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DATA DA PUBLICAÇÃO 19/03/2009 | Setecidades
Grande ABC mergulha no lixo
Especialistas ouvidos pelo Diário apontam o lixo produzido pela população e dispensado de forma errada como grande facilitador dos alagamentos, ao lado da infraestrutura ainda precária. A latinha que voa pela janela do carro, o saco plástico deixado fora da lixeira e os móveis velhos abandonados perto do terreno baldio foram, anteontem, coadjuvantes no cenário de inundação e enchente provocadas pela tempestade que atingiu o Grande ABC.

Não há quem tenha passado anteontem perto de um ponto inundado sem ter visto aquilo que, um dia, esteve dentro da casa de alguém. Garrafas, papelão, isopor e animais mortos boiavam por todo lado e impediam o escoamento natural da água. Quando não entopem os bueiros, lotam os piscinões ou terminam no leito de córregos - por fim, no Rio Tamanduateí, escoadouro natural da região.

Um exemplo é o piscinão Grã-Bretanha, próximo à Avenida Lauro Gomes, em Santo André. O reservatório exibia ontem toda a sorte de detrito dispensado pela população, de garrafas plásticas a embalagens de alimentos, tanto interna quanto externamente.

Mesmo quem não mora próximo a alagamentos sofre consequências diretas. É o caso daqueles que ficaram ilhados no trânsito ou presos em terminais de ônibus, sem chegar em casa. A própria economia dos municípios é afetada, fora o drama humano de quem perde até a vida na água. É quando entra no terreno alagado a importância da educação ambiental e do bom senso, assuntos de interesse coletivo.

Professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Mario Thadeu Leme de Barros vê a questão do lixo como preocupante. "Muitas vezes, existe a obra de drenagem, mas a capacidade de retenção é prejudicada pelo entulho. A população jogou lixo no lugar errado ou não houve a coleta adequada por parte da administração pública", diz.

Campanhas de esclarecimento mais eficazes e diretas são receitadas pelo consultor em urbanismo Cândido Malta. "Nesse ambiente de excesso de lixo sendo jogado de forma equivocada, vale avisar a população insistentemente sobre as consequências", afirma.

Especialista em gestão ambiental, o arquiteto e urbanista Carlos Henrique Andrade de Oliveira também questiona a comodidade do ser humano com relação aos problemas que "batem à sua porta". "Se falarmos de água e lixo, a pessoa quer ter a água na torneira e se livrar do lixo o quanto antes. E, com essa mentalidade, a chuva de ontem vira história. Precisamos melhorar a educação da sociedade como um todo", diz.

A professora Maria Rute Amaral Sampaio é socióloga e dá aulas para os alunos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP. Ela mostra dois exemplos do que a população deve fazer de forma geral. "É preciso contribuir, não jogando lixo na rua, e exigir limpeza de bueiros do poder público", afirma.

Obras são importantes, mas bastante caras

A responsabilidade da população vai até o ponto onde as obras públicas começam a se mostrar ineficazes. Aí, transbordam críticas dos especialistas a gestores públicos que não conseguem apresentar soluções na mesma velocidade em que surgem os problemas.

O piscinão é a obra mais citada. Ele deve retardar ao máximo a chegada da água aos escoadouros naturais, que são os rios e córregos. A construção, porém, é cara. E a execução das obras, lenta. "Não é coisa que se resolva do dia para a noite, mas exige investimento em grandes obras. Percebo que elas não andam no ritmo desejado", afirma Mario Thadeu de Barros, professor da Escola Politécnica da USP.

O urbanista Cândido Malta projetou um piscinão em Santo André com capacidade para mais de um milhão de metros cúbicos de água (seria o maior do Estado de São Paulo). Ficaria na margem esquerda do Rio Tamanduateí e, sobre ele, haveria uma pista de 700 metros, que seria um sambódromo. "Infelizmente, não foi construído", diz.

Fora isso, os especialistas apontam a crescente impermeabilização do solo como fator negativo. Mostram também a necessidade de reflorestamento urbano. "A copa das árvores também armazenaria a água por algum tempo, evitando que chegasse rapidamente ao solo", explica Carlos Henrique de Oliveira.

Entre as cinco cidades da região que mais sofrem com enchentes, Santo André é a que mais pretende investir em obras de drenagem. Serão cerca de R$ 50 milhões, incluindo recurso próprio, PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal e financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A canalização e revitalização do Córrego Taióca é a mais custosa e receberá R$ 27 milhões dos cofres do BNDES. Serão mais de três quilômetros.

Consultada, Diadema diz que fará manutenção em córregos, bocas-de-lobo, piscinões e galerias, visando evitar as enchentes. Para isso, será aplicado R$ 1 milhão.

Bastante afetada por alagamentos, São Caetano será beneficiada com a construção do Piscinão Jaboticabal, nas proximidades do Ribeirão dos Couros. A obra fica na Capital, mas beneficiará especialmente os moradores da cidade do Grande ABC. A verba é do governo estadual.

São Bernardo, cidade mais atingida pelas águas na tarde de anteontem, e Mauá não responderam as questões feitas pela reportagem.

Por Fabiana Chiachiri, Juliana Ravelli e William Cardoso - Diário do Grande ABC
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