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DATA DA PUBLICAÇÃO 04/06/2009 | Turismo
Crise, preconceitos e São João
Crise do capitalismo, crise do capitalismo financeiro, ou apenas crise financeira internacional. Seja qual for a definição, o fato é que a crise jogou no vermelho negativo quase todos os indicadores econômicos do Ocidente. O comércio internacional caiu 17,5% entre outubro de 2008 e janeiro de 2009. Os investimentos produtivos estão sofrendo quedas superiores a 10% nos Estados Unidos, no Japão e na Europa. O consumo privado também. A única coisa da economia que subiu e continua subindo assustadoramente é o desemprego, que ameaça chegar ao segundo dígito em 2009.

Esse quadro está bem descrito e comentado na edição 942 da revista Exame. Mas o que a publicação, nem os seus ilustríssimos colunistas (Sachs, Stiglitz, Pescott e outros) não assinalam é a extraordinária e - literalmente - excepcional capacidade de resistência de um setor da economia mundial que detém o galardão de proporcionar oito entre cada 100 empregos no mundo, em 2007, e previsto para 12 empregos em cada 100, no ano de 2017, segundo o WTTC: o turismo.

Claro que o setor foi afetado pela crise, especialmente pela alta do querosene de aviação, principal item da planilha de custos das companhias aéreas, pelo desemprego e pela redução de custos das empresas no turismo de negócios. O turismo, segundo a Organização Mundial do Turismo, vinha crescendo a uma taxa anual superior a 7% e viu esse percentual de crescimento reduzido a 2% em 2008. Mas, ainda assim, não parou de subir.

Se levarmos em conta que o turismo representa, hoje, cerca de 10% do PIB Mundial, é um dos setores que mais empregam, e também que em 12 anos saiu de 536 milhões de viajantes internacionais (em 1995) para 924 milhões em 2008, a omissão só se explica pela incapacidade que esse setor revelou de se ‘vender'' à opinião pública, à academia, aos governos e aos analistas e planejadores econômicos.

Exceções para o genial Rômulo Almeida e o instigante ministro Mangabeira Unger, que incluíram e colocam setor nas suas formulações estratégicas.

Alguns teóricos como Joseph Chias e o inglês Jonh Howkins vinculam com competência o turismo à economia da cultura e às chamadas indústrias criativas.

Alguns políticos perceberam os vínculos indissolúveis entre cultura e turismo e - para o bem ou para o mal, como tudo na política e na vida - construíram uma praxis vinculada à atividade.

E Leandro Konder no seu comovente livro Memórias de um Intelectual Comunista lembra que para Karl Marx nem toda prática é praxis, esta última definida com uma ação submetida a uma reflexão dramática.

Mas em relação ao turismo os preconceitos estão à direita e à esquerda. No primeiro caso quando a análise se detém nas estruturas clássicas da produção como indústria, comércio e agricultura, perpassados, todos, pelo setor financeiro. O pensamento econômico mais conservador não reconhece nos serviços uma dinâmica vetorial criada a partir do desenvolvimento tecnológico. Mais especificamente no turismo, o grande salto dos 500 para quase 1 bilhão de chegadas internacionais ocorreu exatamente entre 1995 e 2008 com aumento quantitativo e qualitativo da comunicação por meio da internet, a massificação dos cartões de crédito, a automatização dos sistemas de vendas de tíquetes para transportes e serviços.

Já a esquerda intelectual parece ver o desenvolvimento tecnológico dos serviços, inclusive o turismo, como uma ameaça às letras, às artes e à natureza. Ironicamente, aqueles que defendem as massas preocupam-se com a massificação tanto da produção cultural como dos fluxos turísticos.

Mas o pior de tudo é que, estando no governo, nós de esquerda assumimos as duas formas de preconceito. Temos dificuldade de incluir turismo e cultura como vetores estratégicos do desenvolvimento econômico e na hora das restrições orçamentárias, o Ministério do Turismo teve 90% de seu orçamento contingenciado.

Para nós, o setor é apenas uma atividade. Não consegue ser praxis objeto de ‘reflexão dramática'' que leve em conta o fato de que o turismo movimenta 52 elos de uma cadeia produtiva, que é capaz de, em três meses de qualificação, transformar um desempregado em um garçom.

O São João da Bahia, por exemplo, muito mais que uma linda festa, é um poderoso alavancador da economia industrial (cervejas, destilados, roupas, tênis, combustíveis, eletricidade), da economia familiar (milho, amendoim, licores, doces, bandeirolas, fogos) e do setor de serviços (transportes, hotéis, casas alugadas, postos de gasolina, técnicos de som e luz, músicos, cantores); tudo isso gera riqueza.

Gerando riqueza, gera empregos. Gerando empregos, gera renda. Gerando renda, gera impostos. E gerando impostos, gera serviços públicos que, por sua vez, geram empregos.

No governo federal parece que só o Ministério do Turismo, a Petrobras e a Caixa Econômica Federal, que lançou o Cartão Turismo Caixa em 24 prestações, perceberam isso. Espero que o trade turístico da Bahia aproveite a oportunidade para trabalhar o produto São João da Bahia em 24 suaves prestações mensais, fazendo do tradicionalmente difícil mês de junho um São João contra a crise.

Domingos Leonelli Neto é secretário de Turismo da Bahia.

Por Diário do Grande ABC
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