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DATA DA PUBLICAÇÃO 27/04/2009 | Setecidades
Mortes causam medo em bairro de Santo André
Os assassinatos de três rapazes, ocorridos no período de menos de um ano, nas proximidades da Praça João Rosa, no bairro Santa Terezinha, em Santo André, alteraram a rotina do local, antes bastante frequentado por jovens do bairro.

Nos dias subsequentes ao último crime, no dia 6, as ruas ficaram mais desertas, principalmente à noite. A polícia trabalha com duas hipóteses: ação de grupos de extermínio, com a participação de policiais, e acerto de contas entre criminosos.

Enquanto não se esclarece a autoria dos crimes, o clima de medo impera no lugar, sobretudo entre a população mais jovem, alvo das execuções. A maioria dos moradores evita comentar as mortes. Os poucos que aceitam falar, é sob a condição de manter o anonimato.

"Ninguém mais fica parado na praça. Faz uns quatro meses que parei de ir lá. Não posso circular sossegado", contou um rapaz de 18 anos. Segundo ele, a ação dos policiais no bairro é truculenta, com ameaças a alguns jovens. Em uma das vezes, o alvo foi uma das três vítimas. "Disseram: ‘dessa vez não vai dar mesmo, mas na próxima a gente te pega''", conta o jovem.

Para a polícia, no entanto, no bairro funciona um ponto de tráfico de drogas e também concentra grupos de assaltantes. As mortes são atribuídas a desentendimentos entre os criminosos. Os três rapazes mortos possuíam antecedentes criminais. Eles relataram a pessoas próximas sofrerem perseguição de policiais que atuam na área, com torturas, extorsão, ameaças de flagrantes forjados e de morte. No inquérito que apura os casos, na Divisão de Homicídios de Santo André, oficialmente as testemunhas não reconheceram com absoluta certeza os policiais que teriam praticado os crimes, por meio de fotos apresentadas de policiais do 10º Batalhão da Polícia Militar que atuam na área.

Nas três mortes há sinais claros de execução, com tiros que atingiram peito e cabeça das vítimas. Nada foi roubado. Em comum, o fato de os atiradores utilizarem capuz e touca ninja para não serem reconhecidos. Instantes antes das mortes, moradores relataram ter visto carros da polícia circulando pela área e terem chegado ao local do crime logo após os disparos.

Em seguida ao primeiro assassinato, circulou no bairro o boato de que, ao todo, dez pessoas estavam marcadas para morrer.

Primeira morte foi em maio de 2008

As mortes no bairro Santa Terezinha, em Santo André, começaram com o assassinato de Leandro Oslindo Ribeiro de Moura, 21 anos, em 22 de maio de 2008. Ele foi executado a tiros perto da casa da namorada, na Rua Albino da Rocha. O crime aconteceu por volta das 18h de uma quinta-feira, feriado de Corpus Christi.

Segundo uma testemunha, havia uma festa no bairro, na Praça João Rosa, e várias pessoas estavam nas ruas. O assassino é descrito como um homem branco, que usava capuz e uma touca ninja para não ser reconhecido.

"Primeiro atirou nas pernas dele. Ele não aguentou correr, encostou em um carro e tomou um tiro nas costas. Caiu e o cara deu mais um tiro na cabeça", explica a testemunha. Um amigo da vítima teria sido poupado pelo atirador.

Logo após os disparos, viaturas da polícia aparecem rapidamente, recolhem o corpo de Leandro e vão embora. No inquérito policial que apura o caso, testemunhas disseram ter ouvido os policiais militares dizerem: ‘esse aí é verme''. A vítima é levada ao Hospital Bartira, mas já chega morta.

Vingança - Na adolescência, aos 16 anos, Leandro havia sido detido por dois anos e meio na Fundação Casa (antiga Febem) por participar de assalto a um supermercado, em São Paulo, no qual um policial militar foi morto.

A morte é atribuída ao rapaz. Durante uma blitz no bairro Santa Terezinha, ele teria sido identificado por um policial. A partir daí, começou a ser ameaçado, segundo a mãe de Leandro, Pascoalina Cristina Ribeiro de Moura.

Tem início então um histórico de perseguição e agressões, conta a mãe. Em uma das vezes ele relatou ter sido obrigado a apagar cigarros com a sola dos pés.

A família resolveu denunciar o caso à Corregedoria da Polícia, mas a morte de Leandro ocorreu um dia antes da data marcada para o depoimento. "Eu me arrependo de não ter denunciado antes", lamenta Pascoalina.

Após a morte do filho, ela começou a investigar por conta própria. Embora tenha ouvido fortes boatos de que o crime fora praticado por policiais, ela custou a acreditar nessa versão. "Entrei em favela, fui em tudo quanto é lugar para tentar descobrir se ele estava envolvido em alguma coisa errada", recorda Pascoalina.

Para ela, a única explicação para a motivação do crime é vingança. "Já houve testemunha que reconheceu o policial, mas ninguém está preso. Como é policial, demora. Nenhum caso foi resolvido", reclama.

Emprego - Depois de sair da Fundação Casa, Leandro pediu à mãe para se mudar do bairro. Queria vida nova, segundo ela. A família foi morar em outra cidade do Grande ABC, mas o rapaz costumava sempre ir ao bairro de Santa Terezinha para visitar a avó paterna e a namorada.

Na época do crime ele trabalhava em uma serralheria, em São Bernardo. "Para mim foi uma surpresa (a morte de Leandro). Ele era tranquilo, trabalhador, esforçado e disposto a aprender", conta Rafael Leandro de Almeida Moura, ex-patrão do rapaz.

Por Deh Oliveira - Diário do Grande ABC / Foto: Heloisa Ballarini
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