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DATA DA PUBLICAÇÃO 02/08/2010 | Saúde e Ciência
Gel vaginal anti-HIV levanta questões e alegrias
A melhor novidade para a prevenção contra a Aids foi divulgada na semana passada, numa conferência mundial sobre a doença em Viena: um gel vaginal, chamado de microbicida, que pode ser usado sem o conhecimento do homem, deu às mulheres chance de 39% de evitar a infecção com o vírus mortal.

Obviamente, os 39% não são exatos, embora as mulheres que usaram o gel no teste sul-africano tenham obtido resultados melhores, chegando a 54% de proteção.

Depois de uma dúzia de fracassos com microbicidas, esse foi um grande alívio, e gerou aclamações e aplausos de pé pelos pesquisadores locais.

"Esse é um campo que conheceu muita dor", disse Catherine Hankins, a principal conselheira científica da Unaids, a agência de combate à Aids das Nações Unidas.

Houve um alívio geral porque os dados não eram tão instáveis quanto os de um teste de vacinas contra a Aids, divulgado em setembro.

"Há um sentimento de tranquilidade e prazer para mim, como cientista, de que os dados são estatisticamente significativos de qualquer forma que você os divida", afirmou Anthony S. Fauci, respeitado especialista em Aids do governo dos EUA, que bancou a maior parte dos custos do teste.

Houve um bônus inesperado: o gel protegeu as mulheres ainda mais contra a herpes genital (os pesquisadores não souberam especificar o motivo, mas o gel contém tenofovir, um medicamento antiviral, e tanto a Aids quanto a herpes são virais).

Agora, especialistas estão ponderando sobre as muitas perguntas levantadas pela novidade.

Quantos testes mais serão necessários para ganhara aprovação dos reguladores de medicamentos?

Será que mais de 1% de tenofovir no gel, ou uma mistura de dois remédios, funcionaria melhor?

Ele pode ser produzido de maneira barata o suficiente para os países pobres? O gel custa 2 centavos de dólar por dose, mas os aplicadores saem por 40 centavos pois são patenteados e foram frequentemente redesenhados para maior conforto.

As mulheres fizeram sexo numa média de cinco vezes por mês, e foram instruídas a inserir o gel antes e depois das relações. Apenas uma dose, o que seria mais fácil e barato, funcionaria igualmente bem?

Ele pode funcionar para prostitutas, que fazem sexo com muitos homens sucessivamente? Ele é seguro o bastante para o uso diário?

Ele pode ser usado por mulheres grávidas? Algumas mulheres engravidaram e deram à luz, mas pararam rapidamente de usar o gel para reduzir quaisquer riscos.

As mulheres que se infectaram mesmo usando o gel desenvolveriam infecções de difícil cura ou resistentes a remédios?

E, embora ele tenha sido testado em mulheres africanas pobres, ele teria apelo às mulheres ocidentais, algumas das quais podem se preocupar com herpes e Aids?

Ele também poderia funcionar para o sexo anal, e proteger homens homossexuais?

Os pesquisadores e outros especialistas afirmaram ter apenas dicas parciais para as respostas, mas que a maioria delas era animadora.

E, dado que essa é uma pesquisa de Aids, algo que inevitavelmente cria controvérsias, algumas perguntas difíceis foram levantadas.

Se já se sabia após o primeiro ano que o gel estava funcionando, por que o teste não foi interrompido?

E o que acontecerá com as 889 mulheres africanas que, nas palavras de Mark Harrington, um ativista da Aids, "arriscaram seus corpos para esse estudo"? Elas conseguirão continuar recebendo o produto que pode ter salvo suas vidas?

Algumas perguntas foram fáceis, segundo Salim Abdool Karim, um dos líderes do estudo e professor de epidemiologia nas Universidades de KwaZulu-Natal, na África do Sul, e Columbia.

O preço de uma dose pode cair para menos de um preservativo, pois os aplicadores são apenas plástico moldado e, sem restrições de patente, "os chineses poderiam produzi-lo por meio centavo", afirmou ele.

Outras, como quais drogas e combinações de doses seriam melhores e mais seguras, devem ser estudadas em experimentos futuros. Um complexo teste multinacional de diversos métodos, incluindo o microbicida, deve terminar em 2013, mas um novo pode ser projetado para começar rapidamente.

No mundo todo, mais de um milhão de mulheres morre de Aids anualmente, então a velocidade é importante.

O gel nunca foi testado em homens, mas protegeu macacos que receberam doses anais da versão símia para o vírus. Usando amostras coletadas, Karim descobriu que o tenofovir de partes vaginais internas das mulheres havia migrado também para o reto, sugerindo que elas também podem ter sido protegidas no sexo anal.

"O tecido entre os dois é bastante fino", explicou ele.

Usar um gel em vez de um comprimido significa que o medicamento entra no trato genital, mas dificilmente atinge o sangue. Isso reduziu as chances de que uma mulher infectada desenvolvesse vírus resistentes ao tenofovir, segundo os especialistas.

Nenhuma mulher os desenvolveu, mas elas foram testadas com tanta frequência que o vírus teve muito pouco tempo para entrar em mutação.

Kevin A. Fenton, diretor da divisão de Aids do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, disse que o aspecto duplo Aids e herpes "poderia tornar o produto mais atraente às mulheres americanas".

Não está claro se os homens gostariam do gel, e os comprimidos de tenofovir estão sendo testados em homens homossexuais não infectados, mas os resultados "são uma verdadeira injeção de ânimo no campo", afirmou ele.

Os testes não foram interrompidos mais cedo, segundo Karim, pois o comitê independente de revisão queria resultados tão decisivos que igualariam os resultados de dois experimentos favoráveis, "e nós não atingimos esse nível de eficácia".

Sheena McCormack, pesquisadora britânica de microbicidas, lembrou dos testes de penicilina há 70 anos. Aqueles pesquisadores deram o remédio a seus pacientes em pior estado, não a uma amostragem aleatória, e mesmo assim tudo correu espantosamente bem. Este, segundo ela, lembrava mais os testes de circuncisão como um preventivo à Aids, que precisou de três para ser convincente.

O que acontecerá às 889 mulheres é incerto. Quarraisha Abdool Karim, esposa de Karim e parceira de pesquisas, disse que era preciso produzir mais gel e ela esperava inscrevê-las rapidamente num novo experimento, para que sigam recebendo o remédio.

Harrington disse que, em sua opinião, elas deveriam ter a escolha de participar de outro experimento ou apenas receber o gel por tempo indefinido, mesmo que ele ainda não tenha sido legalmente aprovado por nenhuma agência reguladora.

Por Donald G. Mcneil Jr. - New York Times / Folha Online
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