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DATA DA PUBLICAÇÃO 17/07/2012 | Educação
Em greve, professores da UFABC cobram trabalhos de alunos
Aulas pararam, mas serviços essenciais foram mantidos, como limpeza.

Professores se reúnem nesta terça (17) para analisar proposta do governo.

Pela primeira vez participando de uma greve, alunos da Universidade Federal do ABC (UFABC) relataram ao G1 nesta segunda-feira (16) que, mesmo com a paralisação atingindo todas as aulas da graduação, há professores cobrando a entrega de trabalhos. "Está tendo listas em algumas matérias, [são exigidas] listas de exercício", afirma Adamarys Regina Freire, de 20 anos, estudante do segundo ano de bacharelado em Ciência e Tecnologia.

Ela e seus colegas não revelaram quem são os docentes. A jovem conta também que as atividades de pesquisa, como iniciação científica, não foram paralisadas, pois dependem dos prazos e bolsas de instituições como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para ocorrer.

Professores e funcionários da UFABC decidiram, em assembleia, paralisar as atividades para exigir reajuste salarial e reestruturação da carreira. A greve dos professores começou no dia 5 de junho, e a dos servidores no dia 11, segundo o presidente da Associação dos Docentes da UFABC (ADUFABC), Armando Caputi.

"A adesão é de quase 100% [dos docentes]. Na graduação é de 100%, porque foram suspensas as aulas", ressaltou Caputi, professor de matemática na universidade desde agosto de 2006. "Uma vez que houve a deflagração da greve, depois de duas semanas a UFABC suspendeu suas atividades, no intuito de preservar os alunos."

O próprio Conselho Universitário, instância máxima de decisão na UFABC, decidiu pela suspensão de aulas e aprovou uma nota de apoio aos grevistas, no dia 19 de junho. O documento convidava os ministérios da Educação e do Planejamento a aproveitar o momento como uma oportunidade para construir um sistema de ensino superior "que acompanhe o desenvolvimento do Brasil".

Atraso no calendário
Adamarys se diz favorável à greve e seus motivos, mas ressalta que os alunos estão sofrendo com a interrupção do ano letivo. "Vai atrasar [o calendário], a gente vai ser muito prejudicado com esse tempo que está sem aulas. Mas se for pelo acordo [dos docentes com o governo federal], vai valer a pena", afirma.

O G1 percorreu salas e corredores da UFABC e constatou que apenas serviços essenciais continuavam funcionando, como limpeza, segurança do prédio, restaurante universitário (usado para alimentação dos alunos) e secretaria acadêmica. Aulas de dança, de esporte e um cursinho popular mantido pelos alunos da instituição eram dadas nesta segunda-feira.

Estudantes conversavam sobre a greve antes de uma assembleia realizada na noite desta segunda. Para Daniel Ribas Cardoso, de 19 anos, as férias devem ser usadas para repor as aulas perdidas. O calendário só deve ser regularizado em um ou dois anos, na sua opinião. "Nada foi decidido ainda sobre a reposição, vai ser discutido em assembleia", disse Daniel. "Mas estimativas preliminares apontam que vai ter pelo menos dois anos sem férias para repor tudo."

A paralisação dos alunos é em solidariedade ao movimento grevista dos professores, afirma Lucas Fernando Muniz Relvas, de 20 anos, estudante de bacharelado em Ciência e Tecnologia. "O plano de carreira deles já foi discutido pelo governo, mas não saiu do papel. Tem outras questões, como faculdades federais que estão em condições horríveis, como a UFSC [Universidade Federal de Santa Catarina]", afirma.

Tanto Lucas quanto seu colega de iniciação científica, Daniel, são a favor da greve. Eles comentam que houve atraso nas obras da UFABC, mas que não se compara à falta de infraestrutura em outros locais, como no campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Guarulhos. "Aqui [na UFABC] é novo. O campus saiu atrasado, mas é novo ainda", disse Daniel. "A gente é muito privilegiado em termos de infraestrutura, se for comparar", ressaltou Lucas.

Proposta do governo
Uma assembleia de docentes vai ser realizada na manhã desta terça-feira (17) para decidir sobre a proposta de reestruturação da carreira apresentada pelo Ministério do Planejamento. As hipóteses são votar pelo fim ou não da greve e sobre aceitar ou não a proposição do governo. A tendência, segundo sete professores de diferentes áreas ouvidos pelo G1, é de manutenção da greve e rejeição da proposta do governo federal.

O israelense Yossi Zana, professor de neurociência da UFABC, afirma que a proposta do governo prevê apenas a reposição salarial com relação à inflação, sem nenhum ganho real para a remuneração dos docentes. "Nosso salário é o mesmo desde 2010, se não me engano. Teve um aumento de 4% em junho deste ano e nenhum compromisso de aumento maior. Levando em conta que 2010 para hoje, tivemos 14% de inflação. É pouco", disse.

Zana ressalta que, para os próximos três anos, a previsão de inflação do mercado é de cerca de 20%. "Queremos reposição mas também valorizar a carreira em vários aspectos, uma delas é o salário, remunerar mais do que hoje. Comparativamente com outras carreiras, o salário é quase metade", completa.

A recomendação dada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) é de que as universidades rejeitem a proposta do governo federal apresentada na sexta-feira (13). Em documento publicado na noite deste domingo (15), o Andes enviou encaminhamento aos sindicatos das instituições para que recusem a proposta, mantenham a greve e intensifiquem a mobilização local dos professores, além de "radicalizar as ações da greve, ampliando a paralisação das atividades e desmascarando a proposta do governo".

Os sindicatos locais deverão enviar o resultado das assembleias ao Andes até as 19h de sexta-feira (20).

Entenda a proposta do governo federal
A proposta do governo federal, que entraria em vigor a partir de 2013, reduz de 17 para 13 os níveis da carreira, como forma de "incentivar o avanço mais rápido a busca de qualificação profissional e dos títulos acadêmicos". Segundo o documento elaborado pelo Andes, a proposta apresentada pelo governo, apesar de reduzir os níveis, mantém, na estrutura, a hierarquização vertical em classes. "O governo insiste em uma classificação hierarquizada, com ou sem distintas denominações, para o exercício de atividades da mesma natureza, com a mesma descrição de funções e a mesma finalidade. Com isso, cria barreiras impeditivas à evolução até o topo da carreira", diz o texto.

Em nota, o ministério afirmou que "todos os docentes federais de nível superior terão reajustes salariais além dos 4% já concedidos pela MP 568 retroativo a março, ao longo dos próximos três anos". Pela proposta, o salário inicial do professor com doutorado e com dedicação exclusiva será de R$ 8,4 mil. Os salário dos professores já ingressados na universidade, com título de doutor e dedicação exclusiva, passarão de R$ 7,3 mil (valor referente a fevereiro) para R$ 10 mil. Ao longo dos próximos 3 anos, ainda de acordo com a proposta do governo, a remuneração do professor titular com dedicação exclusiva passará de R$ 11,8 mil (salário de fevereiro) para R$ 17,1 mil. O aumento, neste caso, é de 45%.

Para o Andes, um dos problemas da oferta de reajuste é que o aumento de 45% só beneficia os professores com doutorado e em topo de carreira, que são uma parcela pequena do total de servidores.

Por Rafael Sampaio Do G1 SP
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