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DATA DA PUBLICAÇÃO 16/11/2017 | Cidade
Moradores aguardam remediação de solo
Moradores aguardam remediação de solo Exposta a riscos, população de áreas contaminadas segue à espera de melhorias estruturais. Foto: Celso Luiz/DGABC
Exposta a riscos, população de áreas contaminadas segue à espera de melhorias estruturais. Foto: Celso Luiz/DGABC
Embora haja ameaça escondida no solo de terrenos infectados por diversos materiais, desde lixo industrial e hospitalar até metais pesados e gases explosivos, milhares de moradias da região continuam erguidas em áreas contaminadas. Sem possibilidade de ''''fuga'''' e à espera da concretização de promessas antigas, seja para remediação dos locais ou instalação de infraestrutura necessária, moradores foram obrigados a se acostumar a conviver com o perigo, fator muitas vezes desconhecido pela comunidade.

O Condomínio Barão de Mauá, no Parque São Vicente, em Mauá, é o caso mais emblemático de solo contaminado da região. Em agosto de 2001, após explosão em caixa-d’água que deixou um morto, descobriu-se que a área onde foram erguidas 11 torres residenciais está infectada por 44 substâncias químicas tóxicas, inclusive gases explosivos. “O medo já foi muito grande. Depois, a gente acaba acostumando. Agora a gente espera que Deus nos ajude e proteja”, ressalta a síndica Tania Regina da Silva, 60 anos.

Se em outras áreas contaminadas impactos à saúde não são evidentes, no Condomínio Barão de Mauá a comunidade aponta exemplos reais do problema. “Teve muito caso de aborto, de mulheres que tiraram o útero e ovários, pessoas com problemas nos rins e nos ossos, porém, nenhum médico atesta que seja por causa da contaminação do solo e da água”, pontua a síndica. “Minha saúde acabou aqui. Tive princípio de infarto, problema nos ossos e de respiração. Meu desejo é sair urgente daqui”, revela.

A remediação do condomínio, onde moram 5.000 pessoas, foi apresentada pelas rés no caso – Cofap, Administradora e Construtora Soma, SQG Empreendimentos e Construções e Paulicoop – e iniciada em 2014. O processo deveria ter sido finalizado em abril de 2016, no entanto, segue de forma morosa e sem novos prazos. Para o autônomo Paulo Henrique Ferreira, 51, o “pior já passou”. “Temos que seguir, não tem o que fazer”, diz. Já Tania ainda teme por novos acidentes. “A gente não sabe se vai acontecer outra explosão, porque ninguém dá garantia de nada. Vivemos na garantia de Deus”, confia.

Na divisa entre São Bernardo e Diadema, o lixão do Alvarenga recebeu, por 29 anos, detritos irregulares. A área foi fechada em 2000, quando a Justiça condenou os municípios a removerem o lixo existente e a restaurarem as condições originais do solo, o que nunca ocorreu. Apesar do cenário problemático, moradores da área não demonstram preocupação. “Moro aqui desde 1996 e nunca vi ninguém sendo internado, ou que tenha ficado doente por causa disso. Se houvesse contaminação, a própria natureza não estava aqui”, acredita o mecânico e funileiro Ismael José Ferreira, 62 anos.

Recém-chegado ao local, há apenas dois meses, o lavrador aposentado Amilton João dos Santos, 46, também não tem receio. “Minha irmã vive por aqui e vim morar perto dela. Se tivesse ouvido falar de algum problema, lógico que não ficaria, mas não ouvi falar de nada. Não tem coisa melhor do que ficar perto da família”, considera.

Reunião traz esperança no Jd.das Oliveiras

Ainda em São Bernardo, o Jardim das Oliveiras foi erguido na década de 1990 em cima de antigo lixão. Por isso, solo e águas subterrâneas do local estão contaminados com metais (entre eles cobre, chumbo, zinco e níquel) e compostos orgânicos. Segundo laudos, há existência de gás em terrenos das ruas Porto Feliz e Leonílio Pereira de Souza. Foram removidas e indenizadas 28 famílias que estavam em ponto com maior índice de gases, no entanto, quem vive nos arredores não se intimida com a situação. “Aqui nunca houve explosão, nem ninguém que contraiu alguma doença relacionada a qualquer substância”, fala a presidente do conselho comunitário Rubia Nunes Machado, 42.

No local, o que angustia os moradores é a falta de infraestrutura, como a ausência de rede de esgoto e pavimentação de ruas, melhorias que só podem ser realizadas após a remediação. “Foram desenvolvidos projetos executivos para instalação de rede de água e esgoto, pavimentação, drenagem e extração de gases, e que, segundo informações, estavam em processo licitatório. Sonhamos com a possível regularização fundiária do Jardim da Oliveiras”, salienta Rubia.

No dia 11 de dezembro será realizada reunião entre o Ministério Público (que acompanha o caso), Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo), Prefeitura de São Bernardo, Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e comissão de moradores para tratar das intervenções no loteamento. “Nosso desejo é que concluam a remediação para virem as melhorias”, destaca o autônomo Eugênio Alves de Oliveira, 47.

Procurada há uma semana para informar como estão os processos de descontaminação das áreas citadas na reportagem, a Cetesb declarou que seria necessário “maior tempo para levantamento das informações” e que “o setor que cuida das áreas contaminadas é extremamente ocupado”, não sabendo quando seria possível um retorno ao Diário.

Exposição a poluentes pode causar doenças

A ausência de preocupação acerca dos riscos para a saúde em moradores que vivem em áreas contaminadas é explicada pela falta de elementos que demonstrem o problema, considera o professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista de São Paulo Carlos Henrique Andrade de Oliveira. “As pessoas não percebem porque não sentem odor. Quando não se tem nenhum indício de que a coisa está acontecendo,elas acham que nada está acontecendo, mas estão expostas a elementos químicos e essa exposição vai fazer com que os poluentes se acumulem no organismo”, observa.

“Boa parte das substâncias que têm metais pesados se acumula no organismo, no sistema nervoso central, e quando começa a apresentar sintomas é tarde demais, porque o organismo já está comprometido. A doença evolui de maneira silenciosa”, explica Oliveira.

O especialista destaca ainda que há componentes químicos que acabam comprometendo o funcionamento de diversos órgãos, como o fígado, e podem ocasionar problemas gastrointestinais – mesmo por inalação. “No caso da decomposição dos resíduos orgânicos, há geração de gás metano, que é altamente impactante. Se exposto por período longo, causa problemas de pele, contaminação do sangue e uma série de doenças.”

No caso de antigos lixões, o professor explica que grande parcela dos resíduos se deteriorou e virou líquido (infiltrando no solo) ou gás (evaporando ao longo do tempo), fato que minimiza situações de maior risco, como explosões. “Se fizer medição da proporção de gases e líquidos vai ver que ano a ano vai reduzindo o volume, mas o impacto à saúde continua, mesmo com menos poluentes sendo emitidos”, alerta o especialista.

Oliveira ressalta também que, no Brasil, a descontaminação do solo é processo complexo, caro e demorado, e que apresenta baixo índice de eficácia. Por isso, a retirada de pessoas desses locais deve ser prioridade.

Por Vanessa de Oliveira - Diário do Grande ABC
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