DATA DA PUBLICAÇÃO 28/11/2008 | Setecidades
Maus-tratos contra crianças e adolescentes crescem no ABC
O número de crianças vítimas de violência doméstica no Grande ABC cresceu 11% em 2008, segundo dados do Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância). No período de janeiro a outubro deste ano, o centro, que abrange os municípios de Santo André, São Bernardo e Diadema, atendeu 203 famílias, ante os 182 atendimentos registrados em igual período de 2007.
A unidade de São Bernardo recebeu, sozinha, 15 novos casos até a metade do mês de novembro, cerca de cinco a mais que a média mensal. "Estamos chocados. Para dar conta da demanda, tivemos de criar mais um grupo de acolhimento", revela a coordenadora da unidade, Maria Rosangela da Silva.
Nos últimos meses, a região foi palco de dois episódios de repercussão nacional de maus-tratos cometidos a adolescentes. O assassinato dos irmãos João Vitor e Igor Giovanni, de 13 e 12 anos, esquartejados em Ribeirão Pires, e o caso de uma garota de 13 anos que matou a madrasta, em Paranapiacaba, sob a alegação de que era agredida por ela contribuíram para que os moradores das sete cidades ficassem mais vigilantes.
"As pessoas ouvem e sabem disso todos os dias, então não dá para ignorar a situação. Mas tem que acontecer algo de grande exploração por parte de mídia para que as pessoas se mobilizem", endossa a coordenadora técnica do Crami, Lígia Vezzaro Caravieri.
Para a conselheira tutelar de Santo André Maria do Socorro da Luz Souza, muitas vezes a denúncia não é concretizada devido ao desconhecimento do trabalho do Conselho por parte da população. "É uma questão de conscientização. O Conselho Tutelar não quer saber do seu problema, mas trabalhar em cima da situação das nossas crianças e adolescentes", observou.
Prova disso é o fato de o número de denúncias ser substancialmente maior em bairros da periferia, onde a atuação do Conselho também é mais abrangente. Nos bairros pobres, as crianças costumam ser atendidas em pronto-socorros, que, por sua vez, têm de comunicar ao órgão os casos de agressão. Além disso, de acordo com Maria do Socorro, são estabelecidas mais parcerias com diretores de escolas e agentes de saúde.
Em contrapartida, a suposta privacidade proporcionada por residências nobres, com forte esquema de segurança, acaba por encobrir a situação. "As pessoas não sabem o que se passa na casa do vizinho. Lá, a violência é velada", revela.
Ranking - A violência física encabeça a lista das agressões cometidas a crianças e adolescentes na região, ainda de acordo com levantamento do Crami. Somente nos dez primeiros meses do ano, 98 denúncias foram registradas nas três unidades da instituição. Em seguida, está o abuso sexual (63), violência psicológica (15) e negligência (10) — neste último, 100% dos registros têm a mãe como protagonista.
Quando a mãe deixa de levar seu filho para receber atendimento médico ou não matricula a criança na escola, ela está sendo negligente. Para Lígia Vezzaro Caravieri, porém, o julgamento do fato requer cautela. "Embora as estatísticas apontem para a mãe, muitas vezes ela é chefe de família e existe uma negligência anterior por parte do pai, que nem mesmo registrou e assumiu seus filhos", observa.
Joan Crawford, ganhadora de um Oscar de melhor atriz em Holywood, protagonizou um dos casos mais famosos de negligência do mundo. A história veio à tona em 1975, quando a filha adotiva da artista publicou uma biografia não-autorizada dela, intitulada "Mamãezinha Querida", nome pelo qual ela gostava de ser chamada pelos filhos. Anos depois, o comportamento tirânico de Crawford com as crianças ganhou as telas do cinema.
A unidade de São Bernardo recebeu, sozinha, 15 novos casos até a metade do mês de novembro, cerca de cinco a mais que a média mensal. "Estamos chocados. Para dar conta da demanda, tivemos de criar mais um grupo de acolhimento", revela a coordenadora da unidade, Maria Rosangela da Silva.
Nos últimos meses, a região foi palco de dois episódios de repercussão nacional de maus-tratos cometidos a adolescentes. O assassinato dos irmãos João Vitor e Igor Giovanni, de 13 e 12 anos, esquartejados em Ribeirão Pires, e o caso de uma garota de 13 anos que matou a madrasta, em Paranapiacaba, sob a alegação de que era agredida por ela contribuíram para que os moradores das sete cidades ficassem mais vigilantes.
"As pessoas ouvem e sabem disso todos os dias, então não dá para ignorar a situação. Mas tem que acontecer algo de grande exploração por parte de mídia para que as pessoas se mobilizem", endossa a coordenadora técnica do Crami, Lígia Vezzaro Caravieri.
Para a conselheira tutelar de Santo André Maria do Socorro da Luz Souza, muitas vezes a denúncia não é concretizada devido ao desconhecimento do trabalho do Conselho por parte da população. "É uma questão de conscientização. O Conselho Tutelar não quer saber do seu problema, mas trabalhar em cima da situação das nossas crianças e adolescentes", observou.
Prova disso é o fato de o número de denúncias ser substancialmente maior em bairros da periferia, onde a atuação do Conselho também é mais abrangente. Nos bairros pobres, as crianças costumam ser atendidas em pronto-socorros, que, por sua vez, têm de comunicar ao órgão os casos de agressão. Além disso, de acordo com Maria do Socorro, são estabelecidas mais parcerias com diretores de escolas e agentes de saúde.
Em contrapartida, a suposta privacidade proporcionada por residências nobres, com forte esquema de segurança, acaba por encobrir a situação. "As pessoas não sabem o que se passa na casa do vizinho. Lá, a violência é velada", revela.
Ranking - A violência física encabeça a lista das agressões cometidas a crianças e adolescentes na região, ainda de acordo com levantamento do Crami. Somente nos dez primeiros meses do ano, 98 denúncias foram registradas nas três unidades da instituição. Em seguida, está o abuso sexual (63), violência psicológica (15) e negligência (10) — neste último, 100% dos registros têm a mãe como protagonista.
Quando a mãe deixa de levar seu filho para receber atendimento médico ou não matricula a criança na escola, ela está sendo negligente. Para Lígia Vezzaro Caravieri, porém, o julgamento do fato requer cautela. "Embora as estatísticas apontem para a mãe, muitas vezes ela é chefe de família e existe uma negligência anterior por parte do pai, que nem mesmo registrou e assumiu seus filhos", observa.
Joan Crawford, ganhadora de um Oscar de melhor atriz em Holywood, protagonizou um dos casos mais famosos de negligência do mundo. A história veio à tona em 1975, quando a filha adotiva da artista publicou uma biografia não-autorizada dela, intitulada "Mamãezinha Querida", nome pelo qual ela gostava de ser chamada pelos filhos. Anos depois, o comportamento tirânico de Crawford com as crianças ganhou as telas do cinema.
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