DATA DA PUBLICAÇÃO 18/05/2008 | Esportes
No skate, um salto para o futuro
Há poucos meses, as principais semelhanças entre U.A.S., 17 anos, e J.A.S.J., de 16, eram a origem pobre e os assaltos à mão armada que faziam em São Paulo. Agora, internados na unidade Ipê da Fundação Casa, ex-Febem, na Capital, eles têm outras coisas em comum: nos pés, skates, e na cabeça o sonho de dias melhores quando voltarem às ruas. Tudo graças ao esporte.
Os dois e mais 84 internos da unidade Ipê recebem todas às quartas-feiras aulas de skate com o professor Sandro Soares, o Testinha. Na última semana, eles tiveram um incentivo a mais para apostar no esporte como parte importante no processo de ressocialização. Sandro Dias, o Mineirinho, pentacampeão mundial de skate vertical, e Lucas Carvalho, o Xaparral, campeão de street no X-Games, visitaram a unidade e andaram de skate com a garotada.
"Estou só começando, mas talvez um dia posso fazer sucesso igual a eles", diz U.A.S. Seu primeiro contato com as estrelas da modalidade foi no mês passado, quando deu uma saidinha da Fundação Casa com outros oito internos para acompanhar o X-Games, espécie de Copa do Mundo dos esportes radicais, disputado no Anhembi. "Nunca tinha andado de skate, mas comecei aqui e peguei gosto pela coisa. Já estou fazendo até umas manobras e o desafio de aprender coisas diferentes me motiva cada vez mais."
U.A.S. está na Fundação Casa há cinco meses. Roubou um carro em Ibiúna, no interior do Estado e o entregou para os comparsas. Quando o automóvel já estava sendo desmontado na cidade de Piedade, a polícia desmantelou a quadrilha. "Me cagüetaram (entregaram) e rodei. Aí acabei aqui. Mas, como o pessoal fala por aí, o skate é como a vida. Caiu, não pode desistir. Tem de levantar e continuar. Deixar se levar pela derrota é bem pior", disse.
Com J.A.S.J. a situação é bem parecida. Ele, no entanto, não lamenta o fato de estar na Fundação Casa. "Ainda bem que estou aqui. Se estivesse na rua é bem provável que eu já estivesse morto. Era um roubo atrás do outro. O pior (morte) poderia acontecer a qualquer momento", disse.
O adolescente foi pego pela polícia com mais dois amigos enquanto assaltava um ônibus de viagem no Itaim Bibi, na Zona Sul da Capital. "Já tínhamos feito a rapa em todos os passageiros, mas na hora em que fomos descer demos de cara com a polícia", afirmou. E, além de não lamentar a internação na Fundação Casa, J.A.S.J ainda aponta o fato como um exemplo para o irmão dois anos mais novo.
"Ele começou a fumar maconha e a querer entrar no mundo do crime. Falei para não seguir o meu caminho, que não levava a lugar nenhum." Assim como J.A.S.J, o irmão também aposta no esporte para ficar longe da criminalidade. Três vezes por semana, ele deixa o Jardim San Remo (a menos de cinco quilômetros da unidade Ipê da Fundação Casa) e vai para USP (Universidade de São Paulo), onde treina triatlo.
Experiência faz Mineirinho apostar e aconselhar internos
Aos 33 anos (muitos deles vividos em cima de um shape), Sandro Dias já viu muito skatista chegar perto do fundo do poço por causa de problemas com drogas, álcool ou dinheiro e depois dar a volta por cima com títulos e prêmios internacionais. Por isso, para ele, o fato de os 86 jovens que visitou na última quarta-feira estarem internados não significa que eles não podem alcançar o sucesso no skate - ou em outras áreas - quando saírem da Fundação Casa.
"Eles têm a oportunidade de aprender coisas novas e, mais do que isso, várias pessoas estão ensinando os passos para que eles possam se reerguer", disse. "Agora, é bola para frente."
Orgulhoso por servir de exemplo para os mais jovens, Mineirinho não cansou de distribuir autógrafos e conselhos em sua visita aos internos. "Também já errei na minha vida, mas aprendi com os meus erros. O mais importante é seguir na luta, batalhando para alcançar todos os sonhos", afirmou.
Xaparral também foi muito assediado pelos jovens, que queriam ver de perto a medalha de ouro conquistada no street no último X-Games. Tímido, o skatista de 20 anos tentou se colocar na situação daqueles jovens.
"De formas diferentes, já passei por várias dificuldades. Também sou novo e tenho muito o que aprender. O skate não é só manobra e é isso que fica como maior lição de vida."
Testinha usa filosofia do "caiu, levanta" nas aulas e na vida
"Caiu, levanta. Errou, tenta de novo." Esse é o lema de vida e das aulas de Sandro Soares, o Testinha. Autor do Projeto Skate da Fundação Casa, ele começou a trabalhar com os internos da instituição em 2000, como professor voluntário na extinta unidade Tatuapé. Quatro anos mais tarde, ele foi contratado pela entidade e expandiu as aulas. Desde então, aproximadamente 4.500 jovens já andaram de skate com ele dentro da Fundação Casa.
"Sempre passo para eles que a filosofia de que não se pode desistir nunca vale para tudo. No trabalho, na vida amorosa ou financeira. Não podemos desanimar no primeiro tombo", diz. "Considero o fato de eles estarem na Fundação Casa um tombo. Mas confio que eles podem se recuperar dessa queda."
A analista técnica-pedagoga da unidade Ipê, Ana Lúcia Andrade, destaca a importância das aulas de skate no trabalho diário com os internos. "Eles têm uma identificação muito grande, pois muitos já praticavam antes de chegar aqui. Adrenalina e desafio são as coisas que eles mais gostam e o skate proporciona isso", afirmou.
