coisa que ele não tinha muito antes. Na verdade, ele começou primeiro conversando com o jogo. Agora, quando alguma coisa chama a atenção, ele me chama e fala", afirma a mãe de Gabriel, que enviou a história do filho pelo ferramenta colaborativa VC no G1.

Francisco Calheiro, pai do garoto, conta que a paixão de Gabriel por jogos começou antes mesmo do menino aprender a falar. "Quando ele tinha entre um ano e dois anos, eu usava o computador e ele observava. Depois, ele começou a brincar com alguns jogos que eu colocava no computador. Nisso, ele aprendeu a ligar e desligar sozinho o computador, só de observar. Apesar da idade, ele desenvolvia o jogo. Um caso interessante foi que uma vez ele ligou o computador e excluiu o ícone do Internet Explorer para que a gente não usasse e o aparelho ficasse só com ele", recorda o pai.

Desde então, o garoto brinca com todo tipo de game. Ele tem Plastation2, XBox, além de jogos instalados no computador e nos celulares dos pais. "Ele gosta muito de futebol, corrida. Tem um jogo em que ele viaja pelo mundo e nisso ele aprendeu muito geografia. Ele também gosta de GTA [Grand Theft Auto], mas a gente limita ao máximo. Mas o que interessa no jogo para ele não nem é o objetivo do jogo, mas outras coisas, como criar os carros, por exemplo", conta o pai.

Autismo
Segundo a Associação de Amigos do Autista da Bahia (AMA), o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um termo que tem sido usado por profissionais para descrever crianças que apresentam dificuldades na interação social, no brincar e na comunicação. Conforme a AMA, o autismo normalmente aparece nos primeiros três anos de vida da criança e ocorre, aproximadamente, em dois a sete em cada mil indivíduos.

Fernanda conta que aos dois anos começou a notar que Gabriel apresentava algumas características incomuns. A partir de então ela levou o filho para médicos a fim de obter um diagnóstico.

"Ele não interagia, não fixava o olhar, não falava. Isso me chamou atenção e, então, eu pesquisei na internet os sintomas até que cheguei na possibilidade do autismo. Na época, a gente morava em Gandu [cidade no interior da Bahia] e lá não tinha muito recurso. Fui em um psiquiatra na cidade, mas ele disse que não tinha como dizer com certeza que era autismo porque ele apresentava alguns sintomas, mas não todos. A partir daí, a gente começou a correr atrás, a vir para Salvador. Nisso, o diagnóstico só foi fechado quando ele tinha seis anos, depois que procuramos a AMA e fomos encaminhados para uma psquiatra", lembra.

Gabriel vai três vezes por semana a uma unidade da AMA, situada no bairro de Pituaçu, na capital baiana. A associação é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), sem fins lucrativos. Segundo Érica Cardoso, coordenadora da AMA, o centro recebe, atualmente, 168 crianças.

"Nós trabalhamos com a parte pedagógica somente. A gente oferece atendimento especializado, de duas ou três vezes por semana. Cada criança tem seu currículo e nesse currículo nós estabelecemos o que vai ser trabalhado, organizamos a rotina", afirma Érica.

Dificuldade
Embora vejam os jogos como uma forma do filho interagir mais com a família, os pais de Gabriel também reconhecem a dificuldade em fazer com que o filho realize outras atividades. "A gente tenta controlar porque não é fácil. Se deixar, ele fica o dia todo. A gente já fez um teste para ver o limite dele. Em um dia de domingo, a gente deixou ele jogar à vontade. Ele ficou jogando da hora que acordou, depois almoçou, voltou a jogar, saiu para tomar banho, voltou a jogar e ficou nisso até dormir. Ele não tem um limite. Ele pode estar cansado, com sono, mas ele está ali, firme", confessa a mãe.

Os pais afirmam que tentam estimular o filho a brincar com outras coisas, a sair de casa. "Tem que ter um limite, um horário. E isso é nossa maior dificuldade, esse controle de horário. Se eu falo que chega, ele fica naquela enrolação e eu fico tentando contornar porque se eu bater de frente com ele é pior porque qualquer coisa desperta uma crise", diz a mãe.

"A gente direciona ele para outras coisas. Chamo para sair de casa, aí ele vai. Uma coisa que ele troca é ir para rua. Se a gente tiver disponiblidade de sair e fazer alguma coisa, beleza, se não tiver, fica mais difícil", completa o pai.

Especialista
Para a psicopedagoga e orientadora educacional, Ana Paula Barreiro Gidi, o uso dos jogos deve ser feito de forma equilibrada. Ela acredita que não há uma idade delimitada para que as crianças comecem a realizar este tipo de atividade, contudo, os pais devem participar sempre das escolhas dos jogos.

"Os jogos têm seus benefícios e malefícios.Tratando-se dos benefícios, os jogos ajudam no desenvolvimento cognitivo da criança, são utilizados como ferramenta no ambiente escolar para aprimorar o aprendizado, porque é lúdico, é visual. Contudo, existem os jogos que podem trazer malefícios e despertar uma certa agressividade. Vamos proibir? Não! Acho que somente os jogos que promovam violência, vinculados à arma devem ser evitados. Mas os outros, a gente pode possibilitar, contanto que haja um equilíbrio", ensina.

"Hoje, realmente, existem jogos bem propícios para criança de um ano e dois anos. Mas a coisa deve ser direcionada. Não tem como fixar uma idade específica para começar a usar os jogos.Toda criança tem o seu nível de maturidade e tudo deve estar ligado a sua faixa etária. Existem crianças de dois anos que têm acesso a um tablet. Não indicaria esse jogos precocemente. Indicaria brinquedos, jogos lúdicos. Mas independente da idade, tem que ter uma dosagem", acrescenta a psicopedagoga.

Ana Paula Barreiro afirma que as crianças autistas devem ser acompanhadas por especialistas, como psicopedagogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais, o que acontece com Gabriel.

"O autista tem demandas específicas, então, os especialistas devem ajudar os pais a dosar tudo. É importante que não seja somente os pais monitorando. O especialista precisa assistir eles jogando, orientando os pais. O autista não sabe lidar muito bem com o não. Tudo ele vai querer fazer em demasia. Então, se não houver orientação, as crianças podem desenvolver outro tipo de transtorno".

A psicopedagoga orienta aos pais que têm alguma dificuldade em fazer com que os filhos assumam outras atividades, que estabeleçam regras de horário e criem alternativas para entreter os jovens.

"Em primeiro lugar, a família precisa estabelecer regras de rotina. Se a família não consegue estabelecer regras, como horário de almoçar, dormir, não vai conseguir dosar o tempo. A criança precisa de limites. Segunda coisa é estabelecer acordo de combinados, onde haja um tempo para cada coisa. Terceiro propiciar momentos de diversão fora do jogo. Muitas vezes as crianças pensam que só podem se divertir nos jogos. Existem jogos lúdicos, de tabuleiro, trilha, que ajudam a desenvolver a capacidade cognitiva delas".

Por Ruan Melo - G1 BA
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