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DATA DA PUBLICAÇÃO 20/08/2014 | Política
Com R$ 27 por dia, cabos eleitorais desejam fim de subemprego no Rio
Alguns levam crianças para o trabalho, enquanto observam cavaletes.

Na dúvida em quem votar, eles compartilham sonho de um emprego fixo.


Às vésperas das eleições, os sorrisos de candidatos a cargos do Legislativo e do Executivo estampam cavaletes espalhados pelas ruas do Rio de Janeiro. Escondem, no entanto, homens e mulheres sentados em bancos de plástico, cuja missão é vigiar as propagandas políticas. Com ganhos de, no máximo, R$ 800 por mês – cerca de R$ 27 por dia – e sem carteira assinada, eles sonham com o fim do subemprego, independentemente de quem for eleito.

O formato da propaganda com cavaletes, que é permitido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), impulsionou o "bico" na capital fluminense. Com a proibição de se prender cartazes em via pública, após decreto de 1997, a nova função surgiu como opção para desempregados e estudantes. O G1 conversou com alguns deles, todos moradores de comunidades próximas de onde trabalham: Chácara do Céu, Turano e Campo da Paz, na Região Metropolitana do Rio.

O serviço dura de seis a oito horas diárias, mas são raros os que ganham almoço ou têm transporte até o local onde exibem seus cartazes. Quando se dão ao luxo de uma carona, a van passeia pela comunidade recolhendo a mão de obra. Em alguns casos, os cabos eleitorais trabalham até 15 dias sem interrupção.
Cabos eleitorais levam filho para trabalho na Zona Oeste do Rio (Foto: Gabriel Barreira/G1)Cabos eleitorais levam filho para trabalho na Zona
Oeste do Rio (Foto: Gabriel Barreira/G1)

Sem ter onde deixar filhos e irmãos pequenos, há quem leve as crianças para o trabalho. É o caso de um casal que mora no Largo da Barra e trabalha para um morador da comunidade, que sonha ser deputado em mais uma eleição. Até hoje, não conseguiu. Eles vivem de "bicos" e o marido diz que está "faltando oportunidade".

"Trabalho é trabalho. Se tiver frio, tem que trazer um casasco. Se chover, a gente se protege no cavalete mesmo. O problema é que ele é furado para não voar, vai acabar molhando a gente. Já estudei, mas parei e agora quero achar um trabalho fixo. Quero ser autônomo para não ter que estudar para caramba e ter que ouvir patrão ficar de blablablá", disse o homem. Dos entrevistados foi o único que garantiu votar no empregador, confiante nas melhorias da comunidade onde moram.

Senhora de 59 anos pede 'emprego decente'
A principal preocupação de quem trabalha neste ramo é de que a fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) veja a placa abandonada, sem ninguém por perto. Se isto acontece, a propaganda é recolhida. Outro medo é que a fiscalização do próprio candidato veja a placa solitária. Neste caso, a diária é suspensa. Com medo de represálias, alguns deles preferiram não se identificar a reportagem do G1.

Maria de Fátima Geraldo não teve medo de falar, só pediu para não ter o rosto fotografado. Ela já trabalhou como operadora de caixa, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de expedição e no estoque de uma grande loja. Aos 59 anos, tem dificuldade para encontrar emprego. "O que [os candidatos] podiam fazer é nos ajudar a ter um emprego decente. Não é de hoje que estou procurando e não me dão oportunidade. Agora tem as eleições, mas, e depois? A única coisa que sei é que, antes de votar, a gente tem que pensar bastante", decretou.

A estudante Marcelli é menos enfática, mas também não vai votar no candidato para quem entrega panfletos em uma praça na região central. Ao mesmo tempo, ela observa o cavalete de um partidário — embora, nem por isso, ganhe pelo trabalho de duas pessoas. "Votar nesse candidato aí? Não sei nem qual é a cara dele! Quer dizer, sei, mas estão nos dando uma miséria", disse ao lado da amiga Adrielly.

Saudosa, a colega relembra os tempos de atendente em um fast food. "Aqui não dão nem o almoço, vê se pode! A gente até pode comer em casa, mas o tempo de subir o morro e descer, já recolheram minha placa", lamenta a moradora de uma favela na Zona Norte.

Parente no hospital, irmã no trabalho
Manicure desempregada, Paloma sonha fazer um curso de cabelereiro para voltar a trabalhar em salão e reconhece que o trabalho é temporário. Fixa perto de uma universidade, costuma ser questionada pelos estudantes quem será seu escolhido. "Sempre falo: 'gente, o voto é secreto'", desconversa. "Todo mundo pergunta, mas digo que só estou trabalhando para ele [o candidato] porque preciso". Moradora do Vidigal, na Zona Sul, ela trabalha desde os 18 anos e se viu desempregada há pouco tempo.

Em uma segunda-feira de agosto, precisou levar a irmã para o trabalho, que ficou protegida debaixo do cavalete. Um parente que cuidaria da menina de menos de 4 anos precisou ir a um hospital público ali perto.

Por Gabriel Barreira - G1, no Rio
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