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DATA DA PUBLICAÇÃO 15/03/2010 | Turismo
Caleidoscópio de paisagens colore rafting nas águas do Jalapão (TO)
Aventurar-se de rafting no Jalapão exige esforço. Mas talvez o maior de todos os desafios seja conciliar a contemplação da natureza com movimentos e comandos indispensáveis para manter o bote sobre a água e, é claro, a si mesmo dentro dele.

Num lugar repleto de atrações e ainda pouco explorado pelo homem, é fácil perder a cabeça e se entregar de braços abertos às paisagens virgens que, a cada momento, adquirem novas cores e formas.

Em certos momentos, o cenário lembra a África; noutros, o Pantanal. A visão bagunça a cuca com imagens que nos remetem a desertos e chapadas. Esse caleidoscópio de referências só justifica a autenticidade de um recanto como aquele, um oásis à brasileira, cravado no Norte do país, no Tocantins.

E o rafting, esporte em que se desbravam belas corredeiras descendo a bordo de um bote, é uma prática privilegiada para essa descoberta. Nas águas transparentes do rio Novo, nuvens esparsas refletem num imenso tapetão anil. Cerca de 50 m separam as margens cobertas por uma mata de transição entre o cerrado e a caatinga, com árvores retorcidas.

Dentro do bote, sete aventureiros e um guia remam com a forcinha do vento. Uma revoada de araras-azuis, aves ameaçadas de extinção, rabisca o céu e rompe o silêncio na hora em que cruza as matas ciliares em direção aos buritis. Quando a contemplação parece pautar o trajeto, eis que a força sonora da queda-d'água abre as comportas da adrenalina.

Rapidamente, ela toma o corpo. Remar, segurar e sentar dentro do bote, não necessariamente nessa ordem, tudo isso funciona como um mantra de sobrevivência nas corredeiras do Jalapão. O problema é que, a todo momento, olhos e mente quebram esse protocolo. Querem mesmo é passear.

Numa das áreas menos povoadas do país, bem no coração do Brasil, o Parque Estadual de Jalapão ocupa uma área de cerca de 34.000 km2, pouco menor que o Estado do Rio de Janeiro. Faz divisa com a Bahia, o Maranhão e o Piauí --o nome, Jalapão, é homenagem à erva jalapa-do-Brasil, encontrada em toda parte. Com uma área dessas, é justificável que os passeios sejam separados entre si por quilômetros de distância. Mas, acredite, vale a pena o esforço.

A jornada contempla chapadas de até 800 m, rodopios em dunas de 40 m, ora alaranjadas, ora avermelhadas, que se formam devido à decomposição do arenito de um chapadão na serra do Espírito Santo, e acampamentos em vilarejos. Banhos em lagoas, rios e cachoeiras são consequência da travessia.

A diversão não para por aí. O refresco chega em doses generosas para quem mergulha, por exemplo, no poço Fervedouro, de água cristalina e morna, com bolhas de ar na superfície. É tanta água que brota do chão de areia fofa, sob uma paisagem árida e um sol de ferver o coco que beira os 40ºC! O afloramento da água vem em grande pressão e provoca um fenômeno que não deixa o banhista afundar. Aí é só curtir a sensação de ficar flutuando naquelas águas claras.

Sem ser semeado

Embarcar numa expedição ao Jalapão obedece a critérios e escalas, misturado a um clima de desbravamento. Nos dois primeiros dias, o acampamento é montado, respectivamente, numa fazenda e em uma comunidade, a Mumbuca. Lá, os moradores dão boas-vindas aos forasteiros, encenando uma peça que conta a saga do capim-dourado, um tipo de sempre-viva cuja haste é usada no artesanato.

O capim, mesmo sem ser semeado, nasce em áreas alagadiças, comuns nas veredas da região, junto às fileiras de buriti. A colheita é feita em setembro e outubro. Ele é a principal fonte de renda da comunidade quilombola, formada por 45 famílias, com uma população estimada em 150 pessoas. As mulheres do vilarejo confeccionam bolsas, potes, tapetes e outros produtos do artesanato característico do Jalapão, que hoje é até exportado, tudo de capim-dourado. Lentamente, os 22 integrantes do grupo vão aprendendo a viver com menos e a se divertir cada vez mais. Só que a grande vedete dessa aventura é o rafting de três dias nas águas do rio Novo.

O programa é o seguinte: ao acordar, o acampamento é desmontado, o café da manhã é servido e botes são lançados ao rio. O número de participantes é dividido em três botes, cada um deles conduzido por um guia especializado. E vamos remar. Pausa para um lanche ao meio-dia, e a viagem segue seu curso.

No final da tarde, parada geral. Ergue-se um novo acampamento em uma praia deserta e de areia fina, cercada por um visual intocado. À noite, jantares ao redor da fogueira. Rola sempre uma surpresa, quem sabe um vinho tinto chileno no cardápio.

No primeiro dia, as corredeiras do Novo são levíssimas e vão crescendo nos seguintes, espécie de preparação para o "gran finale". Léguas de distância separam os aventureiros de qualquer traço da chamada civilização.

Durante três dias de rafting, o grupo fica totalmente mergulhado nesse cenário ainda preservado, onde a noção do tempo é regulada pelas atividades na água. É claro que, para entrar em sintonia com esse patrimônio de exuberância, é preciso abrir mão de certas regalias. Dorme-se em barracas. Em contrapartida, elas são iluminadas por um céu cravejado de estrelas. Dá uma sensação danada de que a Terra está mais próxima dele.

Celular? Esqueça. Banho é de rio, com peixinhos beliscando os pés. Também é lá que os dentes são escovados. O "banheiro" é a "caixa-bomba". O objeto, uma caixa com produtos químicos que recebe tanto o 'número 1' como o ''2', é instalado no meio do mato.

Sua "mala" terá que ser reduzida a um kit de roupas e produtos básicos de higiene. No começo, há quem reclame. Com o tempo, as exigências vão sendo substituídas pelo entrosamento dos viajantes com a natureza.

Cheio de estrelas

Imagine acordar com o canto de um bando de pássaros-pretos ou ter como despertador o escarcéu de casais de araras-canindés. Ou estar no "trono" e assistir ao rasante do pato-mergulhão, bicho com uma população estimada em 200 indivíduos, nativa do Jalapão, da serra da Canastra e da chapada dos Veadeiros. O banho seguinte vira festa. Secador de cabelo? Até a mais dondoca das dondocas desencana.

Pouco a pouco, o Jalapão promove comunhões. No final do passeio, botes se aproximam da queda de 20 m da cachoeira da Velha, que cai sobre o rio Novo em forma de ferradura. Em seguida, um a um, os botes vão entrando por detrás dela, protegidos por um manto de água de 100 m de largura.

Paulistana acostumada a viajar, a psicóloga Geni Santiago, 49, debutou no quesito acampamento. Ela não, a família. Ao lado do marido, João, 58, e dos filhos Pedro, 19, e Isabela, 13, Geni era só alegria. "Se soubesse antes como era, com toalete improvisado numa caixinha e dormir sobre colchão inflado dentro de uma barraca, não teria vindo. Mas agora que descobri os encantos de viver sob a regência da natureza, não tenho dúvida. Faria tudo outra vez." O Jalapão tem esse poder catequizador. Quem pisa lá volta, definitivamente, seu discípulo.

O jornalista voou a Palmas a convite da TAM

Por Roberto de Oliveira - Revista da Folha / Folha Online
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