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DATA DA PUBLICAÇÃO 05/07/2009 | Educação
MEC propõe inovação no Ensino Médio
Aplicar os conteúdos tradicionais através de quatro áreas amplas de conhecimento e apostar em um currículo interdisciplinar e flexível. As escolas da região Sul poderão ter aulas diferentes da Norte, por exemplo, e aproveitar o potencial das especificidades regionais. O aluno ainda poderá escolher 20% do que quer estudar. O incentivo é para que haja entre o leque de opções, atividades culturais e esportivas.

As medidas fazem parte da proposta do Ensino Médio Inovador, apresentado pelo MEC (Ministério da Educação) e aprovado pelo CNE (Conselho Nacional de Educação) no início da semana. As novidades incluem o aumento da carga horária - o estudante passará a ficar uma hora a mais na escola - e atividades centradas na leitura.

Para funcionar, o Ensino Médio Inovador precisa ganhar a simpatia dos Estados, que têm autonomia para aderir ou não à novidade. Além de apoio técnico, o MEC promete aporte financeiro que será anunciado a partir da demanda dos Estados.

A proposta não veio à toa. Indicadores mostram que o Ensino Médio é uma das pedras no sapato do ministro Fernando Haddad, titular da Pasta. O resultado do último Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em abril, apontou que entre as 20 melhores notas do Grande ABC, 17 são de escolas particulares e três de Ensino Técnico - sem vínculo com a Secretaria da Educação. As taxas de reprovação do Ensino Médio na região, do ano de 2005, em seis das sete cidades (a exceção é em Santo André) estão acima da média do Estado (9,1%).

Segundo o Conselho Nacional, 1,6% dos brasileiros com idade entre 15 e 17 anos são analfabetos, 17,9% não frequentam a escola.

"Nossa perspectiva é que os Estados façam a adesão para que o Brasil tenha um Ensino Médio com mais significado. Queremos diminuir a evasão e ter uma política mais contínua", explica Carlos Artexes Simões, coordenador-geral do Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do MEC.

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo ainda não tem uma definição sobre a proposta, porque a considera embrionária e não indicou ninguém para comentar o assunto.

A perspectiva do MEC é conseguir pactuar e firmar parcerias com os Estados nos próximos seis meses, para que a partir do próximo ano haja o incentivo financeiro e a implantação do novo currículo. "O projeto deve ser começado em cerca de 100 escolas, queremos valorizar as que mais precisam, mas não vai ser uma decisão de cima para baixo. O MEC quer dialogar com os Estados."

Proposta é difícil de colocar em prática

O grande questionamento dos educadores ouvidos pelo Diário é se as mudanças curriculares propostas pelo MEC no Ensino Médio seriam praticáveis.

"O papel aceita tudo. Agora, o que for escrito e proposto será cumprido? O governo tem de criar comitês, grupos de trahalho e formas de acompanhamento. Nosso maior problema é a operacionalização das políticas públicas", afirma a professora Maria Márcia Sigrist Malavasi da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade de Campinas). Para ela, favorável às mudanças, outro fato deve ser levado em conta: a superação do modelo anterior requer o novo professor. "Precisamos ter garantia que ele seja formado para atender o currículo inovador."

A execução da teoria também inquieta o professor do curso de pós-graduação em Educação da Universidade de Sorocaba, Celso João Ferretti. "Acho a proposta interessante do ponto de partida teórico, mas vamos ver como vai acontecer na prática. A ideia da formação mais integral do sujeito é um ganho."

Para Ferreti, o Ensino Médio tem de estar menos relacionado ao foco profissional, o que proporciona uma formação mais ampla e possibilita caminhos diferentes.

Para o sociólogo e presidente do Instituto Henfil, Mateus Prado, a ideia de substituir a educação baseada em decoreba de fórmulas visando a cidadania, é um avanço. "A educação por contéudo tem tido algum sucesso. É hora de abandonar a educação bancária, aquela que deposita conhecimento nos alunos, onde os professores falam e eles, enfileirados, ouvem." Prado lembra que além do novo professor, o currículo vai exigir a revolução dos livros didáticos.

