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DATA DA PUBLICAÇÃO 22/07/2008 | Política
Cai número de candidatas a prefeita na região
Pela primeira vez nos últimos 26 anos, a eleição nas sete cidades do Grande ABC não terá uma mulher sequer candidata a prefeita. Desde o início dos pleitos pluripartidários, em 1982, as eleições sempre tiveram a presença de candidatas aos paços municipais, ainda que em pequeno número (veja arte ao lado). Dos 301 pleiteantes majoritários em sete disputas municipais no período - contabilizando a de 2008 -, apenas 18 foram do sexo feminino, o que representa apenas 6% do total.

Para o cientista político Rui Tavares Maluf, esse é um dado que chama atenção no Brasil inteiro. "Muitas mulheres não deixaram de ser mães e a política tem sentido menor. Elas não se sentem tão realizadas com atividade política." (leia reportagem abaixo).

Na história, a região observou somente três mulheres assumirem o principal cargo público das cidades. Em 1947, Tereza Delta foi prefeita de São Bernardo, após ser indicada para o posto por Adhemar de Barros, o qual assumira pouco antes o governo do Estado de São Paulo. Irinéia José Midolli comandou Rio Grande da Serra, de 1973 a 1977. E Maria Inês Soares esteve à frente do Paço de Ribeirão Pires por dois mandados recentes: de 1997 a 2004.

A tradição da carência de mulheres no cenário político regional também pode ser medida pela representatividade feminina na Câmara de São Caetano. Desde a primeira legislatura da Casa, em 1949, após a emancipação político-administrativa do município no ano anterior, apenas seis mulheres ocuparam uma cadeira titular no Legislativo são-caetanense.

A participação diminuta da classe feminina na política não é privilégio do Grande ABC, pois também pode ser medida pelas vagas ocupadas por elas no Congresso: são oito senadoras e 43 deputadas federais, o que corresponde a 8,5% do total de homens.

Histórico - Enquanto a quantidade total de candidatos nas últimas seis eleições despencou, o número de candidatas foi mantido. Em 1982, a região teve 81 postulantes às prefeituras. Este ano o conjunto dos 27 concorrentes é duas vezes menos do que a primeira eleição pluripartidária da história.

Entretanto, desde 1982, em média, o Grande ABC apresentou para cada disputa três mulheres com intenção de serem prefeitas. Exceção feita em 2008, que não terá mulheres na corrida eleitoral.

Ao longo dos últimos 26 anos, São Bernardo e Ribeirão Pires foram as cidades que mais apresentaram candidatas nos pleitos: quatro cada município. Já Diadema é a cidade que menos teve mulheres interessadas em assumir o Paço: apenas uma, em 2000.

Nesse período, Mauá teve três pleiteantes do sexo feminino e Santo André, São Caetano e Rio Grande da Serra, duas cada.

Quase - A ex-prefeita de Ribeirão Pires Maria Inês Soares poderia ser a única mulher a disputar uma prefeitura nas eleições deste ano, não fosse uma crise instalada no partido depois da realização do PED (Processo de Eleição Direta), em dezembro do ano passado, que definiu o novo presidente municipal da legenda.

À época, Maria Inês era pré-candidata petista ao Paço Municipal por consenso. Mas também queria ser a comandante da sigla na cidade. No segundo turno da disputa interna, as chapas se juntaram para apoiar Manoel Fernando Marques da Silva, vencedor do PED.

A ex-chefe do Executivo observou que a questão estabelecida era incoerente e classificou o fato como "um processo de desgaste". Ela retirou sua pré-candidatura no dia 26 de janeiro, ao enviar uma carta ao partido negando-se a ser a representante da legenda no pleito de outubro.

Outra mulher que quase encabeçou uma chapa nas eleições deste ano foi Avelina Romanelli Tortorello, viúva do prefeito Luiz Tortorello (que morreu em 2004). A ex-primeira-dama foi cogitada para ser candidata pelo presidente do PPS do município e seu filho, Marquinho Tortorello. Sem fôlego, a idéia não foi levada para frente e a família lançou outro pleiteante: Jayme Tortorello (PT), irmão do chefe do Executivo que administrou São Caetano por três vezes - o PPS está coligado com PT e PCdoB.

Vices - A lei 9.504, de 1996, a qual obriga os partidos políticos a reservar 30% de suas vagas a vereador para mulheres, não contempla as chapas majoritárias. Assim, continua a porcentagem tênue da classe feminina nas candidaturas que visam as prefeituras da região.

