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DATA DA PUBLICAÇÃO 22/08/2016 | Esportes
Brasil inicia jornada para ser potência paralímpica mundial
Brasil inicia jornada para ser potência paralímpica mundial Silvania Costa, de São Caetano, tem recorde mundial de salto em distância. Foto: Divilgação
Silvania Costa, de São Caetano, tem recorde mundial de salto em distância. Foto: Divilgação
Atletas paralímpicos sabem que o importante é competir, mas não entram para perder

Na impecável e novíssima pista de atletismo do CPB (Centro Paralímpico Brasileiro), localizado no Parque Estadual Fontes do Ipiranga, zona sul paulistana, eles estão orgulhosos. Preparam-se todos para um objetivo dos mais elevados: o Brasil trabalha para ficar entre os cinco países melhor posicionados do quadro de medalhas dos Jogos Paralímpicos do Rio, evento que sucede a competição em andamento neste agosto. Delírio?

Em Atenas-2004, o Brasil ficou em 24º lugar. Foi o ano em que os brasileiros viram as competições ao vivo pela TV e "descobriram" os atletas cuja deficiência não os desanima de competir para ganhar e representar o seu país. Quatro anos depois, subiu para a 14ª posição. Em Londres-2012, a 9ª. A meta de 2016, portanto, não parece tão ousada diante dessa evolução.

É certo que a Olimpíada vai bombardear os telespectadores de imagens gloriosas e reportagens a realçar façanhas de atletas de todo o mundo. Encerrado o evento, em 21 de agosto, uma pequena pausa e começa o outro espetáculo, de 7 a 18 de setembro. É a vida continuando em grande estilo mesmo após um acidente de moto, um AVC, uma lesão na coluna vertebral, uma perda parcial ou total da visão. Esses atletas lutam sorrindo, sabem mais do que ninguém o valor de um incentivo e não têm pena de si mesmos. Quem já assistiu a uma competição não esquece o grito: "Vai lá, vai lá, vai lá! Vai lá de coração! Vamos sem braço, vamos sem perna. Vamos ser campeão!".

Amputado dos joelhos para baixo com 21 dias de vida, devido a uma malformação congênita, Alan Fonteles aparafusa suas próteses da marca islandesa Össur sentado em um canto da pista. O trabalho consome quase 20 minutos. No treino após dar um "tiro" (arrancar), o homem que ficou conhecido mundialmente ao bater o astro sul-africano Oscar Pistorius, na final paralímpica dos 200 metros da classe T44 de 2012, cai. Sua prótese direita simplesmente quebra, espalhando carbono esfarelado pela pista.

"Nunca isso aconteceu antes comigo, e não vi acontecer com ninguém", diz o paraense de 24 anos. Hoje, Pistorius está aprisionado, acusado de assassinar a modelo Reeva Steenkamp, sua namorada. Um vídeo em que joga bola numa penitenciária na África do Sul ficou famoso. Outro adversário com potencial, o norte-americano Richard Browne, desistiu da disputa. Vice-campeão olímpico na classe T44 (amputação de uma perna ou limitação similar), nos 200m, e recordista mundial, ele anunciou que não está preparado para "competir no nível em que está acostumado". Há quem desconfie da justificativa e suspeite de doping, uma praga que penetrou também o inspirador mundo do esporte paralímpico.

Até 2008, Fonteles usava uma prótese de madeira, que o machucava bastante e não dava retorno, não devolvia a energia cinética para fazê-lo correr mais. No ciclo que se estendeu até Londres, e até o "ano sabático" que tirou em 2014, teve apoio federal e do Time São Paulo, uma bolsa-atleta estadual, além de outros patrocínios. Os anunciantes descobriram que faz bem vincular suas imagens a atletas paralímpicos consagrados. Dá um tom de humanidade a empresas que por vezes cobram altas taxas e têm número elevado de queixas em órgãos de defesa do consumidor.

O período de descanso custou a Fonteles o apoio paulista, mas os que lhe restam, que incluem o da própria Össur, são suficientes para levar uma vida confortável. Com tranquilidade, ele promete espetáculo. "Vamos lá mostrar o nosso trabalho. E vai ser tão bonito que as pessoas não vão nem enxergar as deficiências. Elas vão ver o show."
Cega voadora

Enquanto Fonteles fala, Silvânia Costa, de 29 anos, se prepara para o salto em distância, na mesma pista do CPB onde bateu o recorde mundial da prova, na categoria T11 (cego total), em 26 de junho. E voltou a superar sua própria marca em 17 de julho, também numa etapa do Circuito Loterias Caixa de Atletismo e Natação. A sul-mato-grossense registra 5,46 metros, avançando 12 centímetros em relação ao salto seu anterior e 25 além da marca estabelecida pela espanhola Purificación Ortiz, que sustentou o recorde desde 1997.

O quadro é esse até o fechamento desta edição, mas a cega voadora do Centro-Oeste está em plena evolução. Silvânia, que tem uma mancha no nervo ótico, chamada na literatura médica de stargate, ingressou no mundo do atletismo pelas corridas de rua. Gostava de correr em torno da Lagoa Maior de sua cidade, Três Lagoas, dando voltas num circuito de 2.800 metros. Tinha, então, apenas 5% de visão. "Eu enxergava vultos e, para me orientar, seguia outro corredor. Às vezes caía e me machucava, mas sempre gostei muito de correr", conta.

De um amigo, ouviu uma dica: haveria uma prova de 10 quilômetros com premiação de R$ 300, a Corrida do Verde. Aos 20 anos, ela já era mãe de uma menina de 2. Com o prêmio, poderia pagar o leiteiro por três meses. Correu, ganhou e pagou. "Mas as mesmas contas chegavam nos meses seguintes", atesta. Animada com aquela forma de conseguir dinheiro, foi se testar na Corrida de Reis, com premiação de R$ 500, em Campo Grande. O resultado? Quase cinco meses de leiteiro garantidos, deduzidos os custos de viagem – que Silvânia reduzia dormindo nas estações rodoviárias.

As performances chamaram a atenção do treinador Ricardo Itacarambi, da Associação dos Cegos de Cuiabá. Com tanto potencial, ganhou apoio da prefeitura de Três Lagoas e foi encaminhada para treinar em São Caetano. Diversos testes revelaram maior aptidão para o salto e corridas de velocidade, mas ela chegou a ser recordista brasileira até no arremesso de peso. No Rio, vai disputar também a corrida de revezamento 4x100m.

No salto, Silvânia precisa lidar com a sensação do voo cego. "Existe uma técnica para a gente contrair a musculatura e ficar mais tempo no ar, alongando o salto. Mas o cego não sabe a altura em que se encontra. Por não saber, o corpo da gente se protege e dá uma trancada. É necessário trabalhar psicologicamente para aproveitar todo o potencial do salto", explica. Quando aprender, quanto conseguirá voar?

Por Walter Venturini - ABCD Maior
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