DATA DA PUBLICAÇÃO 25/05/2008 | Cultura
Nazismo de Hitler entre nós
Movida por uma determinação bem pessoal, a historiadora Ana Maria Dietrich começou a vasculhar, no acervo do Deops (Departamento de Ordem Política e Social), do Arquivo do Estado de São Paulo, a presença do nazismo em São Paulo.
A princípio, ela desejava desvendar mistérios da própria família. Seu avô lutou na Segunda Guerra (1939-1945) e morou no Brasil. Desse desejo nasceu o livro Caça às Suásticas - O Partido Nazista em São Paulo sob a Mira da Polícia Política, em que ela trata do combate do Estado varguista ao nazismo - com arbitrariedades e interpretações subjetivas da lei pelos policiais - entre os anos 1930 e 1940. "A importância de estudar os regimes totalitários é que as pessoas podem se tornar mais adeptas da paz e se pode evitar o surgimento de movimentos extremistas no presente", ela diz.
O neonazismo tem uma raiz no desconhecimento histórico. Professora de história contemporânea na Universidade Federal de Viçosa, Ana
Maria Dietrich diz que entre 1928 e 1938 o partido nazista no Brasil agiu livremente,
com a conivência das autoridades. É conhecida a simpatia de Filinto Müller, chefe da polícia no Rio, pelo ideário hitlerista, além da aproximação do Brasil com a Alemanha, a partir da ascensão de Hitler, em 1933, lembra a historiadora.
Segundo Dietrich, havia festividades nazistas nos estádios brasileiros com o desfile de suásticas (emblema oficial do 3º Reich). Essa liberdade de ação se deveu à posição dúbia do governo de Getúlio Vargas em relação à Segunda Guerra até a adesão militar aos Aliados se consumar em 1942.
"A neutralidade é ambígua, porque esconde interesses", diz. "Mas houve um ruído diplomático entre Brasil e Alemanha depois de 1938". Foi um ano depois de instalado o Estado Novo, que houve a proibição de partidos políticos estrangeiros.
O cerco aos nazistas aumentou - o partido caíra na clandestinidade -, mas ele não seria nada comparado ao de 1942 em diante, quando "todo alemão é suspeito de nazismo". Até as atividades culturais eram classificadas de nazistas e reprimidas.
Segundo a autora de Caça às Suásticas (Imprensa Oficial, 385 págs., R$ 40), a polícia política varguista detinha os "peixes pequenos" e não os líderes do partido. "Eles pegavam quem andava falando alemão na rua", conta. A ação policial adotava a lógica da desconfiança e se baseava na idéia da "polícia do pensamento", termo emprestado por Ana da filósofa alemã Hannah Arendt.
O público e o privado perdem a distinção, nesse caso. Ao receber amplo poder do Estado, legitimidade conferida já na Lei de Segurança Nacional, de 1935, os policiais perderam a noção sobre a proposta original de atuação. A intervenção no imaginário social era uma das estratégias, como o estímulo à delação, dando a sensação de que o delator contribuía para a manutenção da ordem, ameaçada pelos nazistas. A margem de ação - e de arbitrariedades - da polícia encontrou terreno para se ampliar durante a guerra, quando se instalou um Estado especial: os alemães eram inimigos políticos e militares. Segundo pesquisas de Ana Maria, no Brasil o partido nazista chegou a reunir 2.900 integrantes, dos quais 785 estavam em São Paulo. Eles se espalharam por 17 Estados. "O partido nazista brasileiro era o segundo maior grupo fora da Alemanha."
A comunidade alemã naquele período reunia cerca de 230 mil indivíduos. O partido nazista teve atuação em 83 países. "Aqui não havia o objetivo de instalar o nazismo", afirma. Mas os documentos mostram que o partido hitlerista no País era organizado e recebia diretrizes diretamente de Berlim. O maior agrupamento de nazistas era em São Paulo, porque no partido só se aceitavam alemães e não descendentes. O Estado paulista recebeu uma leva vinda com a crise da República de Weimar nos anos 1920. "Por isso havia mais partidários em São Paulo do que na região Sul, cujas comunidades estavam na terceira geração."
