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DATA DA PUBLICAÇÃO 07/10/2015 | Educação
Haitianos se preparam para o Enem em busca de nova profissão em BH
Curso reúne 10 professores voluntários em sala do Coltec, na UFMG.

Graduados no Haiti, os alunos buscam uma vida melhor no Brasil.


“Quero ajudar a reconstruir o meu país”, sonha o haitiano Joel Dolles, de 28 anos, que se prepara para conseguir uma vaga em um curso de engenharia civil através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele faz parte de um grupo de imigrantes do Haiti que se reúne de segunda a sexta-feira na sala 327 do Colégio Técnico (Coltec) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, para estudar.

Solteiro, Joel chegou ao Brasil há 14 meses e mora em Contagem, na Região Metropolitana da capital. “Antes de vir para cá, cursava contabilidade na universidade. Saí porque a situação lá ainda é muito difícil. Poucas oportunidades. Aqui sou operador de máquinas, mas quero voltar e ajudar”. O Haiti ainda sofre as consequências do grave terremoto que atingiu o país em 2010, matando cerca de 250 mil pessoas e deixando mais de um milhão de desabrigados.

As aulas do “cursinho” começaram em agosto deste ano, fruto de um trabalho realizado no Centro Zanmi –Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados. Lá, a professora voluntária e aluna da UFMG Kelly Cristina de Souza dava aulas para haitianos aos sábados e acreditava que eles tinham potencial para ir mais longe.

"São todos muito inteligentes. A maioria já tem um tipo de graduação. Quando abriram as inscrições do Enem eu disse, ‘quem aí anima fazer a inscrição do Enem?’ Como eles não tem computador, internet em casa, peguei os dados deles, levei pra minha casa e fiz a inscrição”, contou Kelly.

Em seguida, ela se uniu ao também aluno da UFMG Lucas William Oliveira Marciano, que já tinha experiência em cursinhos para o Enem e, juntos, conseguiram apoio da Diretoria de Relações Internacionais da universidade. Hoje são dez professores voluntários que participam do projeto.

“A gente tem consciência que é o primeiro passo, mas é importante para que eles se sintam estimulados a continuar”, disse Kelly.

Para o professor da Faculdade de Letras da UFMG na área de português como idioma adicional Leandro Diniz, o projeto é uma oportunidade de intercâmbio cultural. “Acho que o importante é que para esses alunos todos é uma oportunidade de estudar, passarem a almejar uma universidade como a UFMG, mas isso pra universidade é muito importante. É todo um público que tem muito a contribuir pra universidade em termos de trocas , pessoas com outras experiências e estórias”.

Persistência
Dezenove haitianos se inscreveram, mas apenas oito frequentam as aulas com regularidade. “Todos moram muito longe, Contagem, Betim, Esmeraldas. Fica muito difícil manter a motivação”, contou Kelly.

Um dos que persistiram é Gerard Petit, de 33 anos. No Brasil há três anos, ele estuda para conseguir uma vaga no curso de engenharia civil através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Já trabalho no ramo da eletricidade. Até fiz curso no Senai para conseguir carteira assinada, o que é muito melhor. O bom é ter a vaga para engenharia, mas se a segunda vaga acontecer, serei professor para estudar educação infantil aqui”, disse Petit, que escolheu pedagogia como mais uma opção para entrar na faculdade.
Você veio aqui pra atrapalhar, os haitianos não sabem nada. Estão aqui pra te enganar’. Aí eu falei, ‘pode deixar, eu vou buscar outra coisa pra fazer"
Gerard Petit, professor de francês

No Haiti, Gerard dava aula de francês para crianças. “Tentei uma vaga de professor para uma escola de francês aqui, mas não deu certo. Trabalhei três meses lá no curso, mas como sou estrangeiro (suspiro). Mesmo tendo o mesmo conhecimento de um francês ou de um brasileiro, você é negro, você é haitiano. ‘Você veio aqui pra atrapalhar, os haitianos não sabem nada. Estão aqui pra te enganar’. Aí eu falei, ‘pode deixar, eu vou buscar outra coisa pra fazer’”.

A enfermeira Marie Herbi Antenor, de 32 anos, veio sozinha para Belo Horizonte há pouco mais de um ano, em busca de uma vida melhor. “Lá ainda é muito difícil. Vim para trabalhar e estudar, por isso estou aqui. Vou prestar para contabilidade, mas sinto falta de ser enfermeira”. Hoje, Marie trabalha como costureira.

O conteúdo do Enem é muito amplo e, ao final do curso, os alunos terão tido apenas dois meses de preparação já que as provas serão nos dias 24 e 25 de outubro. Clonis Istine, de 25 anos, que estava prestes a se formar na faculdade de educação quando decidiu se mudar para o Brasil há nove meses, acha que o tempo é muito curto e revela que ainda não está bem preparado.

“Eu tenho facilidade com idiomas. Falo francês, criolo (dialeto haitiano), espanhol, inglês e aprendi português sozinho. Mas os enunciados das questões ainda são complicados de entender. Preciso de um nível melhor. Não acredito que vou passar este ano, mas sempre tem o ano que vem, né?”.

Por Thais Pimentel - G1, MG
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