Neste ano, as mulheres aparecem somente compondo as chapas majoritárias como vices. Entre as 27 candidaturas, são cinco vices do sexo feminino, em quatro cidades.

Em Santo André, a vereadora petebista Dinah Zekcer estará ao lado de Aidan Ravin (PTB). Em São Caetano, Ivany Sanches compõe com Horácio Neto a chapa pura do Psol. Em Mauá, Cristina Oliveira (PSTU) é a vice de Mateus Prado (Psol). Em Rio Grande da Serra, a disputa das três candidaturas terá duas vices mulheres: Helenice de Arruda (PTB) repetirá a dobrada vencedora de 2004 com Adler Kiko Teixeira (PSDB) e Regina Gato (PT) está com Carlos Augusto César, o Cafu (PT).

Eleitorado - Há um claro antagonismo na representatividade e participação das mulheres na política nacional. Segundo dados oficiais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), divulgados neste mês, as mulheres são maioria no eleitorado brasileiro.

Elas ocupam 51,8% do colégio eleitoral entre os 128.805.829 cidadãos aptos a votar em outubro. E o número vem aumentando nos últimos anos. Em 2004, o gênero era 51,3% dos votantes e em 2006, 51,6%.

Elas ganham espaço, mas não na política
A modesta atuação das mulheres em questões políticas observada nos últimos anos é antítese na relação da classe feminina no quadro econômico geral. Essa é a avaliação do cientista político Rui Tavares Maluf.

"As mulheres atingiram um espaço enorme na sociedade e estão de igual para igual com os homens em diversos ramos de atividade. Por outro lado, há uma impopularidade no âmbito do sistema eletivo, pois elas temem ter o nome manchado pela relação com a política", avalia o especialista, ao ressaltar que a política é taxada de "suja" por grande parte da ala feminina.

Mesmo com a legislação facilitando o engajamento de mulheres na vida pública, os partidos têm dificuldades de preencher o percentual de 30% da chapa proporcional. "Não adianta essa questão ser regulamentada se as mulheres não estão interessadas em preencher esse espaço. Muitas legendas colocam o nome de mulheres somente para cumprir a lei. São candidatas de fachada."

Algumas siglas e candidaturas utilizam a figura feminina para angariar votos. Mas, segundo Tavares Maluf, na prática não há impacto significativo nas urnas. "A priori, só por colocar mulher para agregar para si ou tirar votos de alguém pode ser inócuo."

De acordo com o cientista, o quadro pode mudar de figura quando existe uma "força política já constituída" na chapa.

"Dessa maneira, sim, pode haver importante salto positivo e a candidatura obter votos. Mas da mesma forma aconteceria com um homem de grande expressão social e política. Não diferencia muito o gênero e sim a condição da pessoa."

Para candidatos, mulheres são ‘diferencial'
Alguns candidatos a prefeito da região optaram por utilizar a figura feminina para compor as candidaturas majoritárias. E trabalham esse aspecto na campanha como "diferencial".

Em São Caetano, no corpo a corpo diário com eleitores nos centros comerciais da cidade, a candidata a vice-prefeita pelo Psol, Ivany Sanches, faz questão de enfatizar que é a única mulher entre as três candidaturas apresentadas para a disputa municipal. "A população sente falta da mulher na Câmara e na Prefeitura."

Horácio Neto (Psol), parceiro de chapa de Ivany, ressalta que um dos fatores preponderantes na escolha da vice foi o gênero. "A esquerda está engajada na luta pela participação das mulheres na política."

O socialista frisa que 40% dos 23 candidatos a vereador da coligação Psol-PCB são mulheres, "um dos maiores índices entre as chapas da região".

Para Vera Severiano (Psol) - uma das seis mulheres a assumir uma cadeira no Legislativo são-caetanense na história -, a "tripla jornada", com trabalho, afazeres domésticos e atividades maternas, muitas vezes afasta o público feminino das questões políticas.

"A falta de tempo é fator negativo, mas devemos persistir sempre."

O candidato tucano à reeleição em Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira, optou por manter a dobrada vencedora em 2004, com a vice Helenice de Arruda (PTB). "Ela fez um trabalho de grande representatividade à frente do Fundo Social de Solidariedade. Continuamos com a estratégia que deu certo."

O prefeito observa que o candidato oposicionista, Carlos Augusto César, o Cafu (PT), escolheu a mesma tática de parceria com uma mulher para tentar "obter sucesso" nas eleições.

Por Beto Silva - Diário do Grande ABC
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