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DATA DA PUBLICAÇÃO 25/07/2010 | Educação
Monumentos de SP deveriam ser encarados como escola a céu aberto
A cidade de São Paulo teve grande harmonia visual até o final do século 19, quando o Jardim da Luz passou a ser uma referência, desbancado depois pelo Trianon na avenida Paulista (1892).

O grande monumento, então, era o edifício do atual Museu Paulista, conhecido como Museu do Ipiranga (1885-92), e a cidade passou a se apresentar como civilizada a partir das obras no Pátio do Colégio, onde ficava o palácio do Governo.

Os construtores italianos acrescentaram o Teatro Municipal (1903-11) e, na década posterior, a cidade se embelezou para o centenário da Independência.

Ao redor daquele edifício-monumento foi acrescido o Monumento à Independência, e ao redor do teatro, no vale do Anhangabaú, as esculturas em homenagem a Carlos Gomes. Os escultores eram, em geral, italianos e havia uma fundição no Liceu de Artes e Ofícios, que disseminou pela cidade belas esculturas e monumentos.

A cidade foi repaginada com a abertura de grandes avenidas, praças como a Buenos Aires e os jardins da City em direção ao rio Pinheiros. O grande último parque que recebeu esculturas e o Monumento às Bandeiras (1922-53), de Victor Brecheret, e o Obelisco (1950-70), de Galileo Emendabile, foi o Ibirapuera.

Fechado este ciclo, de escultores italianos que cederam espaço para os modernistas, completava-se a homenagem que o povo paulista promovera aos seus bandeirantes, índios, padres jesuítas e às figuras do império: José Bonifácio, Duque de Caxias e Carlos Gomes.

Um monumento celebra um fato ou personalidade representativos. A cidade demorou para olhar e homenagear seus imigrantes e migrantes.

Foram surgindo, então, monumentos, como Semeador (1940), deslocado do Parque Dom Pedro 2º para o Ceagesp, literatos e músicos de outras nações, como Camões, Quevedo, Petrarca, Verdi, sempre obras figurativas com ares didáticos.

As homenagens aos poetas e personalidades brasileiras povoaram as praças com pequenos bustos.

Abstratas

A ditadura interrompeu este ciclo, e os monumentos foram substituídos por esculturas abstratas, não mais estátuas. Esta tendência internacional não foi absorvida pela população. Assim, há quem diga que não vê nada na praça da Sé (1979), onde há apenas obras tridimensionais.

Ao antigo costume de se inaugurar solenemente monumentos, para o que acorriam multidões, seguiu-se a ignorância em relação às novas esculturas e um esquecimento daqueles que homenageavam fatos grandiosos da história de uma nação. Nos anos 80, as praças foram cercadas para melhor conservação das obras.

Hoje, há um impasse. Educar o olhar do cidadão e relembrar fatos memoráveis, ou abandonar e até remover estas obras de arte que, cada vez, mais se tornam apenas um ponto de interesse para grupos diferenciados?

Os olhares afetuosos que se voltam para a Mãe Preta (1955), no largo do Paissandu, e Borba Gato (1962), em Santo Amaro, ambos de Júlio Guerra, podem não ter a mesma compreensão étnica, histórica e mesmo artística.

A diversidade de monumentos nesta cidade, marcada pela velocidade de olhares, mudanças de paisagem, chegada de novos povos (sul-americanos), deveria ser encarada pelas autoridades como uma escola pública, a céu aberto, uma leitura constante a ser compreendida pela população.

Os projetos de conservação de tais obras passaram por vários momentos. A adoção de uma obra por uma empresa para sua conservação e restauro é talvez o mais antigo, data de 1994, mas precisa apresentar resultados.

Fora dos espaços mencionados, parques do Ipiranga, Anhangabaú e Ibirapuera, o descaso com as obras é preocupante. O largo do Arouche é exemplo: distribuição indistinta de pequenos bustos por todos os cantos (dez homenageados).

Não distante, na praça Júlio Mesquita, a Fonte Monumental (1923), da campineira Nicolina Couto, único monumento em estilo art nouveau, depredado, sem água, mas que espera-se que, com o restauro, sirva para a educação da preservação dos monumentos para a população.



Na praça da Sé, mesmo com as reformas das passarelas para se passar da catedral para o Carmo, é temerário conviver com os moradores da praça, que destruíram a Nuvem sobre a Cidade (1979) de Nicolas Vlavianos.

A aproximação para se apreciar alguns monumentos, ou mesmo fotografá-los (eu os fotografei durante mais de um ano para meu livro "São Paulo: Artes e Etnias", pode ser perigosa.

Há "donos" em alguns deles, como no Amizade Sírio-Libanesa (1922) na rua 25 de Março, de Ettore Ximenes, o mesmo do Monumento à Independência.

O maior desprezo é pelo Monumento aos Fundadores de São Paulo, ao lado da Assembleia, na rua Manoel da Nóbrega, encoberto por árvores e cujos baixos relevos em bronze foram furtados.

PERCIVAL TIRAPELI é professor titular de história da arte brasileira na Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Por Percival Tirapeli - Especial para a Folha
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