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DATA DA PUBLICAÇÃO 30/10/2009 | Turismo
Marinheiro de Primeira Viagem
A frase "Navegar é Preciso, Viver não é Preciso", imortalizada nos versos do poeta português Fernando Pessoa, não soa muito animadora para quem nasceu sob o céu cinzento e o concreto armado dos arranha-céus de São Paulo, aspirando o cheiro da fumaça que sai dos escapamentos dos carros - bônus de um destino que só posso definir como castigo.

Aquela velha sensação de ficar mareado - que todo mundo já sentiu alguma vez na vida - a ideia claustrofóbica de ficar preso em uma cabine e o medo ancestral do que chamo "efeito Titanic" foram as primeiras imagens que vieram à minha mente no momento do embarque. Mas estou me adiantando, voltemos ao começo.

Fui incumbido da árdua tarefa de experimentar os serviços da Ibero Cruzeiros pelo Mediterrâneo, em uma rota que começava em Atenas, seguia por Heraklion, Alexandria, Rhodes, Esmirna e Istambul. A empresa passa a operar em novembro em águas brasileiras com três de seus navios de médio porte. Traz na bagagem alguns milhares de milhas náuticas pelos portos mais charmosos do Mediterrâneo e alguns milhões de passageiros deslumbrados por um serviço de qualidade internacional em gastronomia e atendimento.

Tudo isso eu já sabia antes do embarque. O medo, porém, é caprichoso e não cede fácil à razão. Embarque em Pireus, Grécia. Navio: Grand Mistral. Primeira impressão? Esqueçam tudo que eu já disse ou escrevi antes sobre navios e cruzeiros (se é que escrevi algo). Um hotel de categoria não recepcionaria melhor seus convidados!

Decoração caprichada, luxuosa, mas sem excessos. Fomos encaminhados às nossas cabines. Confortáveis e corretas. Grandes o suficiente para não nos sentirmos enlatados. Não, na verdade grandes o suficiente para nos sentirmos especiais, já que até sacada tinha. A claustrofobia, pelo menos, estava resolvida.

Subi para a ponte para ver a partida. O céu azul se confundia no horizonte com o mar da região. Este, é azul-escuro. Final de tarde de outono. Nem calor nem frio. O navio apita alto e inicia a manobra para deixar o porto. Tudo muito bonito. É dia 29 de setembro.

Comer, comer - O primeira refeição é a prova dos nove. Será que vou comer e passar mal? Será que vou pelo menos comer? Ou terei que fazer pontaria com o garfo para acertar a almôndega rolando em meu prato, de um lado para o outro? Bem, vamos desmistificar de uma vez por todas essa história de que a pessoa cai da cama com o balanço do navio ou que os pratos são pregados à mesa, como nos filmes de piratas. Não foram poucas as vezes que esqueci completamente que estava navegando em mar aberto. Para tristeza de meus detratores não tive enjoo nem tontura. Aliás, ninguém teve. Tudo bem que não peguei nenhuma grande tempestade em alto mar. Os deuses gregos estavam a meu favor! Tivemos (eu e o grupo à mesa) uma refeição digna de qualquer restaurante cinco estrelas. Aliás, gastronomia é um capitulo à parte nesta viagem. Os sabores mudavam a cada parada, acompanhando a gastronomia local. Bastante exótico!

Dia 30 - Chegada a Heraklion, a capital da Ilha de Creta. É onde fica as ruínas do palácio de Knossos, do lendário Rei Minos, o tal da história do minotauro. Dormi apreensivo. O terceiro medo ainda me preocupava (acordar debaixo d''água). Acordei cedo, tomei meu café da manhã. Mesa farta, para todos os gostos. Fui desvendar o tal labirinto, sempre buscando no horizonte a imagem de Ícaro com suas asas de cera ou o tal fio de Ariadne. Nada! Aliás, nem labirinto. Mas a cidade e o povo da Grécia são muito bonitos.

Nesta noite, tivemos um jantar de gala. Fomos convidados à mesa do capitão. Luxuoso. Menu caprichado, com entrada de carpaccio de salmão com mel, pratos e sobremesas variadas. À mesa, taças com vinhos espanhóis (Rioja), águas e refrigerantes. Irrepreensível. Ninguém passou mal, ninguém ficou insatisfeito e ninguém cantou o hino do seu clube. Foi uma noite digna de nobre inglês.

