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DATA DA PUBLICAÇÃO 31/05/2008 | Setecidades
Garoto de 12 anos liderava assaltos em posto
Um garoto de apenas 12 anos liderava um trio de jovens acusados de roubar 127 vezes, desde janeiro, o mesmo posto de gasolina na Avenida Alda, no Parque Real, em Diadema. Com um revólver de viodeogame nas mãos, o menino passava do mundo virtual ao real ao aterrorizar os funcionários do posto. Segundo confessou ao Diário, entrou na vida criminosa aos 9 anos.

O trio foi detido anteontem à noite em flagrante por policiais do SIG (Setor de Investigações Gerais) da delegacia seccional de Diadema. Os outros dois integrantes do grupo são um adolescente de 15 anos e Márcio Edgar da Matta, 18, que completou a maioridade em abril.

Eles se preparavam para assaltar mais uma vez o Auto Posto Dunga - Via Brasil, quando foram surpreendidos pela polícia. Segundo o posto, foram 127 casos desde o início do ano, 31 deles registrados em delegacias. Em um dia, foram feitos cinco assaltos.

Apesar dos vários roubos que já tinham ocorrido, representantes do posto fizeram uma reunião com integrantes do SIG somente na semana passada.

Às 19h de anteontem, 11 investigadores montaram uma campana no estabelecimento, horário em que, costumeiramente, o grupo agia.
Foram cerca de três horas de espera até que os três chegaram como de costume: dois adolescentes em bicicletas e um a pé. O trio anunciou o roubo e foi preso em seguida.

"Os policiais agiram rápido e eles não tiveram tempo de roubar", afirmou o delegado seccional de Diadema, Ivaney Cayres de Souza.

A pistola de videogame foi encontrada no ano passado pelo garoto de 12 anos em um matagal e pintada com tinta de spray preta para parecer verdadeira.

O trio confessou à polícia participação em pelo menos 30 assaltos ao posto de combustíveis. Segundo eles, mais dois adolescentes participavam dos roubos esporadicamente, um deles conhecido apenas como Neguinho. Câmeras de segurança do estabelecimento registraram a maioria dos crimes.

Para o delegado seccional, o número de assaltos cometidos pelos três deve ser maior. "A turma é grande. Mas, na maior parte das vezes, eles três participaram. O menino de 12 anos era o mais violento. Os frentistas chegaram a apanhar", disse. Alguns funcionários do posto foram demitidos por conta dos assaltos.

Os garotos de 12 e 15 anos passaram a noite na carceragem especial para adolescentes no 3º DP e iriam ser encaminhados para a Fundação Casa, ex-Febem (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor). Matta foi conduzido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Diadema.

‘Eu roubo desde os 9 anos', confessa garoto

"Eu roubo desde os nove anos. Via os outros fazendo coisa errada e eu aprendi", afirmou o garoto de 12 anos ao Diário.

Morador do Parque Real, o menino, com menos de um metro e meio de altura, franzino nos seus 40 quilos, muitas vezes era o responsável por apontar a arma para os funcionários do posto. "Eu falava: isso é um assalto. Eu quero o dinheiro", contou. "Eu não tinha dinheiro. Pedia e ninguém me dava. Aí eu roubava", disparou.

O menino estudava na 4ª série do ensino fundamental em uma escola estadual no bairro Serraria, em Diadema, mas mal sabe escrever o nome.

É um dos cinco filhos de uma catadora de papel de 37 anos, que sobrevive com R$ 30 mensais. O orçamento é complementado com uma pensão recebida por um dos irmãos do garto. que tem problemas mentais.

"Ele não precisava fazer isso. Sempre passei dificuldades, mas, meu pai e minha mãe me ensinaram a nunca tirar nada de ninguém. Sempre falei isso a ele, mas meu filho se deixou levar pelas más companhias", avaliou a mãe.

O pai do líder do trio que aterrorizava o posto morreu vítima da cirrose hepática causada pela bebida. "Meu pai morreu de pinga. Ele bebia muito", ressalta o menor. A mãe revela que, desde criança, o marido levava os filhos para pedir dinheiro em semáforos. "Ele pedia e gastava todo o dinheiro em pinga", afirma a mãe, que promete ficar de olho no filho daqui por diante. "Vou pedir ajuda ao Conselho Tutelar", contou.

O outro menor preso, de 15 anos. também já tinha passagens por roubo e porte ilegal de arma. No próximo mês, ele já tinha marcada uma audiência no Fórum de Diadema devido aos crimes anteriores.
Caso expõe falhas no trato de jovens infratores

A repetida participação de dois adolescentes de idades tão baixas em roubos como o deste posto de combustível é vista por especialistas como grave retrato da falha dos sistemas de recuperação de menores infratores.

A dupla M.C.S., 12 anos, e D.A.R.S., 15, já havia sido detida pela polícia, mas nunca chegaram a ficar internados na Fundação Casa (antiga Febem) ou passar por Liberdade Assistida. Não que essas medidas fossem garantias de que deixassem a criminalidade. "A internação não recupera ninguém, isso todo mundo sabe. O que deveria ocorrer é educação. Não só na escola, mas emprego digno para o pai da família, ensino de qualidade, estrutura familiar", afirma a conselheira tutelar de Diadema Abdene Rosa da Silva.

Ela afirma que o Conselho Tutelar da cidade não foi acionado no caso desses jovens porque as mães deles foram localizadas. E explica que, agora, eles devem ficar internados pelo prazo mínimo de seis meses e passar pela Liberdade Assistida após esse período.

Mesmo sendo o procedimento previsto pelo ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), o processo é falho: "eles vão para a Fundação Casa, depois voltam para um sistema educacional falido. Temos vários programas, cursos de capacitação, cursos profissionalizantes, mas que não atendem nem30% das necessidades", lamenta Abdene.

Para o secretário-geral do Condeca (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana ), Ariel de Castro Alves, a falha não está no programa, e sim no cumprimento dele. "A Liberdade Assistida deveria checar a freqüência escolas dos adolescentes, se fazem cursos profissionalizantes, para preencher o tempo. E eles não podem voltar com as mesmas condições de vida. O Estado deveria providenciar a mudança da família e uma forma de geração de renda para eles", afirma o advogado.

Por Evandro de Marco / Luciano Cavenagui - Diário do Grande ABC
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