E não é apenas o skate que tem feito a cabeça dos internos. Campeonatos de futsal, vôlei e handebol também têm agitado os adolescentes. "É uma forma de trabalhar corpo e mente, além de reforçar a disciplina e o trabalho em equipe", disse.
Os dois e mais 84 internos da unidade Ipê recebem todas às quartas-feiras aulas de skate com o professor Sandro Soares, o Testinha. Na última semana, eles tiveram um incentivo a mais para apostar no esporte como parte importante no processo de ressocialização. Sandro Dias, o Mineirinho, pentacampeão mundial de skate vertical, e Lucas Carvalho, o Xaparral, campeão de street no X-Games, visitaram a unidade e andaram de skate com a garotada.
"Estou só começando, mas talvez um dia posso fazer sucesso igual a eles", diz U.A.S. Seu primeiro contato com as estrelas da modalidade foi no mês passado, quando deu uma saidinha da Fundação Casa com outros oito internos para acompanhar o X-Games, espécie de Copa do Mundo dos esportes radicais, disputado no Anhembi. "Nunca tinha andado de skate, mas comecei aqui e peguei gosto pela coisa. Já estou fazendo até umas manobras e o desafio de aprender coisas diferentes me motiva cada vez mais."
U.A.S. está na Fundação Casa há cinco meses. Roubou um carro em Ibiúna, no interior do Estado e o entregou para os comparsas. Quando o automóvel já estava sendo desmontado na cidade de Piedade, a polícia desmantelou a quadrilha. "Me cagüetaram (entregaram) e rodei. Aí acabei aqui. Mas, como o pessoal fala por aí, o skate é como a vida. Caiu, não pode desistir. Tem de levantar e continuar. Deixar se levar pela derrota é bem pior", disse.
Com J.A.S.J. a situação é bem parecida. Ele, no entanto, não lamenta o fato de estar na Fundação Casa. "Ainda bem que estou aqui. Se estivesse na rua é bem provável que eu já estivesse morto. Era um roubo atrás do outro. O pior (morte) poderia acontecer a qualquer momento", disse.
O adolescente foi pego pela polícia com mais dois amigos enquanto assaltava um ônibus de viagem no Itaim Bibi, na Zona Sul da Capital. "Já tínhamos feito a rapa em todos os passageiros, mas na hora em que fomos descer demos de cara com a polícia", afirmou. E, além de não lamentar a internação na Fundação Casa, J.A.S.J ainda aponta o fato como um exemplo para o irmão dois anos mais novo.
"Ele começou a fumar maconha e a querer entrar no mundo do crime. Falei para não seguir o meu caminho, que não levava a lugar nenhum." Assim como J.A.S.J, o irmão também aposta no esporte para ficar longe da criminalidade. Três vezes por semana, ele deixa o Jardim San Remo (a menos de cinco quilômetros da unidade Ipê da Fundação Casa) e vai para USP (Universidade de São Paulo), onde treina triatlo.
Experiência faz Mineirinho apostar e aconselhar internos
Aos 33 anos (muitos deles vividos em cima de um shape), Sandro Dias já viu muito skatista chegar perto do fundo do poço por causa de problemas com drogas, álcool ou dinheiro e depois dar a volta por cima com títulos e prêmios internacionais. Por isso, para ele, o fato de os 86 jovens que visitou na última quarta-feira estarem internados não significa que eles não podem alcançar o sucesso no skate - ou em outras áreas - quando saírem da Fundação Casa.
"Eles têm a oportunidade de aprender coisas novas e, mais do que isso, várias pessoas estão ensinando os passos para que eles possam se reerguer", disse. "Agora, é bola para frente."
Orgulhoso por servir de exemplo para os mais jovens, Mineirinho não cansou de distribuir autógrafos e conselhos em sua visita aos internos. "Também já errei na minha vida, mas aprendi com os meus erros. O mais importante é seguir na luta, batalhando para alcançar todos os sonhos", afirmou.
Xaparral também foi muito assediado pelos jovens, que queriam ver de perto a medalha de ouro conquistada no street no último X-Games. Tímido, o skatista de 20 anos tentou se colocar na situação daqueles jovens.
"De formas diferentes, já passei por várias dificuldades. Também sou novo e tenho muito o que aprender. O skate não é só manobra e é isso que fica como maior lição de vida."
Testinha usa filosofia do "caiu, levanta" nas aulas e na vida
"Caiu, levanta. Errou, tenta de novo." Esse é o lema de vida e das aulas de Sandro Soares, o Testinha. Autor do Projeto Skate da Fundação Casa, ele começou a trabalhar com os internos da instituição em 2000, como professor voluntário na extinta unidade Tatuapé. Quatro anos mais tarde, ele foi contratado pela entidade e expandiu as aulas. Desde então, aproximadamente 4.500 jovens já andaram de skate com ele dentro da Fundação Casa.
"Sempre passo para eles que a filosofia de que não se pode desistir nunca vale para tudo. No trabalho, na vida amorosa ou financeira. Não podemos desanimar no primeiro tombo", diz. "Considero o fato de eles estarem na Fundação Casa um tombo. Mas confio que eles podem se recuperar dessa queda."
A analista técnica-pedagoga da unidade Ipê, Ana Lúcia Andrade, destaca a importância das aulas de skate no trabalho diário com os internos. "Eles têm uma identificação muito grande, pois muitos já praticavam antes de chegar aqui. Adrenalina e desafio são as coisas que eles mais gostam e o skate proporciona isso", afirmou.
E não é apenas o skate que tem feito a cabeça dos internos. Campeonatos de futsal, vôlei e handebol também têm agitado os adolescentes. "É uma forma de trabalhar corpo e mente, além de reforçar a disciplina e o trabalho em equipe", disse.
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