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DATA DA PUBLICAÇÃO 31/10/2009 | Cultura
Era digital afeta o U2
Embora seja, por anos a fio, uma das poucas bandas que conseguem lotar estádios, os integrantes do U2 estão surpresos com as rápidas mudanças do mundo, tanto o musical quanto o político. Em uma reflexão feita no encerramento da parte norte-americana da nova turnê 360°, o vocalista da banda, Bono, destacou que há um ambiente distinto e mais polarizado nos Estados Unidos desde que o grupo interpretou a música City of Blinding Lights, em janeiro passado, na posse do presidente Barack Obama.

"Não acreditava que esse ambiente chegaria tão rápido, principalmente após aquela ocasião jubilosa daquelas eleições. Pensei que os Estados Unidos estivessem indo bem... Agora, as coisas estão um pouco mais difíceis", refletiu Bono, a bordo do avião do grupo, que se dirigia a outra escala da turnê.

O cantor disse que mantém contato com Obama e confia que ele cumprirá promessas de campanha, incluindo o tema favorito de Bono, o financiamento para combater a Aids na África. "O governo de Obama está apenas começando. Ele prometeu duplicar a ajuda em alguns anos, apesar de seu antecessor (George W. Bush) tê-la triplicado. Ainda assim, os Estados Unidos seguem contribuindo com valor correspondente à metade do que dão os países europeus. Creio que ele sabe que isso não está bem."

Frustação
No entanto, Bono e o resto do grupo têm seus próprios problemas. Como outras bandas na era digital, ao U2 custa encontrar novos seguidores que comprem sua música. Seus integrantes admitem que estão frustrados com as vendas de seu novo álbum e se perguntam: Será que a ideia de um fanático por rock está virando coisa do passado?

Em um experimento, o U2 transmitiu, ao vivo, o show realizado em 24 de outubro em Los Angeles. "Devemos enfrentar os desafios comerciais. Mas, de certo modo, creio que o desafio mais interessante é responder: O que é o rock ‘n'' roll neste mundo mutável? Porque, em certo grau, o conceito de aficionado por música, o conceito de pessoa que compra e escuta música pelo prazer de fazê-lo resulta em uma ideia obsoleta", observou o baixista Adam Clayton.

O CD mais recente do grupo, No Line on the Horizon, chegou aos primeiros lugares das paradas em março passado e vendeu a quantia respeitável de 1 milhão de cópias.

Por outro lado, o álbum tem as menores vendas registradas pela banda em mais de uma década. De 2004 até agora, How to Dismantle an Atomic Bomb vendeu 3,2 milhões de cópias. Em 2000, o CD All That You Can''t Leave Behind vendeu 4,3 milhões.

Além disso, No Line não possui um hit que tenha caído no gosto popular. O CD anterior, que inclui Vertigo, tampouco alcançou o topo das paradas, mas obteve muito mais êxito graças a um anúncio comercial muito difundido do iPod.

As músicas do novo álbum tem atraído mais os fãs ardorosos da banda. Mas o álbum não teve o impacto esperado. Embora tenha destacado que algumas das canções mais adoradas do grupo, como Beautiful Day e One, não tenham sido êxitos massivos e imediatos, Bono reconhece a decepção do grupo pelo fato de não terem decolado as músicas pops do álbum.

"Mas esse não era exatamente o nosso objetivo. Sentimos que o álbum é quase uma espécie em extinção e deveríamos chegar de maneira totalmente distinta a partir dele, criando um estado de ânimo e um sentimento com começo e fim. Suponho que tenhamos feito um trabalho um tanto desafiador para as pessoas que cresceram com uma ‘dieta'' de estrelas pop", refletiu o líder da banda.

Desafio
Alguns poderiam argumentar que os roqueiros - Bono, Clayton, The Edge e Larry Mullen Jr. - seguem sendo a encarnação de um concerto pop. Estão entrando em sua quarta década na carreira musical com um impacto social que poucos músicos populares puderam sequer sonhar.

No entanto, eles consideram que estão na mesma posição de desafio da maioria das bandas, os quais devem fazer novas formas de conectar-se com os compradores de música, em uma indústria em decadência e com um mundo do espetáculo fragmentado.

Por outro lado, a turnê 360° é um conceito de espetáculo massivo, no qual a banda toca no centro dos estádios, com o público ao redor. Daí o nome da turnê, que inclui cenários que demoram dias para serem desfeitos, tem sido uma das que mais arrecadaram em vendas de ingressos nos Estados Unidos desde setembro.

O ingresso para o show custa até US$ 250 (R$ 435), ao menos 10 mil entradas de US$ 30 são oferecidas para cada show. "De muitas maneiras, o U2 tem obtido um êxito tão grande em anos que estamos blindados contra o declínio da indústria discográfica", disse Paul McGuinness, agente da banda durante anos. "Seguimos vendendo muita música gravada, mas isso é parte pequena do nosso negócio em comparação com os shows. Esta turnê, quando encerrada, terá sido vista por quase 6 milhões de pessoas", complementou.

Por Diário Online - AE
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