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DATA DA PUBLICAÇÃO 08/01/2011 | Saúde e Ciência
Depressão e dor nas costas
Quem aí conhece alguém que padece de dor nas costas? E alguém que ficou deprimido recentemente?

Ah, você mesmo está com o ciático incomodado e anda tristinho?

Bem, não sei se isso ajuda, mas você não está só, definitivamente.

O título acima e estas perguntas podem dar a falsa impressão de que dor nas costas e depressão são males relacionados. Podem até ser, mas por motivos diversos daqueles que determinam sua origem.

A associação entre os dois, na verdade, não é de minha lavra, mas foi pescada em uma dessas reportagens de fim/começo de ano em que, na ausência de fatos relevantes no noticiário, pesquisa-se mais e vai-se à cata, nos veículos de informação, de dados relevantes que possam ajudar a melhorar a vida das pessoas - nem sempre com êxito.

Mas a reportagem de TV a que me refiro detectou um aumento substancial e notável de afastamento de pessoas de seu trabalho por conta de dores nas costas. Mais: elencou casos em que o próprio trabalho era o responsável pelas dores, de modo que as vítimas foram à Justiça e ganharam reparação financeira pelo dano sofrido a serviço de outrem.

Daí, na sequência da matéria, veio a informação que me chamou realmente a atenção (mesmo porque dores nas costas são um tradicional elemento incapacitante, de acordo com a medicina do trabalho): estariam também aumentando insistentemente os casos de afastamento do trabalho por conta de episódios de depressão. E na mesma linha de raciocínio das dores nas costas/indenização, um especialista vaticinou: se ficar comprovado que a depressão foi originada pelas condições impostas e/ou por conta do próprio trabalho, o cidadão poderá, sim, exigir reparação financeira.

Quanto à primeira parte, parece bastante lógico que com o aumento das informações a respeito da depressão e da maior aceitação por parte da sociedade de que o conjunto de sintomas até pouco tempo considerados pouco mais que frescura, fraqueza ou mera preguiça venha sim a ser encarado como a moléstia incapacitante que em geral verdadeiramente é: quem passa por um episódio grave de depressão perde tantos referenciais íntimos, pessoais, de sua vida afetiva, conjugal, sexual, amor próprio, auto-estima etc., por qual razão não ocorreria o mesmo em relação à capacidade profissional? Quem passou por isso ou conviveu/convive com alguém acometido pela doença sabe do que estou falando.

Trata-se, então, de "aceitar a aceitação" da depressão como um oportunidade alvisareira para que haja o tratamento. Assim como é dada esta oportunidade para quem precisa cuidar de um órgão doente, uma febre forte ou... uma terrível dor nas costas.

Já com relação à opinião do especialista ouvido pela TV sobre a indenização, tenho cá minhas dúvidas.

Acho muito difícil sustentar a tese de que este ou aquele trabalho e/ou suas condições possam ser determinantes ou responsáveis pelo surgimento da depressão. Por um motivo muito simples: não existe consenso entre médicos, cientistas e estudiosos em geral sobre as causas verdadeiras, efetivas da depressão. A rigor, fala-se sempre de um conjunto de motivos geradores da doença, que pode ser agudizada por condições internas e externas. Sabe-se também, no entanto, que a depressão pode surgir do nada...

Quer um exemplo disso? Leia a bula de qualquer antidepressivo, sobretudo daqueles que atuam como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (isto é, que impedem a serotonina causadora do bem estar de deixar rapidamente o organismo, aumentando portanto a sobrevida das sensações agradáveis). Com quase total certeza você vai encontrar lá na bula alguma coisa assim: "supõe-se que este medicamente atue nos neurotransmissores etc. etc.".

E é isso mesmo, supõe-se. Assim como se supõe que a a depressão venha daqui e dali, podendo vir de qualquer lugar, não se tem certeza da maneira exata como os medicamentos agem, ou podem ou deveriam agir.

Na verdade, essa indefinição misteriosa acaba, no final das contas, aproximando depressão da dores nas costas.

Sabe, aquela dorzinha enjoada, ou aquela dor desgraçada, que deixa você torto e que você não sabe de onde veio? Pois é...

Luiz Caversan, 55 anos, é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos Cotidiano, Ilustrada e Dinheiro, entre outros. Escreve aos sábados para a Folha.com.

Por Folha Online
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