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DATA DA PUBLICAÇÃO 11/03/2016 | Saúde e Ciência
Cesárea ainda lidera decisão de partos no Brasil
Cesárea ainda lidera decisão de partos no Brasil Foto: Claudinei Plaza/DGABC
Foto: Claudinei Plaza/DGABC
O Brasil está entre os países que mais realizam cesarianas no mundo. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2014 foram cerca de 1.696.535 cirurgias somente na rede pública, e cerca de 1.275.290 partos naturais. Dados de pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), apontam que a rede pública de saúde realiza cerca de 46% de seus partos pelo método da cesárea. Esse número é ainda maior se olharmos a rede privada, com 88% da demanda. Porém, o estímulo aos métodos humanizados para o parto normal tem chamado a atenção de gestantes.

Muitas mães querem o parto natural no começo de sua gestação, mas por uma série de razões acabam optando pela cesárea. “O crescimento dessa taxa se faz durante o pré-natal. Muitas mulheres desinformadas que têm medo de parto normal acabam sendo assustadas pelos médicos durante a gestação, fazendo com que optem pela cesárea”, explica a médica de família e comunidade e parteira Daniela Dantas.

“A agenda médica também é uma influência na marcação de cesáreas, por ser mais fácil para os obstetras, além do tempo. Enquanto no parto normal teriam que ficar cerca de 12 horas à disposição da gestante durante o trabalho de parto, na cesárea eles gastam, em média, uma hora para fazer o bebê nascer”, conta Daniela. “O ideal seria que toda mulher tivesse parto humanizado ou natural, sem nenhuma intervenção médica”, salienta a médica.

Mas, a obstetra do Hospital e Maternidade Brasil, em Santo André, Janifer Trizi alerta para possíveis complicações na hora do parto. “Sou favorável ao parto humanizado, porém dentro de um ambiente onde eu possa monitorar e controlar todas as possíveis complicações e dar tempo de salvar mãe e bebê”, detalha a médica.

“Há vários tipos de complicações que podem ocorrer na hora do parto como, hemorragia, o bebê pode ficar preso durante muito tempo no canal do útero e perder oxigenação, o que poderá evoluir para um quadro de paralisia cerebral, além de algumas mães correrem o risco de convulsionar. Nesses casos terão de ser removidos (mãe e bebê) para uma unidade hospitalar, mas pode ser tarde”, alerta Janifer.

Existem diferenças entre parto natural, cesárea e humanizado. O parto natural respeita todo o processo natural de nascimento, mas muitas vezes é feito com intervenções médicas para acelerar o parto feito no hospital. Anestesia, ruptura da bolsa com uma espécie de agulha, episiotomia (corte no períneo), são considerados procedimentos de rotina dentro das maternidades. O bebê nasce por meio vaginal, mas não foi 100% natural.

Em casos em que a mãe e o bebê correm risco iminente à vida durante o parto, é aconselhável a escolha pela cesariana, por ser o método mais garantido para a situação daquele momento. Todavia, deve-se considerar que a cesárea é uma cirurgia de médio porte e também pode oferecer riscos, como o aumento de infecção e hemorragia.

Já o parto humanizado é um método que coloca a mulher como protagonista, pois será ela quem decidirá a melhor posição para diminuir as dores das contrações, onde seu bebê nascerá, quem estará presente, etc. Quando o bebê nasce, é levado imediatamente para o contato da mãe, acentuando o afeto entre ambos. Pode ser realizado tanto em casa quanto no hospital.

“Durante minha primeira gestação, tive um atendimento precário no pré-natal e depois de 12h de parto me indicaram a cesariana. Com seis meses de vida, descobri que minha filha tinha paralisia cerebral. Como fiz poucos exames de pré-natal e não tive informações completas do meu prontuário da cesárea e pós-parto, não consegui identificar a causa da paralisia”, conta a enfermeira Ellen Rauber, de São Paulo.

Após a experiência, Ellen decidiu se especializar no atendimento humanizado para dar qualidade às mulheres na hora do parto. Depois de trabalhar no Hospital Amparo Maternal, a enfermeira percebeu que as necessidades das mulheres se estendem além da gestação e parto, então ela e suas parceiras de equipe decidiram se especializar em amamentação, preconcepção e ginecologia através de fitoterapia. Juntas fundaram, em setembro de 2012, a GestCare, que atende a domicílio a região e a Capital.

