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DATA DA PUBLICAÇÃO 05/02/2018 | Educação
O submundo dos vídeos que humilham e expõem crianças no YouTube
O submundo dos vídeos que humilham e expõem crianças no YouTube Em um postagem com crianças brincando, os vídeos relacionados mostram meninas em posições vulneráveis (Foto: Reprodução/YouTube)
Em um postagem com crianças brincando, os vídeos relacionados mostram meninas em posições vulneráveis (Foto: Reprodução/YouTube)
Imagens com crianças chorando e gritando de medo, situações escatológicas e até indícios de pedofilia acumulam milhões de visualizações; plataforma diz que tem reforçado controle.

A plataforma de vídeos mais popular do mundo tem um problema sério com seu conteúdo: usuários têm publicado centenas de vídeos com crianças em situações íntimas, violentas ou humilhantes e conseguido milhares de visualizações com a exploração dessas imagens.

Apesar do YouTube ter anunciado no fim do ano passado a retirada de 150 mil vídeos chocantes envolvendo menores e o cancelamento de alguns canais, ainda é possível encontrar centenas de publicações com conteúdo impróprio envolvendo crianças ou voltadas para elas.

Há centenas de vídeos que contêm crianças chorando, gritando de medo e claramente aterrorizadas. Há imagens de meninas com roupas de banho em posições em que suas partes íntimas ficam em evidência. Outras mostram situações escatológicas envolvendo fezes, vômito, cuspe e urina.

Em muitos casos, os pequenos são perseguidos por pessoas em roupas de palhaço e outras fantasias assustadoras, são amarrados e alvo de imitações de situações de sequestro. Há crianças tomando injeções ou sangrando ao terem o dente removido, centenas de pegadinhas violentas e perigosas e até vídeos com simulação de suicídio.

Há também uma série de vídeos que imitam desenhos infantis, mas contém palavreado impróprio, violência e situações de cunho sexual - sem nenhum aviso de que o conteúdo é impróprio para menores. As imagens imitam animações infantis como a Peppa Pig, Thomas, a Locomotiva a Vapor e filmes como Frozen e Meu Malvado Favorito, entre outros.

A plataforma tem um filtro, o YouTube Kids, cujos controles são mais rígidos para proteger as crianças da exposição a conteúdo do tipo. Mas, muitas vezes, por serem muito parecidos ou por terem problemas apenas no áudio, os desenhos impróprios acabam furando esse controle.

O problema da republicação

Muitos dos vídeos impróprios voltados para crianças ou com crianças em situações abusivas vêm de canais verificados e acumulam milhões de visualizações. Em uma tentativa de conter o problema, o YouTube cancelou diversos destes canais no último ano.

Um dos maiores, o Toy Freaks, tinha 8 milhões de inscritos, 7 bilhões de visualizações acumuladas e recebia reclamações dos usuários há anos.

No canal, o pai de duas garotas mostrava as filhas gritando de medo, cuspindo e urinando umas nas outras, sendo alimentadas à força, tomando banho e fingindo serem bebês. Mas mesmo com a retirada do canal, ainda é possível encontrar alguns dos vídeos, que foram salvos e republicados por outros usuários.

O ToyFreaks era um dos canais que ganhavam dinheiro com os vídeos abusivos - por meio do pagamento pela veiculação de anúncios antes dos vídeos com muitas visualizações.

Mas não é raro que outros canais verificados tenham casos de vídeos que colocam crianças em situações perigosas e abusivas.

Pegadinhas extremamente violentas e assustadoras para crianças são uma das categorias mais comuns. Em um vídeo de um canal verificado, por exemplo, duas crianças pequenas gritam de medo e choram ao serem perseguidas por palhaços assustadores.

Em um video de outro canal, duas meninas pequenas são mostradas no banheiro, usando a privada, até que aparece um palhaço assustador. Depois, uma delas é mostrada chorando de medo.

Espiral do abuso

Muitos dos vídeos são feitos e postados pelas próprias famílisa das crianças. Ao perceber que certo tipo de vídeo atrai mais público, alguns canais que lucram com o número de visualizações acabam produzindo mais conteúdo do tipo para satisfazer a audiência.

"O conteúdo vai se tornando cada vez mais bizarro", explica Rodrigo Nejm, diretor de educação da ong Safernet, que monitora e promove direitos humanos na internet. "Conteúdo humilhante e brincadeiras em que as pessoas não estão de acordo vão criando uma banalização da violência."

