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DATA DA PUBLICAÇÃO 14/03/2009 | Educação
Escolas de SP determinam regras para namoro entre alunos
Namorados desde novembro, os colegas de classe Gabriela Schmidt e Marcio Saurin, ambos de 17 anos, já aprenderam a driblar os inspetores da escola onde cursam o 3º ano do ensino médio para dar um beijo "selinho” de vez em quando. No Dante Alighieri, nos Jardins, onde estudam, casais podem ficar de mãos dadas, mas devem evitar outras demonstrações de carinho mais ousadas.

Ficar de mãos dadas e conversando de pertinho é o comportamento que a maioria dos colégios privados de São Paulo permite. Instituições tradicionais da cidade consultadas pelo G1 aceitam o namoro, mas determinam regras rígidas e mantêm fiscalização intensa.


Os jovens reclamam da fiscalização, mas dizem que compreendem os motivos. Mesmo assim, arrumam formas de driblar os vigias. “Olhamos para ver se não tem vigia por perto e damos um 'selinho' às vezes”, conta a garota. O namorado diz que nos lugares onde circulam crianças os fiscais pegam mais no pé. “Não acho legal, mas se eu fosse pai não gostaria de ver um casal se agarrando perto do meu filho”, diz Marcio.

Já as mães de Marcio e Gabriela aprovam os limites impostos pelo colégio. “Acho que lá dentro tem que ser mais companheirismo e não ficar se beijando, se agarrando”, diz a agente de viagens Maria José Schmidt, de 46 anos, mãe da garota. “Em primeiro lugar está o estudo e, depois, o namoro”, afirma a mãe de Marcio, a comerciante Maria Leonor Saurin, de 52 anos.

Beijo permitido

Os alunos Marina Magalhães e Henrique Carretti, ambos de 16 anos, não precisam se esconder, pois o Sion, em Higienópolis, onde estudam, permite abraços e beijos, mas sem exageros. “Podemos namorar, mas sabendo que estamos numa escola”, diz ela.

Henrique acha que é pior proibir. “As escolas que proíbem muito levam os alunos a transgredirem”, avalia. No intervalo, o casal fica na sala, no corredor ou no pátio. Na hora da aula eles garantem que agem como colegas. “Nós separamos bem, não nos distraímos”, diz Henrique.

Os orientadores educacionais afirmam ver o namoro como algo natural na adolescência e dizem tentar estabelecer um limite que não atrapalhe o funcionamento da escola e não gere constrangimento. “Nós explicamos a diferença entre o público e o privado e que é preciso respeito ao coletivo”, diz a orientadora educacional Maria América Cabral, que trabalha com cerca de 800 alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro, no Morumbi, Zona Sul.

“Escola é um ambiente pedagógico. O namoro é algo extremamente natural, mas é preciso respeitar o limite da instituição, do local público”, afirma Silvana Leporace, coordenadora do serviço de orientação educacional do Dante Alighieri.

Dos colégios consultados, o Sion, em Higienópolis, na região central, e o Bandeirantes, no Paraíso, Zona Sul, são os mais flexíveis. “Só não pode um beijo exagerado, um amasso maior que deixe as outras pessoas encabuladas”, explica a orientadora educacional do ensino médio do Sion, Ana Letícia Moliterno. “Trabalhamos com o bom senso dos alunos, pois o namoro é algo natural, uma fase gostosa da vida deles”, diz a orientadora.

Já no Bandeirantes, alunos de 5ª a 8ª série têm uma aula por semana da disciplina que aborda temas como o namoro, o ficar, orientação sexual e drogas.

Todos os colégios proíbem que casais namorem na sala de aula para não atrapalhar o professor e os colegas. No Porto Seguro, um aluno já pediu para mudar de sala porque achou que estava se prejudicando nos estudos por ficar na mesma turma que a namorada. Ele mudou de sala, mas o namoro continuou.

Namorar faz bem

Na opinião da professora de psicologia Ana Bock, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o colégio só deveria interferir nas expressões exageradas de intimidade que possam incomodar os outros. Ela defende a permissão de beijos e abraços. “A escola que proíbe incentiva o namoro em locais não propícios. O colégio deve disciplinar e não proibir. O problema é que algumas instituições têm um moralismo exagerado”. Para ela, o impedimento em relações afetivas estimula a criação de um sujeito frio que não tem afeto pelo outro. “Acho conservador pensar que crianças não possam assistir expressões de carinho”, afirma.

O professor Sandro Caramaschi, do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acha que o limite é o namoro não atrapalhar as atividades estudantis. “O melhor é orientar para que eles tenham um envolvimento saudável”, opina Caramaschi, que é especialista em relacionamento amoroso e social. Segundo ele, o ideal é que a escola discuta o tema com pais e alunos para decidir a melhor forma de agir diante do namoro entre estudantes.

“Mais 100 anos”

Um namoro de escola acabou em casamento que já dura 18 anos para o casal Sebastião e Ivanilde de Souza, de 46 e 42 anos, respectivamente. O eletricista Sebastião conheceu a atual mulher quando tinha 18 anos e resolveu voltar a estudar, na 5ª série, por insistência da então noiva. Durante quatro anos eles se conheceram, segundo conta Sebastião. No final da 8ª série, acabou o noivado e passou a namorar Ivanilde. Sete anos depois se casaram e hoje têm dois filhos, uma moça de 17 anos e um garoto de 8 anos.

Sebastião diz que na sua época não podia namorar na escola particular que ele e a mulher estudavam em Mauá, no ABC. Hoje ele defende que o namoro seja permitido, inclusive com beijo e mão dada na hora do intervalo e diz que só o “agarra-agarra” deveria ser proibido, porque o fato de não poder só estimula os jovens. “Tudo o que é proibido é mais gostoso aí eles acabam fazendo escondido”, diz.

Quando a filha tinha 12 anos começou a namorar na escola com um menino de 11 anos, mas a história não se repetiu. “Era um namorico de criança, acabou logo. O meu não, tem mais cem anos para frente”, brinca ele.

Por Luísa Brito - G1, em São Paulo
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