“Para o atendimento do parto domiciliar a equipe leva muitos materiais, desde equipamentos para medir os batimentos cardíacos do bebê e para atendimentos de emergência, até medicações. Tudo é pensado e planejado para garantir uma assistência adequada e segura para mãe e o bebê” conta a também enfermeira obstetra Kamila Redezuk.

A doula e psicóloga Ana Paula Machado detalha que buscar conhecimento sobre esse tipo de parto é o melhor caminho. “Informação é sempre a chave para o empoderamento dessas mulheres e de seus parceiros. Com informação, elas se sentem mais seguras sabendo o que podem esperar e o que pode ser inesperado nesse momento”.

Para as profissionais, o preconceito, às vezes, é um empecilho para a tomada de decisão sobre optar ou não pelo parto humanizado. “Talvez se nossa cultura valorizasse e respeitasse o parto natural, mais mulheres se sentiriam seguras para parir, inclusive em casa. Não acredito que nossa cultura deva incentivar o parto domiciliar, mas sim o parto natural” afirma Ellen.

“Criou-se uma cultura de que a cirurgia é um método mais seguro e indolor, porém a realidade é que a cesárea é uma cirurgia de médio porte e como qualquer outra, oferece riscos. Por isso, a importância de levar informação a essas mulheres sobre o parto humanizado. Não é apenas um parto normal, mas um parto centrado no protagonismo feminino, unindo boa assistência com evidências científicas" conta Kamila.

Escolha pelo Parto Humanizado

Luciana Veira, 35 anos, de Santo André, sempre desejou fazer o parto normal, mas tinha medo de ter o bebê em hospital e ser submetida a uma cesárea desnecessariamente, por isso, escolheu o parto domiciliar. “A preparação para o parto é bem gostosa, com muitas dicas de leitura e filmes. Minha doula também me sugeria estimular a memória muscular fazendo aulas de dança e pilates, o que me traria uma conexão com o bebê. A Ellen vinha em casa uma vez por mês para fazer o pré-natal”, conta.

Luciana deu à luz há sete meses e garante que foi o melhor método para ela. “A forma como se nasce impacta no futuro do bebê e eu queria que ele não tivesse nenhum tipo de problemas por causa do parto”, acrescenta a mãe.

Sobre os preparativos para o parto, Luciana esclarece: “Elas me deram uma lista de coisas que precisavam estar prontas até a 37ª semana de gestação, mas trouxeram diversos outros equipamentos, como a piscina. Elas prepararam todas as opções que tive para o parto e me deixaram livre na hora para escolher o melhor local.”

A mamãe de primeira viagem aprovou muito o método humanizado de nascimento e sempre que pode recomenda. “Sempre que eu percebo que a pessoa tem interesse, conto como foi e recomendo o método, mas não são todas as pessoas que aceitam. Não contei nem para os familiares que tinha optado pelo parto em casa pelas represálias sofridas”, revela.

Carolina Meira, 26 anos, de São Paulo, sempre quis ter parto normal. “Conheci o parto humanizado há muito tempo, sempre busquei na internet coisas sobre o assunto”, detalha a gestante que terá seu primeiro bebê em casa. “O que mais me motiva a ter meu filho em casa é a recepção do bebê.”

Para a futura mãe, o primeiro passo a ser dado é não contar a ninguém sobre sua decisão de ter o bebê em casa. “O preconceito das pessoas é muito grande, sempre vão te julgar sem dúvidas. “Não estou tão preocupada com a hora do nascimento, mas sim com o pré-natal e a saúde do meu bebê. O trabalho emocional é muito importante. Busco isso através de grupos de apoio com outras mulheres que querem o mesmo tipo de parto”, conta a mamãe que está bem tranquila com todos os preparativos.

Registro

Luciana teve problemas também para registrar o pequeno Santiago. “O cartório e a Secretaria da Saúde de Santo André demoraram cerca de três dias para liberarem a DNV (Declaração de Nascido Vivo). O cartório queria que eu fosse ao Hospital da Mulher, na cidade, para que esse documento fosse liberado, mas iria constar que o Santiago nasceu lá, coisa que não aconteceu e eu não queria isso”, afirma.

O oficial de cartório Marco Antonio Greco, afirma que esse método é menos demorado atualmente. “A DNV e o registro saem na hora, mas confesso que o sistema poderia ser um pouco mais flexível. O ideal seria que a Secretaria de Saúde deixasse algumas vias aqui conosco, porém eles não liberam fácil”, conta o oficial.

Por Joyce Galdino - Especial para o Diário OnLine
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