Próxima parada, Alexandria. Me sinto mais à vontade no navio. Já exploro sem medo os 11 andares recheados de lojas, academias, saunas, spa, bares e cafés. É praticamente uma cidade flutuante, com toda as mordomias (até free-shop tinha). Fui visitar o cassino. Mesas de black-jack, roletas e ocean poker, além de dezenas de caças-níqueis. A bordo, é possível ainda desfrutar do teatro e do night club, onde a noite corre solta enquanto tiver gente acesa. E tinha bastante.

Dia 1º, Alexandria, Egito. Pegamos um ônibus e seguimos para o Cairo. Visitar as pirâmides é uma oportunidade única na vida. E vale a viagem. São monumentais, impressionantes. Dica de viagem: cuidado com a voltinha de camelo. O preço combinado geralmente sofre um ligeiro acréscimo de última hora quando você decidir descer do bicho. Pular de 3 metros de altura também pode não ser uma boa idéia. O passeio pode ficar salgado.

No deck superior do navio, fica a área de lazer. Em uma das tardes livres, fomos visitar as piscinas (duas), com dois bares (um de cada lado do navio). Passei na academia e as pessoas corriam na esteira de frente a enormes janelas dando para o mar. Aquilo sim é exercício para o corpo e para a mente! Uma criança passa correndo por mim com dois amiguinhos no encalço. Ao lado, fica uma sala de jogos para a garotada, com brinquedos e jogos diversos. Elas, certamente, já se sentiam em casa.

No dia seguinte, somos avisados pelo interfone que haverá um exercício de segurança, e que todos devem participar. Fomos levados para o lado externo, onde há uma passarela que segue de um lado a outro do navio e onde ficam os botes salva-vidas. Minhas pernas começam a tremer. Danou-se. Nos ensinaram como colocar o colete, que eu não sabia, mas tem uma luzinha piscando (disseram que era para facilitar o resgate no mar...). Mas realmente era apenas um exercício de salvamento. O navio, garantiu o capitão, possui botes salva-vidas suficientes para todos os passageiros e tripulação, com excedente considerável, além de monitoramento via satélite capaz de encontrar o botão do casaco dele no mar, se fosse necessário.

Nossos destinos finais foram Rhodes, Esmirna e Istambul. Sem os fantasmas anteriores, a viagem tornou-se prazerosa. Todas esses locais mereceriam um capítulo à parte pela sua história e beleza. Em Esmirna, para quem não sabe, ficam as ruínas de Éfeso, e próximo dali, a casa onde Maria, mãe de Jesus, teria se refugiado com o apóstolo João após a crucificação, segundo a tradição cristã. Uma casinha simples, de dois cômodos feitos de pedra, escondida nas montanhas. Muito comovente. Alguns colegas se emocionaram. Eu também. Rhodes é uma cidade de pedra, que lembra muito as cidades medievais que vemos nos livros. O famoso Colosso, uma das sete maravilhas do mundo antigo, não deve ser muito popular por ali, já que não encontramos referências sobre o local onde ficava. Istambul é uma cidade moderna que une características do Oriente e do Ocidente e onde se come muito bem e barato. Talvez uma das cidades mais charmosas da Europa/Ásia.

Reflexões - No meio do nada, em mar aberto, sem referências, temos tempo de parar e olhar a vida passar. No silêncio dos finais de tarde, quando a maioria das pessoas já tinha se recolhido em busca de outros atrativos no navio, quase dava para ouvir o chiado quando o sol tocava o mar no horizonte. Bem, talvez fosse o excesso de vinho ou os comprimidos que tomei para uma insistente gripe que peguei (espanhola ou egípcia, não sei, não pedi seu passaporte). Quem sabe os dois juntos?. Certo é que nós, moradores das grandes cidades, não temos mais tempo ou espaço para o silêncio. E isso é muito triste.

Nossa viagem terminou em uma segunda-feira, quando tomamos um avião de Istambul para Madri, e na terça, de Madri para São Paulo. A viagem de avião foi boa, mas vou confessar: detesto avião. Tenho claustrofobia, medo de ficar preso ao cinto, medo de acidente...

Marcelo Ruiz viajou a convite da Ibero Cruzeiros.

Por Marcelo Ruiz - Diário Online / Enviado ao Mediterrâneo
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