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DATA DA PUBLICAÇÃO 26/08/2009 | Turismo
Giro pela América com os Goldschmidt
Os Goldschmidt são uma família que optou por um estilo de vida nada convencional. Para unir as duas coisas de que mais gostam - viajar e trabalhar juntos -, o casal Peter Paulo, 46 anos, Sandra, 45, e seus filhos Erick e Ingrid, de 19 e 17 anos respectivamente, iniciaram dez anos atrás o projeto Giro pela América, na época a bordo de um motorhome carinhosamente batizado de Pégaso. Com muito espírito de aventura na bagagem, eles já percorreram mais de 110 mil quilômetros de estradas do continente sul-americano em busca de novos roteiros turísticos, visitaram sete países e quase todos os Estados brasileiros. O resultado você passa a conferir no Diário, que abre a série de relatos da família Goldschmidt com texto de Peter sobre a chilena Sewell, uma vila abandonada no meio dos Andes, tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), e a Mina El Teniente, considerada a maior reserva de cobre do mundo.

A estrada avança serpenteando montanhas e vales cobertos de bosques nativos. Ao fundo, a imponente Cordilheira dos Andes fica cada vez mais próxima. A cada trecho do caminho, grandes placas e semáforos informam a condição de acesso ao próximo trecho da estrada que segue subindo mais e mais. Conforme avançamos, a paisagem vai se alterando: as árvores vão ficando cada vez mais raras e menores até que, finalmente, aos 1.500 metros de altitude, desaparecem totalmente, deixando à mostra a terra nua e coberta de pedras.

À primeira vista, já se percebe o solo instável, sujeito à ação das intempéries e aos tremores de terra. Ruínas de uma antiga estrada de ferro, estações abandonadas e escombros de casas atestam que o lugar já foi muito povoado e que a vida por aqui não era das mais fáceis.

Próximo ao final do vale, as montanhas se afastam e abrem espaço para uma colina íngreme, coberta por casas de madeira. Chegamos a Sewell, uma cidade fantasma que desde 2006 é Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Estamos 150 quilômetros ao Sul de Santiago, a capital do Chile. A via que percorremos chama-se Estrada do Cobre e liga a cidade de Rancagua a Sewell. Foi inaugurada na década de 1970 para facilitar o acesso à Mina El Teniente, a maior mina subterrânea de cobre do mundo. Mas essa história começa muito antes da inauguração da via. Mais precisamente em 1905, com a fundação de Sewell, a vila que daria suporte aos trabalhadores da Braden Cooper Company, empresa americana que havia conquistado o direito de explorar o cobre da região.

Sewell - No começo do século 20, quando foi iniciada a exploração industrial da mina de cobre El Teniente, a única maneira de chegar a este local inóspito era a pé ou em lombo de cavalos. As viagens eram longas, cansativas e perigosas. Por isso havia a necessidade de alojar todos os trabalhadores e suas famílias próximo ao local de trabalho. Foi assim que nasceu a Vila de Sewell, construída sobre uma colina íngreme, isolada no meio do vale abrupto, fora do perigo de ser atingida por uma avalanche. Era composta por cerca de 400 edifícios feitos com madeira nobre, retirada dos bosques nativos da costa chilena.

As casas eram interligadas por um sistema de escadas e túneis que cobriam um desnível de quase 300 metros entre a parte alta da cidade e a entrada da mina. Na década de 1950, no auge da produção de cobre, chegou a ter uma população de 16 mil pessoas, todas vivendo isoladas em meio ao frio e à neve que cobre a cordilheira em boa parte do ano.

Os acidentes eram frequentes, tanto devido à falta de segurança, como pelas constantes avalanches de neve e desmoronamentos de rochas. Além disso, a grande quantidade de pó e os produtos químicos usados na extração do minério tornavam o dia a dia ainda mais difícil.

A insegurança, a insalubridade e o isolamento dessas famílias eram compensados por altos salários e muito conforto. Todas as casas eram aquecidas e na vila existiam escolas, teatro, mercado, boliche e até cinema. Conta-se que os filmes de sucesso trazidos dos Estados Unidos eram exibidos primeiro em Sewell e depois no restante do Chile.

Além dos altos salários, os mineiros não pagavam nada pelas casas, água, luz e lenha. Porém, todos esses benefícios tinham um preço. Regras de comportamento estritas regiam o lugar, onde o consumo de bebida alcoólica era proibido, assim com o namoro público entre os jovens solteiros.

A vila começou a ser abandonada no final da década de 1960, quando o ar e a água ficaram contaminados com os resíduos produzidos pela mina. Poucos anos depois foi inaugurada a estrada que ligava Sewell a Rancagua, o que permitiu que muitos mineiros viessem trabalhar diariamente na mina sem precisar viver em Sewell. A última família a abandonar o local saiu em 1981 e a cidade começou a ser demolida. A destruição só foi interrompida com o processo na Unesco.

Hoje restam apenas 43 prédios, alguns em péssimo estado de conservação. A empresa mineradora Coldeco, pertencente ao governo chileno, cuida da manutenção e restauração do que sobrou da cidade. Os recursos são poucos e o tempo parece estar ganhando a corrida. Mesmo assim, Sewell continua um lugar impressionante, tanto pela sua história, como pela arquitetura singular. (Peter Paulo Goldschmidt)

Por Heloísa Cestari - Diário do Grande ABC
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