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DATA DA PUBLICAÇÃO 26/12/2011 | Cidade
Crianças chamam de ''piscinas'' tanques de chorume de aterro desativado pela prefeitura
Desativados entre os anos de 1974 e 2007, a maior parte dos antigos aterros sanitários da cidade de São Paulo ainda atua no cotidiano das pessoas que moram em suas redondezas. A reportagem do R7 visitou 10 dos 16 antigos aterros mapeados pela Prefeitura de São Paulo e constatou que os moradores dos arredores convivem com problemas que vão desde rachaduras em suas casas à contaminação da água por chorume.

Na Vila Albertina, bairro na zona norte onde um aterro de mesmo nome funcionou entre os anos de 1977 e 1993, os moradores reclamam da poluição gerada pelo depósito de resíduos sólidos. Na rua José Aguirre de Camargo, onde a populosa zona norte faz fronteira com a área ambiental protegida da Serra da Cantareira, um córrego que passa pela rua está contaminado por lixo, atraindo bichos e provocando mau cheiro, como conta o motorista André Gonzales Martinez, morador do bairro desde 1985.

- A água corre por ali e, como tinha o lixo, fica contaminada pelo chorume. A serra tem muita água, e com o lixo polui tudo.

Numa comunidade com muitas crianças e poucas opções de lazer, o aterro é vigiado por seguranças 24 horas por dia. De acordo com Aparecido Pimenta, vice-presidente de um CDC (Clube da Comunidade) que funciona no bairro, a vigilância serve, inclusive, para impedir que as crianças tentem invadir o local. No antigo aterro há dois tanques de tratamento de chorume que não têm cobertura. Questionadas pelo R7 se já haviam tentado entrar no terreno para brincar, as crianças se referiram aos tanques como “piscinas”.

Um projeto de lei do vereador Ushitaro Kamia que pretendia transformar a área num parque não prosperou na Câmara. Na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, foi considerado ilegal pelos demais vereadores, que afirmaram que a competência para a criação de parques é exclusiva da prefeitura.

O R7 entrou em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura para saber se existe algum projeto de se fazer um parque no local, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Dois antigos aterros na zona leste de São Paulo serão transformados em área verde.

Zona leste
Em outro extremo da cidade, onde a zona leste faz divisa com o município de Mauá, o antigo aterro Sítio São João gera menos problemas aos moradores de seu entorno desde que foi desativado, em novembro de 2009 - não há córregos que passem pelo terreno do aterro, ou casas imediatamente ao seu redor. Entretanto, a abertura de um novo aterro – o Centro de Tratamento de Resíduos Leste – do outro lado da estrada de Sapopemba, onde funcionava o São João, dificulta a vida dos moradores.

Em visita ao local, o R7 constatou que o lixo depositado no aterro provoca um forte mau cheiro. O técnico de manutenção de informática Rogério Santos Dumas, de 37 anos, conta que é difícil fazer as refeições em sua casa por causa do odor.

- É fedor dia e noite. Acabei de comer e já embrulhou o estômago.

De acordo com ele, as crianças da comunidade vivem passando mal e os médicos não conseguem encontrar os motivos das doenças.

- As crianças passam mal, têm diarreia, vômitos. Minha filha de 15 anos está doente direto. O meu de 14, também.

Além do cheiro, os moradores reclamam que o lixo atrai moscas, ratos, baratas e até cobras ao bairro.

Uma pesquisa realizada pelos professores Nelson Gouveia e Rogério Ruscitto, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), em 2009, analisou a relação entre casas próximas a aterros e a ocorrência de câncer e más-formações congênitas. Não foi comprovada uma associação direta, mas os resultados foram significativos para câncer de fígado na área do aterro Carandiru, na zona norte de São Paulo. Os pesquisadores também pontuam no estudo que “as substâncias potencialmente tóxicas do lixo, as evidências de contaminação do solo e da água, devem ser considerados na política de gerenciamento dos resíduos.

Zona norte

Em parte da área ocupada pelo antigo aterro Damasceno, na zona norte de São Paulo, está o projeto social Arte na Rua, que atende 82 crianças e recebe dinheiro da prefeitura. Segundo a diretora da entidade, Gisele de Oliveira, o problema ali é a movimentação do solo. Ela conta que o espaço, com piso de cimento e paredes de folhas de madeira, passa todos os anos por reformas.

- O chão vive rachado, mesmo com as reformas que fazemos anualmente. Estou aqui há sete anos e, durante esse tempo, não vi nenhum funcionário da prefeitura fazer uma análise do terreno para ver se há riscos de permanecermos aqui.

A prefeitura não respondeu ao R7 se o terreno ainda precisa de monitoramento.

O analista de sistemas Manuel Costa, que vive no Jardim Damasceno (zona norte) há 35 anos relembra que o aterro que existia na região foi ocupado por moradias irregulares logo após sua desativação, em 1972. Na época, eram comuns “explosões por causa do gás que saía da terra e as casas de madeira não se sustentavam no terreno".

A cerca de 500 m do projeto social fica o conjunto de casas da Quadra 1. A dona de casa Gicélia Maria Clementino diz que, no início do ano, "pessoas de uma empresa vieram até a vila e instalaram canos debaixo da terra". Um dos drenos, tubo por onde possíveis concentrações de gás metano são lançadas para atmosfera evitando explosões, foi instalado na parede de um sobrado. A ponta estava fechada e terminava na lavanderia da casa de Gicélia.

Vistoria

Em tese, os aterros sanitários são monitorados por cerca 20 anos após o fechamento deles. O período de análise de riscos pode ser estendido de acordo com a necessidade de cada área, explica o engenheiro Cristiano Kenji Iwai.

Em áreas ocupadas por habitações irregulares, acrescenta o geólogo Francisco Jorge Nogueira da Silva, o principal problema, mesmo após três décadas do fechamento, é a concentração de metano.

- Lugares fechados sem ventilação constante podem favorecer explosões causadas pelo metano. O gás oferece riscos quando tem concentração de 15% a 45% na composição do ar. Outro problema é que o solo desses aterros não é o mais adequado para fundações das casas.

Em nota, a assessoria da Prefeitura de São Paulo diz que, o Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) "informa que a área conta com captação de chorume e de gás metano, por meio de drenos instalados sob a área". O comunicado não explicou, no entanto, porque um dos drenos, instalado na parede lateral de uma das casas, tinha a saída fechada por uma tampa plástica.

Por Fernando Gazzaneo e Gabriel Mestieri, do R7
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