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DATA DA PUBLICAÇÃO 15/02/2008 | Setecidades
Livros da Prefeitura vão para o ferro-velho
Livros do Centro de Formação de Professores Clarice Lispector, da Prefeitura de Santo André, são vendidos para um ferro-velho que destina o material para reciclagem. As publicações, que poderiam ser doadas para bibliotecas, escolas, cursinhos comunitários e outras entidades são vendidas a R$ 0,15 o quilo. A Prefeitura afirmou em nota que não tinha conhecimento e que vai apurar o fato.

O ferro-velho fica na Rua Tirol, no Parque das Nações, a poucos metros do centro da Prefeitura. A reportagem encontrou ontem no local aproximadamente 500 kg de livros, o que corresponde a centenas de unidades.

A maioria das publicações está em bom estado de conservação e poderia figurar em qualquer prateleira. Havia ontem dezenas de livros de literatura em excelente estado, com títulos de leitura obrigatória em diversos vestibulares, como Dom Casmurro, de Machado de Assis, Iracema, de José de Alencar e Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, entre outros.

“Desde dezembro do ano passado uma pessoa da Prefeitura vem aqui e traz os livros. Teve uma vez que fez até cinco viagens com um carrinho. Na semana retrasada, foram cerca de 500 kg, que ainda estão aqui. Já trouxeram até remessas do governo federal”, afirmou ontem um funcionário do ferro-velho, que pediu para não ser identificado.

Além de literatura, foram achados livros de química, biologia, matemática, entre outros, muitos deles destinados para o ensino infanto-juvenil com o logotipo da Prefeitura. Grande parte desses livros era da gestão do prefeito Celso Daniel (entre 1997 e 2000).

De acordo com um funcionário da administração, o dinheiro arrecadado com a venda vai para um funcionário da biblioteca do Centro. “A ordem para vender os livros vem dos superiores”, contou um empregado do ferro-velho. Os 500 kg encontrados ontem renderam R$ 75.

No município existem 14 bibliotecas públicas. Neste mês não há campanha de doação de livros.

Na sede da Prefeitura e do Centro de Formação, atendentes disseram que “doações são bem aceitas” e que as publicações são destinadas para “bibliotecas e outras entidades”. Colaborou Adriana Ferraz

Valor literário das obras é incalculável
Raphael Ramos - Diário do Grande ABC

Se para o suposto funcionário que está vendendo os livros do Centro de Formação de Professores Clarice Lispector o quilo vale apenas R$ 0,15, educadores e professores ouvidos pelo Diário avaliam que obras como Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou Iracema, de, José de Alencar, têm “valores cultural e histórico incalculáveis”.

Publicados no século 19, esses livros são considerados clássicos da literatura nacional. Não à toa figuram há décadas em listas de leitura obrigatória dos vestibulares das principais universidades do País.

“São títulos indispensáveis para a formação de qualquer aluno ou professor. Machado de Assis, por exemplo, se fosse vivo, ganharia facilmente o Prêmio Nobel de Literatura. Ele, com certeza, está na lista dos 100 maiores escritores da história. E não são apenas os brasileiros que falam isso. Ele é reconhecido internacionalmente por sua obra”, afirmou o coordernador pedagógico do cursinho pré-vestibular Singular-Anglo de Santo André, Clayton Ferreira de Figueiredo.

O professor também critica a falta de cuidado e valorização das obras literárias. “Infelizmente o brasileiro não tem memória. E quando tem alguém responsável por cuidar disso acaba não reconhecido. Em qualquer biblioteca, ou até mesmo sebo, esses livros são referências”, disse.

Obra viva
A professora de Pedagogia da Faculdade Anchieta, de São Bernardo, Iara Maria Augusto Costa, destaca que, independentemente do estado dos livros, o conteúdo não é atingido.

“Essas obras poderiam ser recuperadas sob o aspecto estético, com uma nova capa ou reencadernadas. O importante é manter a obra viva. Hoje, os professores enfrentam dificuldade em passar clássicos da literatura para os alunos, pois muitos jovem não têm condições de adquirir os livros”, disse.

Nas livrarias, preço médio é de R$ 15
Raphael Ramos - Diário do Grande ABC

Cada clássico da literatura brasileira que está no ferro-velho do Parque das Nações custa nas livrarias, aproximadamente, R$ 15. Em sebos, esse valor pode cair para menos da metade.

O preço de Dom Casmurro, de Machado de Assis, por exemplo, no site da Livraria Cortez, do bairro Sacadura Cabral, em Santo André, varia de R$ 7,20 a R$ 19,90, dependendo da edição.

Outros títulos comercializados pela internet por livrarias como Siciliano, Saraiva e Cultural estão na faixa entre R$ 14 e R$ 19 como Iracema, de José de Alencar, Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Os preços variam de acordo com o a edição.

“Hoje, muitos jovens acabam optando por pegar resumos desses livros na internet. Mas é estranho imaginar um aluno ou um professor que não tenha lido uma dessas obras durante a sua formação”, disse o coordenador pedagógico do cursinho pré-vestibular Singular-Anglo, de Santo André, Clayton Ferreira de Figueiredo.

Prefeitura vai investigar desvio e venda

A nota divulgada ontem à noite pela Prefeitura sobre a venda de livros do Centro de Formação de Professores para um ferro-velho deixa claro que a administração foi surpreendida pelo escândalo.

A Prefeitura respondeu que “irá apurar os fatos e tomar os encaminhamentos pertinentes, inclusive com punição de eventuais responsáveis.”

A administração informou também que “desde o final do ano passado a instituição vem promovendo uma feira de livros pedagógicos usados e, por conta disso, está recebendo livros doados pelas mais diferentes fontes. Os que não foram trocados acabaram sendo colocados à disposição de professores e entidades diversas”.

Na mesma nota, a Prefeitura assegurou que tentará reaver os livros que estão no ferro-velho.

Ressaltou que “as publicações em questão não fazem parte do patrimônio da biblioteca do Centro de Formação de Professores, que está devidamente tombado e catalogado com código de segurança, com relação de títulos disponibilizada nas escolas da rede”.

Indignação
Pessoas humildes ficaram revoltadas com a comercialização de livros que pertenceriam ao Centro de Formação de Professores.

“Isso é uma vergonha. Tem tanta gente precisando de livro por aí que chega até a doer o coração”, contou um funcionário do ferro-velho, que tem filhos estudantes.

“Alguns livros a gente não enviou para a reciclagem. Eu até guardei e deixei para as minhas crianças lerem. Com certeza vão ser úteis na escola para elas”, contou.

Um funcionário da Prefeitura, ciente dos desvios das publicações, também mostrou-se indignado.

“Se os livros não servem para Santo André, deveriam ser doados para as outras cidades da região. Não faltam bibliotecas, cursinhos e associações de bairro. Em vez disso, tem gente lucrando com a venda no ferro-velho. É lamentável”, desabafou.

Rio Grande
No ano passado, a Prefeitura de Rio Grande da Serra estimulou arrecadação de livros para compor a nova biblioteca da cidade, localizada no Creb (Centro de Referência do Ensino Básico). O Diário encabeçou a campanha, que resultou na doação de mais de 500 livros à nova biblioteca da cidade.

Por Luciano Cavenagui - Diário do Grande ABC
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