A princípio, ela desejava desvendar mistérios da própria família. Seu avô lutou na Segunda Guerra (1939-1945) e morou no Brasil. Desse desejo nasceu o livro Caça às Suásticas - O Partido Nazista em São Paulo sob a Mira da Polícia Política, em que ela trata do combate do Estado varguista ao nazismo - com arbitrariedades e interpretações subjetivas da lei pelos policiais - entre os anos 1930 e 1940. "A importância de estudar os regimes totalitários é que as pessoas podem se tornar mais adeptas da paz e se pode evitar o surgimento de movimentos extremistas no presente", ela diz.
O neonazismo tem uma raiz no desconhecimento histórico. Professora de história contemporânea na Universidade Federal de Viçosa, Ana
Maria Dietrich diz que entre 1928 e 1938 o partido nazista no Brasil agiu livremente,
com a conivência das autoridades. É conhecida a simpatia de Filinto Müller, chefe da polícia no Rio, pelo ideário hitlerista, além da aproximação do Brasil com a Alemanha, a partir da ascensão de Hitler, em 1933, lembra a historiadora.
Segundo Dietrich, havia festividades nazistas nos estádios brasileiros com o desfile de suásticas (emblema oficial do 3º Reich). Essa liberdade de ação se deveu à posição dúbia do governo de Getúlio Vargas em relação à Segunda Guerra até a adesão militar aos Aliados se consumar em 1942.
"A neutralidade é ambígua, porque esconde interesses", diz. "Mas houve um ruído diplomático entre Brasil e Alemanha depois de 1938". Foi um ano depois de instalado o Estado Novo, que houve a proibição de partidos políticos estrangeiros.
O cerco aos nazistas aumentou - o partido caíra na clandestinidade -, mas ele não seria nada comparado ao de 1942 em diante, quando "todo alemão é suspeito de nazismo". Até as atividades culturais eram classificadas de nazistas e reprimidas.
Segundo a autora de Caça às Suásticas (Imprensa Oficial, 385 págs., R$ 40), a polícia política varguista detinha os "peixes pequenos" e não os líderes do partido. "Eles pegavam quem andava falando alemão na rua", conta. A ação policial adotava a lógica da desconfiança e se baseava na idéia da "polícia do pensamento", termo emprestado por Ana da filósofa alemã Hannah Arendt.
O público e o privado perdem a distinção, nesse caso. Ao receber amplo poder do Estado, legitimidade conferida já na Lei de Segurança Nacional, de 1935, os policiais perderam a noção sobre a proposta original de atuação. A intervenção no imaginário social era uma das estratégias, como o estímulo à delação, dando a sensação de que o delator contribuía para a manutenção da ordem, ameaçada pelos nazistas. A margem de ação - e de arbitrariedades - da polícia encontrou terreno para se ampliar durante a guerra, quando se instalou um Estado especial: os alemães eram inimigos políticos e militares. Segundo pesquisas de Ana Maria, no Brasil o partido nazista chegou a reunir 2.900 integrantes, dos quais 785 estavam em São Paulo. Eles se espalharam por 17 Estados. "O partido nazista brasileiro era o segundo maior grupo fora da Alemanha."
A comunidade alemã naquele período reunia cerca de 230 mil indivíduos. O partido nazista teve atuação em 83 países. "Aqui não havia o objetivo de instalar o nazismo", afirma. Mas os documentos mostram que o partido hitlerista no País era organizado e recebia diretrizes diretamente de Berlim. O maior agrupamento de nazistas era em São Paulo, porque no partido só se aceitavam alemães e não descendentes. O Estado paulista recebeu uma leva vinda com a crise da República de Weimar nos anos 1920. "Por isso havia mais partidários em São Paulo do que na região Sul, cujas comunidades estavam na terceira geração."
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