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DATA DA PUBLICAÇÃO 23/07/2012 | Tecnologia
Geração internet não usa rede mundial para se informar
Geração internet não usa rede mundial para se informar Para Wladyr Nader, jovens de hoje têm conhecimento melhor que os de há 20 anos, mas não se aprofundam. Foto: Amanda Perobelli
Para Wladyr Nader, jovens de hoje têm conhecimento melhor que os de há 20 anos, mas não se aprofundam. Foto: Amanda Perobelli
Maior utilização é para redes sociais e jogos, enquanto mar de dados disponíveis não é usado para obter informações

Certa vez, alguém pediu ao jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) que desse um conselho para os jovens universitários que o ouviam em uma palestra. Mal-humorado, cara de poucos amigos, Nelson aproximou-se do microfone, encarou a plateia e grunhiu: “Jovens, envelheçam!”

Mergulhados em jogos eletrônicos e redes sociais, disparando torpedos em smartphones, alheios ao que passa no mundo sob a proteção dos fones de ouvido, os jovens têm lido menos e passado mais tempo vendo TV ou em diversões on-line.

Esse é o resultado de pesquisa recente da Fundação Pró-Livro que mostra que o número de leitores caiu 9,1% no Brasil. Nos anos 1960, na ditadura militar, o jovem de 15 a 25 anos que lia pouco e passava mais tempo vendo televisão era chamado de “alienado”. Hoje, quem anda de transporte público, raramente vê um jovem lendo um livro pelo prazer da leitura. A chamada geração Y martela, incessantemente, o teclado de seu celular.

Alienação - Para quem não é mais jovem, a alienação – tão criticada no passado – parece ter se tornado padrão de comportamento. Mas será que essa avaliação está correta? Os jovens estão mesmo mais alienados, preocupados consigo mesmos e com pouquíssima informação sobre a realidade contemporânea?

Para a presidente da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Isis Valéria Gomes, não é bem assim. Os jovens têm se mostrado protagonistas da história, quando necessário. “No impeachment do Collor, os caras-pintadas mostraram força e dignidade”, ela afirma.

De acordo com Isis, existe no Brasil uma “democracia instalada” que vem reagindo “dentro da legalidade” ao que é impróprio. “Por isso, não há tanta necessidade de o jovem entrar nessa ação direta, mas, se for necessário, ele está preparado”.

Solidários - Para a escritora e especialista em projetos de leitura Cléo Busatto, o que mobiliza o jovem são as ações solidárias, um esforço para ajudar o próximo. “Talvez o foco tenha se deslocado da política partidária para uma política dirigida ao indivíduo.”

Opinião semelhante tem a gestora pública, professora universitária e autora do livro Leitura e Lazer: uma alquimia possível, Maria Helena Negreiros: “Observo que há um número significativo de jovens envolvidos em movimentos contra a homofobia, o racismo, o machismo, as experiências com animais e a corrupção”.

Essa mobilização a favor das chamadas “causas do bem” encontra seu maior difusor nas redes sociais. Recentemente, em Bristol (Inglaterra), uma lanchonete foi invadida por 250 jovens mães lactoativistas. Elas amamentaram seus filhos dentro do estabelecimento. Foi um protesto relâmpago, contra uma funcionária que havia chamado a atenção de uma mulher que ofereceu o seio para seu bebê.

Pela internet, organizam-se campanhas de adoção de animais, de arrecadação de dinheiro para cirurgias que podem salvar vidas. Pela internet também chega um sem-número de informações, muitas inúteis.

Selva tecnológica - O jurista e articulista da revista Carta Capital, Wálter Fanganiello Maierovitch, realiza um trabalho voluntário no Ciee (Centro de Integração Empresa Escola), auxiliando jovens que estão em busca de um lugar no mercado de trabalho. Maierovitch avalia que a internet tem o poder de reduzir a exclusão e levar o conhecimento às periferias. No entanto, há tanta informação que pode causar mais confusão do que orientação.

“Hoje existe um cipoal de informações e o jovem muitas vezes pode se perder e ficar envolvido com a cultura inútil e a busca da diversão inconsequente”, diz o jurista.

O jornalista, escritor e professor de jornalismo da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Wladyr Nader chama essa massa de informações de “selva tecnológica”. “Sou professor de rapazes e moças na faixa de 17 a 22 anos. Por conta da internet – coisa que a minha geração não dispunha – eles têm um conhecimento, por alto, melhor que os jovens de 10 a 20 anos atrás. Só que eles não costumam se aprofundar. Aprendem tudo depressa. Sem critério”.

Ainda de acordo com o professor da PUC, o desconhecimento da língua portuguesa é assustador: “Vivo mencionando aos quatro ventos que é comum eles escreverem: ‘A palestra foi feita pelo o escritor...’. Quando corrijo, duas semanas depois, vem a fórmula salvadora: ‘A palestra foi feita por o escritor’. Dá para acreditar?”

A ignorância também em relação a personagens contemporâneos é poderosa. Nader conta que a filha de uma amiga dele, formada em Ciências Sociais na USP, perguntou outro dia: “Afinal, quem é esse Sarkozy?”

Mar de possibilidades - A revolução tecnológica representa um mar aberto de possibilidades e prospecções. Os jovens vêm utilizando essa ferramenta em demonstrações de solidariedade, de apoio a minorias e na construção de redes sociais.

Isso ainda representa muito pouco. Milhares de títulos de livros de autores consagrados estão disponíveis on-line. Há um número incontável de trabalhos acadêmicos postados na rede. Museus abriram suas coleções. Há um universo de estudos, proposições, teses, entre milhões de direções que se pode seguir.

