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DATA DA PUBLICAÇÃO 14/06/2009 | Cidade
Doação de área para Banda Lyra por decreto é um risco
A Banda Lyra vê o sonho da nova sede própria em Mauá entre a cruz e a espada. Na esperança de ter um espaço adequado para fazer seus ensaios, a direção espera que o terreno almejado, nas proximidades do Corpo de Bombeiros, venha por força de lei, e não apenas por decreto. O risco de adotar esta medida é que o ato pode ser desfeito a qualquer momento pelo chefe do Executivo, sem a necessidade de consulta à Câmara.

A solução arriscada é defendida pelo prefeito Oswaldo Dias (PT), que durante a campanha afirmou que Banda Lyra seria "prioridade". Mesmo assim, os vereadores do PT determinaram a retirada do projeto de lei que garantia, de forma definitiva e sem riscos, a doação da área aos músicos.

O medo do principal entusiasta da ideia da doação por lei, Carlos Binder, maestro da banda, é que no futuro o terreno cedido por decreto seja "retomado" da mesma forma. "Não posso trocar o investimento já feito em nossa sede atual pela construção em um local que não temos certeza se será permanente", explica.

Uma nova casa não é uma "questão de luxo" apenas, defendem os interessados no progresso da banda. Vizinhos da atual sede se mostram incomodados com ruído proveniente dos instrumentos e até a polícia já foi chamada para interromper ensaios no local. Em uma das ocasiões, todos acabaram na delegacia.

A falta de um lugar adequado para fazer soar trompetes e tambores em Mauá afora obriga o grupo a tocar de forma improvisada na Praça da Bíblia. A céu aberto, não é sempre que os músicos contam com as bênçãos de um dia ensolarado. O tempo fecha vez ou outra. No inverno, o frio e o vento mauaenses são implacáveis. Alguns integrantes são crianças, com 10 anos de idade.

Na manhã de ontem, o grupo de 300 pessoas buscou refúgio no ginásio da Associação Atlética Industrial. Sem vizinhos por perto, instrumentistas puderam ensaiar em paz. Quando a reportagem do Diário chegou, os músicos atacavam com "Thriller", de Michael Jackson. No fim, tocaram "My Way", de Frank Sinatra. É prova do repertório variado da banda, que completará amanhã 75 anos, lutando para continuar a existir.

Solução deverá ser discutida em sessão na Câmara de Mauá

Para os vereadores Átila Jacomussi (PV) e Manoel Lopes (DEM) - que fazem oposição ao governo de Oswaldo Dias (PT) em Mauá - a atitude do prefeito de não cumprir a promessa de realizar a doação de um terreno para a Banda Lyra é considerada um descaso. O assunto deverá ser levado para a tribuna na sessão de terça na Câmara.

"Estamos entrando em contato com a Banda Lyra. Queremos convidar os jovens e as famílias para mostrar para o prefeito a importância do grupo musical para a cidade. É o nosso orgulho. Só o Oswaldo Dias não consegue enxergar nada disso", afirmou Átila, que aposta na mobilização da população para conseguir agilidade do Executivo nesta questão.

Segundo ele, caso nada seja feito, a Banda Lyra pode acabar. "E o prefeito Oswaldo Dias é expert em detonar tudo que funciona".

O parlamentar Manoel Lopes lembra ainda que o problema poderia ter sido resolvido no fim do ano passado, se o projeto fosse aprovado na Câmara. "É uma situação muito complicada. Os jovens não tem local para ensaiar e está ficando enfraquecida. Nós, vereadores, acreditamos na promessa do Oswaldo em priorizar esta questão, mas ele não está cumprindo."

O investimento na Banda Lyra foi uma das grandes promessas do então prefeiturável para a Cultura na cidade e foi tema de discursos em palanque.

Fim do projeto ‘Música na Escola'' faz monitores deixarem a cidade

O fim do projeto Música na Escola, no início deste ano, impediu jovens que tocam na Banda Lyra de prosseguir com as instruções em 10 pontos da periferia de Mauá. Os 35 monitores ficaram sem salários, entre R$ 700 e R$ 1.000, e alguns deixaram a cidade em busca de oportunidades fora.

A saída dos músicos, a maioria deles formada na própria banda, traz uma queda de rendimento inevitável. Sem osintegrantes mais experientes, é natural que o grupo se sinta enfraquecido. "O ideal seria uma política de formação e retenção", diz o maestro Carlos Binder.

Aqueles que ficaram lembram de histórias vividas durante o período em que o projeto se manteve na ativa em bairros afastados. A memória traz situações onde a carência social é marcante. São relatos de como a música tocava fundo na rotina de quem vive abandonado pelo Poder Público.

Certa vez, o monitor Felipe Sangalli, 25 anos, saiu pelas ruas de um dos bairros periféricos chamando adolescentes para tomar parte no projeto. Foi abordado por um homem, que pediu que o seguisse até um barraco, sem se identificar. Com um sinal, chamou todos os jovens da área, ordenando que participassem das aulas de música. "Desconfio do que se tratava, mas acabou como algo bom", diz.

Os instrutores atuam também como assistentes sociais informais e mediadores de conflitos familiares nas áreas de risco. A violência doméstica entre seus alunos pautou a vida de Edenílson Jesus Lopes, 26 anos, quando dava aulas. "Uma vez, depois que uma conversa com as partes não surtiu efeito, até o Conselho Tutelar foi chamado", explica.

Os jovens músicos desenvolviam também atividades aglutinadoras na periferia. Diante da falta de condições dos alunos, Peterson Maxwell, 25 anos, organizou uma barraca do milho durante a festa junina em uma escola e contou com o auxílio dos pais. "Todo o dinheiro arrecado com a venda de pamonhas, pipoca e curau foi usado na compra de camisetas", recorda.

Nem sempre a recepção foi boa. Moradores já chegaram a atirar ovos, protestando contra o ruído. Mesmo assim, os instrutores têm a certeza de que a música não pode parar.

Por William Cardoso - Diário do Grande ABC
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