Sem suporte - Aluna do 2º ano do Ensino Médio na EE Américo Brasiliense, em Santo André, Nathalya Pitsch de Souza, 17 anos, diz achar interessante a proposta de integrar as disciplinas e tornar o ensino "mais apetitoso." "A escola não oferece suporte para o professor dar uma aula estimulante. Depois que o governo instituiu as apostilas, as aulas ficaram massacrantes. Sinto que muitos professores têm vontade de ter outro ritmo de aula."

Mesmo no 2º ano, Nathalya faz cursinho pré-vestibular para "cobrir a desafasagem do ensino público", prestará Enem e o vestibular da Fuvest como treineira. A jovem quer estudar Direito em universidade federal.

Sindicato dos professores da rede pública é contrário

A Apeoesp (sindicato dos professores da rede pública) é contra a adoção do novo currículo para o Ensino Médio.

O coordenador da subsede Diadema, Ivanci Vieira, acredita que o MEC terá resistência dos Estados. "Pode haver demissões porque as matérias vão diminuir, além disso os professores terão de ser polivalentes. Os docentes sabem que a reforma não melhora o Ensino Médio, e sim, economiza dinheiro. Esta proposta já foi feita em anos anteriores, mas não vingou em São Paulo."

Vieira concorda que o Ensino Médio necessite de reformulação para melhorar a qualidade e arrisca sua proposta. "Diminuir o número de alunos por sala de aula, pagar um salário digno ao professor e dar condições para que ele se mantenha em uma só escola."

Quem vive o dia a dia da sala de aula também acha que a inovação é inviável. Caso de Jefferson (nome fictício), 38 anos, que leciona Química e está há 13 anos na rede de ensino pública de Santo André. "A mudança vai levar a uma simplificação e rebaixamento dos conteúdos. Se já está difícil para o professor trabalhar com sua própria matéria, ficaria pior. Não temos tempo de preparar aulas mais interligadas."

Para ele, aplicar as disciplinas por meio de áreas de conhecimento vai dificultar o aprendizado dos estudantes. "Somos a favor da interdisciplinaridade, mas ligada a projetos e não desta forma. O governo deveria instituir o quarto ano como ensino profissionalizante, não abrir brechas para inserir matérias focadas ao trabalho nos meio das outras."

Associação das escolas particulares é favorável

Para o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares e vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo, José de Augusto de Mattos Lourenço, o Ensino Médio Inovador será excelente para os estudantes. "Teria de haver esta mudança principalmente para que o aluno fosse melhor preparado à universidade."

À medida que os Estados firmem as parcerias e transformem as escolas públicas, Lourenço acredita que haverá uma mudança automática da rede particular de ensino. "Mas vejo como algo positivo e esperamos aumentar a frequência do Ensino Médio. Além disso, o próprio Enem funcionará baseado nestas mudanças."

Diretor de cursos regulares do Colégio Singular, em Santo André, Egidio Blumetti, não encara a proposta como inovadora. "As particulares já têm este formato. O fato é que ele exige boa coordenação, treinamento de professores e capacitação contínua, e sabemos que a escola pública tem essas dificuldades. Precisaria haver mais condições de trabalho ao professor, além de fiscalização."

O especialista explica que o próprio Singular adota um projeto pedagógico em que as disciplinas "conversam entre si." "A Química com a Biologia, a Biologia com a Física, assim por diante. Os mesmos textos aparecem em provas de diferentes matérias, mas claro, com enfoques diversos." Ele lembra que a interdisciplinaridade dos conteúdos escolares está prevista pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) desde 1996. "Parece fato novo, mas não é. Penso que a mudança veio propositalmente em período pré-eleitoral."

Por Vanessa Fajardo - Diário do Grande ABC
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