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DATA DA PUBLICAÇÃO 13/01/2013 | Setecidades
Os vizinhos da tragédia
Os vizinhos da tragédia
A tinta vermelha usada pelas equipes da Defesa Civil para identificar residências interditadas é vista por toda a parte em meio às rachaduras. Porém, o aviso que traz mensagem de perigo e iminência de desmoronamento não é suficiente para espantar moradores que se espremem nas áreas de risco na região.

Nesta semana a equipe do Diário visitou três locais do Grande ABC - São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires - que abrigam milhares de famílias em situações precárias. Duas dessas cidades ganharam destaque nacional nos últimos três anos quando oito pessoas morreram soterradas após temporais de verão.

Nas vielas que cortam a favela do Areião, às margens da Via Anchieta, em São Bernardo, o acesso é possível apenas a pé. O terreno acidentado é tão íngreme que, para subir os degraus já quase imperceptíveis, é preciso, além de usar o impulso, escorar-se em galhos, árvores e canos nas laterais. Entre os pés escorre a água da chuva enlameada que desce do topo do morro.

A largura de pouco mais de dois metros separa as duas extremidades da passagem. Em ambos os lados há casas pequenas, outras maiores, de alvenaria, madeira, com portas frágeis ou sem janelas. Em uma delas vivem sete pessoas, sendo quatro crianças. Mileide Martinez Jordão, 18 anos, mora lá desde que nasceu e não esconde o temor por novas tragédias. Na quarta-feira, um casal ficou ferido quando duas casas desabaram após parte do terreno ceder. O acidente aconteceu a poucos metros de sua casa. "É mais perigoso do outro lado (do morro). Temos medo, mas não tentamos sair. A gente se acostuma com o perigo nesta época do ano."

A resignação é comum entre moradores da região. O conformismo é proporcional à fé de nunca ser alvo de tragédias. Próximo ao local, em terreno menos irregular, casal de idosos reveza a vigília em dias de temporais. Divino Guilherme, 66, assiste ao crescimento desordenado de moradias há 40 anos. "Se começa a ventar, as telhas voam. Dormimos com um olho fechado e outro aberto." Segundo o aposentado, que vive com R$ 1.200 por mês, não há condições de sair de lá para bancar aluguel. "Sem essa despesa, já vivo apertado."

DRAMA REPETIDO
A cidade muda, mas as versões se assemelham. A falta de condição financeira é a mesma justificativa utilizada por moradores de Mauá para explicar a permanência em áreas de risco. A diferença é que, por lá, a insatisfação com a Prefeitura cresce a cada chuva.

No morro do Macuco, Jardim Zaíra, onde cinco pessoas perderam vida em janeiro de 2011 após seguidas enchentes e desmoronamentos, moradores que testemunharam as mortes hoje sentem-se órfãos do poder público. "Só aparecem quando alguém morre", lamenta a dona de casa Severina Nascimento Santos, 58, que teve a casa interditada pela Defesa Civil. Para sair do imóvel, a única alternativa aceita pela família de cinco pessoas é o pagamento de indenização no valor da casa. "Quando chegamos, aqui era brejo. Não existia risco. Construímos tudo. Queremos uma compensação."

Segundo moradores da área, as equipes da Defesa Civil interditaram casas consideradas sob risco logo que as mortes aconteceram. Rapidamente, representantes da Prefeitura foram ao morro e prometeram auxílio-aluguel no valor de R$ 300. Quem aceitou e saiu do endereço hoje vive de favor em casas de parentes. Muitos ainda não receberam o benefício devido à burocracia no cadastramento das famílias, que atualmente aguardam a construção de conjuntos habitacionais. "Derrubaram as casas e foram embora. Praticamente expulsaram todos para se livrarem da responsabilidade de outras mortes. Nunca mais voltaram", critica a operadora de caixa Elisabete Madalena Santos, 30. Algumas casas que foram ao chão têm suas estruturas reaproveitadas por outras famílias que já invadiram a área.

Sobre o perigo de tragédias, a moradora que vive no Macuco desde que nasceu despista o temor. "Por enquanto está tudo bem. Acho que o pior já passou. Só dá medo quando começa a chover." Pela janela do quarto da casa é possível ver o pequeno córrego que contorna o imóvel e assusta vizinhos em dias chuvosos. Quem busca se proteger de forma imediata opta por abandonar a área. Alguns jovens, filhos de proprietários, alugam moradias mais seguras assim que conquistam independência financeira.

De acordo com a Prefeitura, logo após as ocorrências de 2011, 701 famílias do morro do Macuco foram encaminhadas para firmar convênio com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), mas apenas 300 aceitaram a adesão para receber valor de R$ 300 mensais. O município obteve verba do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) no valor de R$ 2,8 milhões para projetos na área, que estão em fase de licitação. Atualmente a região comporta cerca de 28 mil moradores.

Famílias resistem à desocupação mesmo depois da interdição

A Rua Anchieta, no bairro Santo Bertoldo, em Ribeirão Pires, ficou conhecida em todo o Brasil em janeiro de 2010. Mãe e duas filhas, de 9 e 13 anos, foram soterradas após barranco ceder atrás das residências.

Quem não foi atingido viu a morte de perto. O aposentado Elpides Molico de Andrade, 63 anos, perdeu o cachorro da raça rottweiler. O muro do quintal que ruiu sobre o animal nunca mais foi reerguido. Na mesma época, a Defesa Civil interditou o imóvel.

Porém, o medo de novos escorregamentos durou apenas um ano - período que a família pagou aluguel para morar em Mauá. Para o aposentado, hoje não existe problema em morar no bairro. "Só saí por causa do meu filho, que ficou assustado. Confio nas adaptações que fiz na estrutura." A entrada dos fundos foi reforçada com fileiras de tijolos.

Próximo ao local vive outro aposentado, José Oliveira Silva, 86, que classifica as mortes ocorridas há três anos como fatalidades. Sua casa também foi interditada pela Defesa Civil, assim como o imóvel ao lado, dado para sua filha. "Foi obra da natureza. Essas coisas não pedem permissão para acontecer."

Para isolar a ameaça de novos acidentes, a Prefeitura construiu parede de contenção feita de pedras atrás das residências. De acordo com a Secretaria de Infraestrutura Urbana, falta realizar o reaterro atrás do muro de arrimo, a demarcação da viela sanitária e o fechamento dos muros. A administração informou que os serviços serão retomados assim que as condições climáticas melhorarem.

Por Maíra Sanches - Diário do Grande ABC
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