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DATA DA PUBLICAÇÃO 13/01/2015 | Economia
Montadora abala família com apenas um telegrama
Montadora abala família com apenas um telegrama Foto: Orlando Filho/DGABC
Foto: Orlando Filho/DGABC
Como todos os colegas de trabalho, o inspetor de qualidade Alexandre Rodolfo Lima, 42 anos, estava preocupado com os rumores do chão de fábrica. O principal assunto entre os funcionários da unidade Anchieta da Volkswagen, em São Bernardo, era sobre a intenção que a montadora tinha de demitir grande número de empregados. Mas as conversas ficaram apenas em suposições e, passados Natal e Ano-Novo, Lima estava confiante de que nada de ruim aconteceria, tendo em vista que atuava na companhia há 19 anos.

No dia 5 de janeiro, ele estava se preparando para voltar ao trabalho no dia seguinte, ansioso para reencontrar os colegas e contar as histórias dos dias de folga. Porém, no início da noite de segunda-feira, um telegrama da Volks chegou em sua casa. “Antes mesmo de abrir eu já tremi”, recordou o inspetor. Ele chamou sua mulher, os filhos se aproximaram, e ele abriu o documento. “Nós ficamos lendo e relendo, decifrando bem o que estava escrito ali. Fiquei paralisado”, lembrou Lima. “Minha mulher, de início, ficou muito assustada. Logo em seguida, que entendemos o que significava, ela começou a chorar muito. Meus filhos ficaram assustados, sem entender muito bem o que estava acontecendo.”

Lima é um dois 800 funcionários que a Volks demitiu. A empresa enviou telegrama para cada um informando que eles não precisariam voltar aos seus postos de trabalho no dia 6. O direcionamento do documento era para que eles seguissem a uma das salas da companhia, porém, não descrevia o motivo exato. Mas o objetivo da empresa ficou claro para todos do grupo, a demissão. Por isso, Lima participou ontem da caminhada, promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, pela Rodovia Anchieta. Levou sua mulher e dois filhos, que gritavam pela manutenção do emprego do pai no meio da via, junto a 20 mil trabalhadores da Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford, Scania e Karmann Guia, segundo informações do sindicato.

A mobilização tinha como objetivo principal a revogação da demissão dos 800 operários da Volks. Por enquanto, as dispensas são apenas intenção da fábrica, pois o sindicato orientou que nenhum deles assinasse nada e disse que não homologará as dispensas. Diante disso, a Volks prorrogou a oficialização dos cortes por um mês, ao conceder licença remunerada a eles. Há um acordo coletivo entre entidade e montadora que prevê a estabilidade de emprego até o fim de 2016. “A Volks vai alegar que não está rompendo o acordo porque tem uma cláusula interna que diz que se houver alteração econômica substancial nos negócios da companhia, o acordo teria que ser rediscutido.

Mas ela (empresa) tinha que renunciar ao acordo para depois fazer isso (demitir 800). Neste caso, nós entraríamos na Justiça. A Volks, no entanto, tomou decisão unilateral. É um gesto muito negativo para uma empresa desse porte, no que diz respeito às relações capital e trabalho”, criticou o presidente do sindicato, Rafael Marques.

Em último posicionamento, a montadora destacou que não teria como continuar com o acordo até 2016 devido a problemas no mercado de veículos que influenciaram nos seus resultados. É estimado excedente de 2.100 trabalhadores da fábrica de São Bernardo. Segundo a companhia, a adequação do efetivo foi necessária após os trabalhadores rejeitarem proposta de novo acordo no fim do ano passado.

Ex-presidente do sindicato e atual secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Sérgio Nobre também se surpreendeu com a postura da empresa. “Quando você possui acordo de longo prazo e tem mudança de cenário, as partes podem sentar e mudar o acordo. Mas tem que negociar. O problema é tomar a decisão unilateral. Se você descredibiliza o acordo, com que autoridade vai construir outros para o futuro? Então o instrumento de negociação e o acordo são sagrados na relação capital e trabalho. Quebrar o acordo com certeza não é da tradição alemã (origem da Volks). Se fosse na Alemanha, com certeza isso não teria acontecido.”