No entanto, diante de tantas alternativas, os jovens parecem optar pelo estilo Facebook de navegação. Falta o salto maior, aquilo que Camões tão bem soube reverenciar: “Por mares nunca antes navegados (...) Mais do que prometia a força humana/ e entre gente remota edificaram Novo Reino”.

‘Jovens têm visão fragmentada do mundo’

A pedagoga Sonia Mara Agi Lino, ex-coordenadora do Centro de Formação de Professores de Santo André na administração João Avamileno, afirma que os jovens têm hoje uma visão “fragmentada” do mundo e que seu conhecimento da história contemporânea é “precário”. Leia a entrevista:

Em comparação com os anos 1960 e 70, quando havia uma intensa mobilização cultural e política contra a ditadura militar, você considera que os jovens de hoje estão menos interessados, mais apáticos, com poucas referências sobre a história recente do País?
Os jovens, hoje, possuem mais fontes de informação e referências sobre nossa história por meio das ferramentas virtuais – o que não acontecia nas décadas de 1960 e 70. O foco de interesse não está voltado para mudar a realidade e sim, vivê-la, o que denota uma falsa apatia. Por conta da organização da sociedade, das escolas, das famílias, o conhecimento do jovem é fragmentado, sem coerência com a visão do mundo. Eles possuem as mais diversas informações estruturadas por modelos de análise, distantes de nossa realidade social.

Você diria que o conhecimento que os jovens têm da história recente é ótimo, bom, regular, péssimo? Por favor, explique por que.

O conhecimento dos jovens é precário, uma vez que é preciso uma educação aberta, com acesso à herança do passado – elemento essencial – para se ter a história recente. É preciso conhecer a história do mundo e de nosso País, tradições sociais, culturais e políticas para que eles não sejam levados a pensar com a cabeça alheia. Essa articulação é quase inexistente.

Como está o nível de leitura dos jovens? A cultura imagética – com o excesso de videogames e outros eletroeletrônicos – tem reduzido o interesse pela leitura?

Depende de qual leitura estamos falando: quem lê escreve bem, isso é fato. Constata-se uma falta de leitura de livros formais entre os jovens. É resultado não do excesso de eletroeletrônicos, e sim da falta de estímulo por parte das famílias e da própria escola. A leitura é um hábito, uma herança que deveria ser inserida na vida do ser humano desde bebê – o que não acontece. As famílias leem pouco. As escolas adotam livros sem critérios, então, os alunos dão preferência à internet. Mas quando se fala da leitura, por meio dos comunicadores instantâneos, diria que os jovens estão num nível alto de interesse e familiaridade.

‘Esse Demóstenes eu nunca ouvi falar’

Dos seis jovens entrevistados pela reportagem, apenas um acertou as três questões de conhecimentos gerais propostas pelo ABCD MAIOR. As perguntas eram: Quem é Demóstenes Torres? Quem é Nicolas Sarkozy? e Quem foi Getúlio Vargas?

O senador Demóstenes Torres (DEM) perdeu o mandato por envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Nos últimos dois meses, esteve diariamente nos noticiários.

Getúlio Vargas (1882-1954) foi presidente do Brasil de 1930 a 1945, e de 1951 a 1954. Suicidou-se com um tiro no coração em 24 de agosto de 1954.

Nicolas Sarközy foi presidente da França de 2007 a 2012. Perdeu a reeleição para François Hollande.

Rafael Matos de Almeida, 26 anos, líder de operação logística – “Leio jornal, a revista Caras e o Globo Esporte pela internet. Tenho Facebook mais para me comunicar com amigos. Acho que Demóstenes foi um deputado, envolvido com a Delta. O Getúlio foi um presidente, mas não sei o que aconteceu com ele. E o Sarkozy foi presidente da França”.

Thayanne Brandão dos Anjos, 19 anos, assistente de vendas – “Quero fazer uma faculdade de biologia para trabalhar no projeto Tamar e cuidar das tartarugas. No Facebook tenho 1.570 amigos. Sou compositora de música sertaneja. Gosto muito de música bem cowboy. Esse Demóstenes eu nunca ouvi falar. O Getúlio foi uma pessoa importante, mas não sei quem foi. Me deu um branco agora. O Sarkozy já estudei ele, mas não me lembro.”

Edson de Almeida Silva, 18 anos, procurando emprego na área de informática – “Leio pouco jornal. Na internet, o pessoal fica direto no Facebook. Jornal, revista, essas coisas o pessoal se interessa pouco. Demóstenes Torres usa óculos. É só isso que eu sei dele. O Getúlio Vargas foi um governador de antigamente. E o Sarkozy não sei quem foi.”

Ariane Cristina de Mattos, 25 anos, perfumista – “Os jovens usam mais o Facebook, mas não fazem pesquisa. Eu tranquei duas faculdades (Jornalismo e Radialismo) e agora pretendo fazer um curso de logística. Não sei quem é Demóstenes Torres. Sarkozy, também não. O Getúlio foi um presidente, por volta de 1984, não sei o que houve com ele.”

Felipe Bernardi, 21 anos, 1º anista de engenharia na Fundação Santo André – “Por causa da faculdade, não tenho tempo de ler. Tenho Facebook (500 amigos). Demóstenes foi um...(hesitação, o colega ao lado dele assopra:) senador. O Getúlio foi presidente em 1974 e se matou. O Sarkozy foi presidente da França.”

Vinícius Calazans, 22 anos, faz engenharia mecânica na FEI - “Tenho lido só livros de engenharia. É preciso manter o foco. Meu objetivo é estudar e me formar. O Demóstenes era senador e foi cassado. O Getúlio Vargas era presidente e se suicidou. Não me lembro o ano. E o Sarkozy foi presidente da França.”

Por Danilo Angrimani, especial para o ABCD Maior
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