NOTÍCIA ANTERIOR
Mundo está ficando sem antibióticos, alerta OMS
PRÓXIMA NOTÍCIA
Vacina contra o zika tem potencial para prevenir doença na gestação, diz estudo
DATA DA PUBLICAÇÃO 21/09/2017 | Saúde e Ciência
Não é só perda de memória: família e médico explicam o que é, como se manifesta e qual o impacto do Alzheimer
Demência é lembrada mundialmente neste 21 de setembro. Cuidados com a saúde podem ajudar a retardar o avanço da doença.

Foi a diferença no padrão de lavar a louça que primeiro chamou a atenção da professora Janete Cristina Baes Correia. Depois veio a dificuldade da mãe, Floripes Garzon Baes, então com 65 anos, para fechar o cadeado do portão. Em outra ocasião, o tempo com a chave na mão em frente à porta. Ela decidiu procurar um médico e descobriu que as mudanças estavam relacionadas à doença de Alzheimer.

“Todo mundo se liga muito no esquecimento, só que esquecimento você pode ter em qualquer idade. O que mais me chamou atenção na minha mãe foi a dificuldade de raciocínio em coisas simples”, contou a professora de São Carlos (SP). “A gente pedia para ela fazer algo e ela não entendia, tínhamos que repetir várias vezes”.

O declínio cognitivo é uma das consequências da enfermidade lembrada mundialmente nesta quinta-feira (21), Dia da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer.

Diagnóstico

A doença está associada ao acúmulo da proteína beta-amilóide entre os neurônios e acomete principalmente idosos, mas há casos em pessoas mais jovens. Atualmente, o diagnóstico é clínico, embora exames como tomografia e ressonância possam ser solicitados de forma complementar.

“O diagnóstico é baseado em uma perda de memória progressiva e no prejuízo de algum outro domínio, como a linguagem”, afirmou o psicogeriatra Marcos Hortes Nisihara Chagas, professor do curso de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

“A principal alteração é de memória. Há um prejuízo de memória e ele vai levando a prejuízos de outras funções cognitivas. Às vezes a pessoa se perde, falta orientação, e depois a pessoa vai ter um prejuízo funcional, então ela não vai mais conseguir fazer o que fazia. Ela esquece a panela no fogo, então para de cozinhar, esquece o nome de pessoas mais próximas”, explicou.

Fatores de risco

Há fatores genéticos – os dois irmãos de Floripes, por exemplo, também foram diagnosticados com a doença – e há aspectos ambientais. Um dos pontos é a idade, o risco cresce com o passar dos anos, mas há outros elementos que podem aumentar a deposição da proteína ou acelerar o aparecimento das alterações clínicas.

“Hipertensão arterial, diabetes, colesterol aumentado, diminuição da atividade física, isso tudo é fator de risco”, alertou Chagas. Daí exercícios físicos, alimentação adequada e controle da pressão serem consideradas formas de se proteger e ter um envelhecimento mais saudável.

A baixa escolaridade também é um fator. “Quando eu tenho baixa escolaridade, provavelmente minha reserva cognitiva é menor. Se minha escolaridade é alta e esqueci alguma coisa, vou anotar, então esse problema de memória demora mais a aparecer. Posso criar outras alternativas, outras vias para não me perder na rua, para não esquecer alguma coisa”, explicou o médico.

Não há cura

O tratamento para a alteração cognitiva é feito principalmente com remédios. Segundo Chagas, eles podem fazer com que a doença progrida mais lentamente, mas ainda não são capazes de estacioná-la.

“Não existe um tratamento para diminuir a deposição de beta-amilóide. A gente vai aumentar a acetilcolina, que vai melhorar a cognição e talvez vá melhore o prejuízo cognitivo, mas não muda a progressão da doença”, disse.

Há outro lado, porém, que possui mais opções de tratamento. Trata-se da alteração comportamental, outra modificação associada à demência. Os pacientes podem ter depressão, ansiedade, ficar mutio agitados e irritados, e sessões de musicoterapia e algumas danças, dentre outras atividades, podem ajudar a cuidar desses quadros.

“A gente pensa de cara em uma alteração de memória, que é o que aparece primeiro, mas a doença envolve diversas alterações, por isso pensar em um tratamento não só medicamentoso, mas envolvendo vários profissionais, interdisciplinar, com psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, médico, gerontólogo, terapeuta ocupacional”, afirmou o médico.

No caso de Floripes, que convive com a doença há 10 anos, a família contou que a medicação dada no começo já não surte efeito e as sessões de fisioterapia foram interrompidas porque não há mais compreensão de comandos.