Os donos do canal DaddyOFive, já cancelado pelo YouTube, chegaram a perder a guarda de dois dos filhos por causa de pegadinhas.

Mas os casos emblemáticos em que houve alguma punição, como os dos canais DaddyOFive e Toy Freaks, não impedem que mais centenas de vídeos parecidos sejam subidos diariamente para a plataforma.

Nejm, da Safernet, explica que conteúdos explicitamente pornográficos (com nudez ou sexo explícito) ou com violência muito evidente, como com muito sangue, são automaticamente bloqueados pelos filtros do YouTube.

O problema são conteúdos abusivos que não são automaticamente detectados pela plataforma, mas que podem ser chocantes.

"As pessoas têm que lembrar que, ainda que o conteúdo não seja explicitamente criminoso, mesmo assim pode ter o uso indevido de imagem de um menor de idade", diz ele.

Para a psicóloga Ceneide Cerveny, da PUC-SP, as situações em que as crianças são colocadas podem afetá-las no longo prazo - o que é piorado quando os criadores dos vídeos são os pais.

"Para a criança ofendida, assustada, sempre faz mal. Ela pode perder a confiança nos pais, que deveriam ser responsáveis por sua segurança. É muito sério quando é um pai assustando com conivência da mãe. Ambos são irresponsáveis e sem condições de serem pais, fazendo isso para ganhar dinheiro e fama", diz.

"As brincadeiras abusivas trazem consequências como medo, estresse, insônia, falta de confiança nos adultos e principalmente a vergonha da exposição a que estão sujeitos", acrescenta.

"O problema é o responsável legal que permite a exposição pública dessa criança. Por isso que a gente insiste na importância de conscientizar o público. As vezes os pais não têm nem ideia da repercussão que um vídeo pode ter. Dois, três anos depois, ele pode se tornar um conteúdo que vai motivar um cyberbullying contra a criança", diz Nejm.

Predadores sexuais

Em alguns casos, a própria plataforma indica esses vídeos perturbadores: o algoritmo que controla as indicações no YouTube mostra na aba lateral publicações parecidas com o que o usuário está vendo.

Boa parte do problema está aí. Algumas das indicações de animações com linguagem imprópria e sem informação de que o conteúdo é inadequado para menores, por exemplo, aparecem se você está vendo vídeos de desenhos animados de verdade.

Esse sistema de indicação automática acaba criando um submundo de vídeos chocantes. A partir do momento em que o algoritmo percebe que um usuário costuma ver esse tipo de conteúdo com crianças, passa a alimentar esse gosto com vídeos parecidos.

É por meio das sugestões que é possível perceber tendências problemáticas - e até indícios de pedofilia. Alguns vídeos são em si, inocentes. Há dezenas deles que mostram meninas pequenas fazendo ginástica, por exemplo. Mas as imagens em destaque de todos os vídeos relacionados indicados ao lado são das meninas em posições de vulnerabilidade, como com as pernas abertas.

"Há um fator de risco ao expor uma criança na internet. Um conteúdo que a priori não é pornográfico pode se tornar. Uma criança quando se filma não tem erotismo, mas quando (o vídeo) é exposto na maior praça pública, está aberto a todo tipo de consumo", afirma Rodrigo Nejm, da Safernet.

Os vídeos também têm dezenas de comentários predatórios e com conteúdo sexual direcionado às crianças.

Em um dos casos - subido em um canal brasileiro - uma menina pequena pula na chuva com uma roupa branca. Um dos comentários diz: "dá para ver o peitinho dela hahah te adoro".

Em outra filmagem subida no mesmo canal, a mesma criança dança pole dance ao redor de um poste vestindo um shorts e um top. "Já sabe subi (sic) no pau", diz um usuário.

Boa parte das imagens com crianças pequenas nessas situações são subidas com datas aleatórias como título - um "nicho" que inclui centenas de vídeos com meninas pequenas em roupas íntimas, em roupas de banho ou com a calcinha aparecendo.

Alguns têm milhares ou milhões de visualizações. Um vídeo de 5 minutos de uma garota pequena filmada com as pernas abertas fazendo ginástica, por exemplo, foi assistido 1,8 milhão de vezes.

Por G1 - BBC
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