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DATA DA PUBLICAÇÃO 12/07/2009 | Cidade
Cidadão é vítima da calçada que constrói
Garotas com saltos quebrados, meninos com joelhos ralados ou dentes trincados, idosos que caem, machucam-se e demoram para se recuperar. Muitos desses resultados de acidentes que acontecem nas calçadas do Grande ABC poderiam ser evitados se as normas estabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para a construção do passeio público fossem seguidas pelos cidadãos e fiscalizadas pelas prefeituras. As administrações públicas elaboram projetos inovadores de acessibilidade e disponibilizam investimentos para as proximidades de prédios públicos, mas desviam o olhar das dificuldades de se transitar em outras áreas.

O desconhecimento torna a população, ao mesmo tempo, autora e vítima das pegadinhas espalhadas pela cidade. Degraus, rampas, árvores, postes, lixeiras podem se tornar armadilhas se instalados em locais inadequados. E as regras são simples. Basicamente, é necessário um espaço livre sem degraus nem mobiliário urbano no meio da calçada.

A convite do Diário, a aposentada Giacomina Rinaldi Assumpta Daros, 78 anos, de Santo André, e a auxiliar de produção Eveline Sushioj de Souza Moreira, 22 anos, de São Bernardo, viveram o desafio de andar pelas ruas do Centro das cidades e descrever suas dificuldades.

Os secretários de Obras e Serviços Urbanos de Santo André e São Bernardo também foram convidados para andar por algumas ruas das cidades e comentar a qualidade da manutenção das calçadas, porém não deram resposta.

Para o arquiteto e professor de Acessibilidade da ABNT, Gustavo Partezani, as prefeituras deveriam padronizar o sistema de calçamento e dessa maneira ter maior controle de gestões importantes como construção, topografia, manutenção e até o plantio de árvores, que às vezes não são adequadas e suas raízes acabam quebrando os calçamentos. Pela atual legislação, as calçadas são de responsabilidade do dono do imóvel diretamente à frente.

Sobre as adaptações para quem tem necessidades especiais, o especialista considera o atual sistema incompleto. "As prefeituras fazem muito marketing com esse assunto, mas na verdade precisam trabalhar melhor, pois há falhas no desenvolvimento do processo", apontou. "Nem sempre os deficientes conseguem chegar de um lugar a outro de maneira segura, pois existem problemas de medidas na construção das rampas, tornando o mobiliário urbano mal-aproveitado", explicou Partezani.

Aposentada não pode desviar olhar do chão para caminhar
"Desculpe se eu não olhar para você enquanto andarmos. Tenho de ficar atenta para não tropeçar", avisou a aposentada Giacomina Rinaldi Assumpta Daros, 78 anos.

Com um tênis confortável ela faz questão de apontar os inúmeros buracos e árvores que estouram o pavimento das calçadas no percurso pelas ruas Correia Dias, Xavier de Toledo, Senador Fláquer e Francisco Amaro, todas no Centro de Santo André.

No caminho de cerca de 20 minutos que faz diariamente para chegar à Faculdade da Terceira Idade, Giacomina vai apontando os desníveis e os pequenos espaços que há entre as calçadas, o que muitas vezes obriga as pessoas a andarem pelas ruas.

O salto alto é um complicador a mais para Eveline Sushioj de Souza Moreira, 22 anos, de São Bernardo, que também não se atreve a tirar os olhos dos obstáculos que estão a sua frente andando por travessas da Rua Marechal Deodoro, no Centro.

Entre um desvio e outro por uma rua, Eveline se depara com um gradil que prende o salto do sapato. "Olha só que perigo! Já tropecei e escorreguei várias vezes. É muito ruim, pois as calçadas quebradas pelas raízes das árvores, por exemplo, causam desequilíbrio na hora de trocar o passo e aí acontecem os acidentes", lamentou.

Prefeituras alegam que vistoriam passeios
As prefeituras do Grande ABC garantem que fazem fiscalização rigorosa da qualidade de calçadas, que são de responsabilidade dos proprietários de imóveis diretamente à frente. No entanto, só Ribeirão Pires e Diadema informaram ao Diário quantas notificações foram emitidas neste ano; respectivamente, foram 600 e 200.