“Hoje ela está em um estágio avançado, em que não segura mais o xixi e o cocô, está igual uma criança de dois anos, que você tem que levar a cada meia hora ao banheiro, sentar no vaso, ficar distraindo, o cérebro já não está coordenando”, relatou Janete.

“O que ela toma é um calmante porque o Alzheimer deixa a pessoa muito ansiosa, ela não reconhece nada o tempo todo, então ela meio que entra em pânico”, explicou.

A professora contou que a mãe gosta de música e gostaria que ela fizesse sessões de musicoterapia, mas não encontrou o serviço no Sistema Único de Saúde (SUS). Veja abaixo as opções oferecidas nas três maiores cidades da região.

“O que o governo oferece é a medicação. Quanto às medidas não farmacológicas, alguns centros têm uma coisa ou outra”, comentou o médico. “A gente tem algumas políticas públicas relacionadas com o idoso, mas a gente não tem políticas públicas relacionadas diretamente à doença de Alzheimer ou à demência”.

‘Volta a ser criança’

Além das mudanças que a doença provoca no paciente, também há o impacto na família e a sobrecarga dos cuidadores. O estresse prolongado daqueles que cuidam do doente pode levar a transtornos de ansiedade e depressão.

“O adulto, sua mãe, que sempre foi sua referência, volta a ser criança, só que uma criança grande, então você tem que trabalhar bem o psicológico para não se chocar, você tem que estar bem para não se irritar, não ficar nervosa, não entrar em depressão, não ficar triste. Você tem que levar muitas coisas pelo lado natural, faz parte da vida, essa doença faz parte da genética dela”, disse Janete.

“A gente tem que entender a doença e tratar dando a melhor qualidade de vida possível, muito amor e carinho, como se estivesse dando para um filho. Você inverte o papel. O amor e o carinho que você recebeu agora você tem a oportunidade de dar”.

A professora contou que tenta levar a situação com humor e acredita que o fato de ter cuidado do pai doente ajudou a prepará-la para assistir a mãe. Mas nem por isso é fácil.

“Uma coisa muito difícil é quando ela olha e não reconhece você como filha. Ela olha para você com aquele olhar estranho, aí você tem que acalmar, explicar, abraçar, beijar. Isso é difícil, confesso que me toca lá no fundo”.

Mesmo assim, ela diz não temer a doença. “Depois que eu tive câncer de mama não tenho medo de mais nada. Mesmo porque, se eu tiver Alzheimer, não vou lembrar de nada e eu percebo que minha mãe é muito feliz. Ela não viveu a tristeza do meu câncer, a tristeza de uma briga judicial de família, então eu percebo que, se a pessoa não tem memória ela acaba sendo um pouco mais feliz”.

Serviços

Em Araraquara, o atendimento psicológico voltado às pessoas com Alzheimer ocorre no Centro de Referência do Idoso "José Quitério" (Cria), localizado na Rua Itália, 1009, no bairro do Carmo.

O ambulatório conta com médicos geriatras, fisioterapeutas, psicóloga, fonoaudióloga e assistente social e, além de consultas, oferece hidroterapia e atividades de promoção da autonomia e envelhecimento ativo. Também promove ações de capacitação de cuidadores.

Para se inscrever no serviço, o paciente precisa ser encaminhado pelo médico da unidade básica de saúde mais próxima de sua casa através de Guia de Referência, onde consta o diagnóstico. Mais informações: (16) 3322-2807.

Em Rio Claro, os pacientes com Alzheimer são atendidos pelos neurologistas da rede municipal de saúde e o SUS não oferece atividades complementares. Há, porém, um programa direcionado a essas pessoas no Departamento de Educação Física da Unesp. Mais informações pela internet.

A prefeitura de São Carlos não informou quais os serviços oferecidos pela rede municipal na cidade. Há, na UFSCar, atividades desenvolvidas junto aos cuidadores, como o grupo de danças circulares da fisioterapeuta Julimara Gomes dos Santos, e oficinas para os pacientes. Mais informações: (16) 3351-8645.

Por Stefhanie Piovezan, - G1. São Carlos e Araraquara
Assine nosso Feed RSS
Últimas Notícias Gerais - Clique Aqui
As últimas | Saúde e Ciência
20/09/2018 | Campanha contra sarampo e poliomielite segue na região
19/09/2018 | É melhor dormir com ou sem meias?
19/09/2018 | Forma de andar mostra os vícios de postura
As mais lidas de Saúde e Ciência
Relação não gerada ainda
As mais lidas no Geral
Relação não gerada ainda
Mauá Virtual
O Guia Virtual da Cidade

Todos os direitos reservados - 2024 - Desde 2003 à 7719 dias no ar.