Lima estava confiante de que a montadora cancelaria ontem mesmo as dispensas. Principalmente por causa da manifestação, que contou com, aproximadamente, 20 mil participantes, segundo o sindicato. “Mas só acredito nisso quando a Volks disser, oficialmente, que não terá demissões”, pontuou o inspetor.

PROMESSAS - Ontem, até o fim do dia, porém, a montadora não havia entrado em contato com a entidade. Além do sindicato, vários representantes das Câmaras de Santo André, São Bernardo e Mauá acompanharam a passeata. O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, que fez questão de caminhar junto aos trabalhadores, subiu no caminhão de som, no fim da passeata, e prometeu aos presentes que vai entrar em contato com a Volks para tentar reabrir a negociação com o sindicato.

Mais cedo, por volta das 7h30, ainda dentro do estacionamento da fabricante, o superintendente para o Estado de São Paulo do Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Antônio de Medeiros Neto, garantiu que intermediará a negociação. Disse, sobre o carro de som, que agendou audiência para amanhã, com a presença do ministro do Trabalho, Manoel Dias, entre a montadora e a diretoria do sindicato. “Nós vamos intermediar. Mas posso garantir que estamos do lado dos trabalhadores”, gritou, ao microfone.

Sindicato dos metalúrgicos envia pautas para governos federal e estadual

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC enviará duas pautas, uma para o governo federal e outra para o governo do Estado, com reivindicações para a melhoria do emprego no Brasil e melhores condições para a indústria automotiva. Os pontos foram aprovados pelos trabalhadores presentes na passeata, ontem, em frente ao Cenforpe (Centro de Formação dos Profissionais de Educação), na altura do km 21 da Rodovia Anchieta, em São Bernardo.

As pautas completaram o objetivo da mobilização, que era protestar contra as 800 demissões na Volkswagen. Participaram do ato empregados da montadora, da Mercedes-Benz, Ford, Karmann Guia, Scania, além de estudantes e representantes de centrais sindicais.

O ato teve dois pontos de partida, no km 23 da Anchieta, na fábrica da Volks, e no km 16, onde se encontraram os funcionários da Ford e da Mercedes. Ontem, durante o dia todo, os trabalhadores cruzaram os braços. Hoje, segundo o presidente do sindicato, Rafael Marques, a Ford chamou a entidade para conversar.

Para o governo federal, a pauta prevê três pedidos. O primeiro é a instituição no País de sistema nacional de proteção ao emprego. “Em momento de crise, (os trabalhadores teriam) redução de jornada, sem redução de salário, onde o salário é custeado por um fundo a ser criado na esfera federal. Assim, manter os trabalhadores por 12 meses empregados em momentos de dificuldade”, explicou Marques.

Contempla também o documento a solicitação para que o Executivo federal exija, neste ano, a renovação da frota de caminhões, que seria uma maneira de aumentar a demanda deste tipo de veículo. Por fim, a instituição de política de aceleração ao crédito no País. “Os bancos têm jogado profundamente contra o nosso País”, criticou Marques.

Para o governo do Estado, Marques colocou em votação sete pedidos, dentre eles política de combate à guerra fiscal, criação de câmara de política industrial regida por empresas, trabalhadores e governo, e de conselho de mediação de conflitos. “Assim nós teremos mesa de negociação alternativa quando uma empresa, como a Volks, não quer chamar os trabalhadores para ter conversa decente sobre um conflito como este.”

Contemplam também a pauta a criação de programa de adensamento da cadeia automotiva, como forma de fomento ao setor e também facilitador ao Inovar-Auto, e um código de conduta social para evitar medidas extremas das empresas no que diz respeito, principalmente, ao emprego. O secretário estadual do Trabalho, João Dado, vai levar as questões ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) hoje. (Colaborou Soraia Abreu Pedrozo)

Por Pedro Souza - Diário do Grande ABC
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