As multas são a partir de R$ 72 o metro linear irregular. São Bernardo, no entanto, não calcula a punição por espaço - cobra multa de R$ 210,30 para qualquer calçada errada. Depois de multados, os proprietários têm 30 dias para regularizar o passeio de acordo com as normas técnicas.

A Prefeitura de Santo André informa que está elaborando programa de melhorias de acessibilidade das calçadas existentes, principalmente no que tange aos degraus.

O Diário esteve nas ruas do bairro Cidade São Jorge e presenciou o drama do aposentado Valdemar Batista de Oliveira, 79 anos, para subir as calçadas íngremes, com buracos e degraus enormes. "Infelizmente falta mais educação para as pessoas. Como o bairro é alto e tem muitas subidas, o calçamento fica comprometido pois não cuidam. A Prefeitura deveria exigir mais de todos."

Em São Caetano, a administração faz um estudo chamado Hierarquização do Sistema de Passeios, dividido em três categorias: eixos viários estruturados (onde foram investidos R$ 600 mil para calçamento), centros de bairros (também R$ 600 mil) e ruas de bairros (R$ 300 mil).

Ribeirão Pires informou que recentemente efetuou manutenção do calçamento das principais vias. As Prefeituras de Mauá e Rio Grande da Serra não manifestaram posicionamento sobre as iniciativas de melhoria para os calçamentos das cidades.

Instalações comerciais e falta de iluminação prejudicam pedestres
O urbanista e engenheiro civil Luiz Sergio Mendonça lembra que, além dos desgastes de buracos e desníveis nas calçadas, existem instalações erradas de bancas de jornais, árvores e lixeiras no meio do passeio, quando deveriam estar no meio-fio.

"As mesas e cadeiras que os bares colocam nos caminhos de pedestres também dificultam a acessibilidade de todos. Isso só demonstra que cada um faz o que quer e foge ao controle das fiscalizações", explicou Mendonça.

Para o técnico, a saída para melhorar o calçamento seria uma normatização elaborada pelas prefeituras e que houvesse amplo trabalho de divulgação do que deve ser seguido como padronização de pisos e melhoria nas acessibilidades das esquinas para cadeirantes. "Muitas cidades não têm posições definidas nas medidas da calçada", salientou o engenheiro.

Luz - A especialista em trânsito Cristina Baddini chama atenção para ponto de responsabilidade das prefeituras: a melhoria da iluminação nas calçadas à noite. "O sistema muitas vezes atende apenas os carros nas ruas e os pedestres nos passeios ficam prejudicados", explicou.



Com precariedade dos pisos, sapateiros ganham clientes
Enquanto as calçadas continuam precárias, os pedestres acumulam prejuízos. Danos à saúde e aos calçados são os principais resultado dos passeios irregulares da região.

Há 31 anos com seu estabelecimento instalado na Vila Assunção, em Santo André, o sapateiro Irani de Souza Reis garante que conserta cerca de 150 pares de sapatos por dia, sendo que 140 deles são de mulheres. "Elas reclamam que o salto saiu porque ficou preso em algum gradil na rua ou danificou na calçada. Outro problema muito frequente é o salto quebrar porque elas torcem o pé", contou.

O profissional estima que um calçado feminino, após trocar a base do salto, chega a durar apenas 15 dias em boas condições. Para trocar a sola e o salto o custo médio é de R$ 50. Já a sola de um sapato de homem dura pouco mais de seis meses. O cliente paga em média R$ 40 para o conserto.

Acidentes - O tempo para uma pessoa se recuperar depois de cair ou torcer o pé em uma calçada é de 15 dias a um mês, segundo o ortopedista Renan Lopes Monteiro, de Santo André. "Dos cerca de 25 pacientes que atendo diariamente trabalhando meio período, pelo menos um se acidentou na rua", disse.


Por Kelly Zucatelli - Diário do Grande ABC
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