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DATA DA PUBLICAÇÃO 20/11/2011 | Saúde e Ciência
Billings tem poluente altamente tóxico
Billings tem poluente altamente tóxico  Especialistas alertam para risco dos POPs na captação de água. Foto Luciano Vicione
Especialistas alertam para risco dos POPs na captação de água. Foto Luciano Vicione
Dioxina tóxica e cancerígena está no braço Rio Grande, o lado ‘limpo’ da represa, que abastece 1,6 milhão de moradores de três cidades da Região

A represa Billings, um dos principais reservatórios da Região Metropolitana de São Paulo, está contaminada com dioxina, um dos 22 POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes), considerados as substâncias mais perigosas e tóxicas do mundo.

Assim como o nome diz, os poluentes resis-tem à degradação ambiental e ao tempo, até mesmo às bactérias, e são facilmente absorvidos pelos organismos vivos, como algas, peixes e o próprio ser humano.

Até o momento, não existe tecnologia capaz de descontaminar ou eliminar esses poluentes que se encontram no braço Rio Grande, o lado “limpo” da represa, onde a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) faz a captação de água para abastecimento de 1,6 milhão de pessoas em Santo André, São Bernardo e Diadema.

A presença de dioxina na Billings foi apontada por relatórios ambientais do Greenpeace e confirmada pela empresa Solvay Indupa, responsável pela contaminação.

O problema é decorrência da cal contaminada, subproduto do processo químico para produção do PVC (plástico) pela Solvay. O depósito de 200 mil m², equivalente a 20 campos de futebol, tem cerca de 1 milhão de toneladas da cal tóxica às margens da represa, em Santo André. A descoberta ocorreu em 1999, mas o produto já havia contaminado o leito e a represa, as águas subterrâneas, o solo e subsolo da Solvay.

O físico e ambientalista Délcio Rodrigues, que acompanhou, na época, as denúncias pelo Greenpeace, explicou que não houve contato direto da cal contaminada com a represa ou com águas subterrâneas.

“Imagina-se que a contaminação ocorreu pela forma humana, uma vez que a cal era industrializada e transportada. Ou por arraste, o que significa que a chuva pode ter levado os resíduos até a represa”, esclareceu. O ambientalista disse que alguns biólogos defendiam a ideia de deixar os poluentes no fundo da represa para evitar maior exposição ao poluente. “O que existe hoje está sedimentado no lodo do fundo da água”, revelou Rodrigues.

A pesquisadora e professora de química do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) e doutoranda da área de desenvolvimento e sustentabilidade ambiental, Régia Maria Avancini, vê com preocupação o problema no ABCD.

“É preciso avaliar o nível desses contaminantes no reservatório, nos peixes e nos sedimentos, uma vez que o tratamento convencional da água, para fins de consumo humano, não retira esses contaminan-tes”, alertou. Régia destacou que as análises dos POPs não são simples. “É preciso contar com laboratórios especializados e técnicas sofisticadas. O custo é elevado.”

Desde a descoberta da contaminação, a Solvay realiza programa de recuperação e remediação da represa com acompanhamento da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e do Ministério Público. Mas o órgão ambiental disse desconhecer a contaminação da Billings por dioxinas.

A Cetesb ainda garantiu ter realizado entre setembro de 2003 e maio de 2005 um estudo técnico-científico sobre o transporte dos sedimentos na sub-bacia do Rio Grande e na bacia Billings, o qual não revelou comprometimento da qualidade das águas.

Procurada, a Sabesp não se manifestou sobre o problema, apenas disse monitorar a qualidade das águas e submetê-las à aprovação da Cetesb.

POP causa câncer e alterações genéticas

A toxicidade combinada com a elevada persistência e com o fato de serem bioacumulativos, ou seja, se acumularem no corpo de plantas e animais ao longo dos anos, fazem dos POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) perigosos à saúde dos seres vivos.

Para professores e especialistas ouvidos pela reportagem do ABCD MAIOR, pequenas quantidades dessas substâncias em contato com o organismo são capazes de causar várias enfermidades e problemas de saúde, muitas vezes, irreversíveis.

Estudos da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) revelam que doenças como câncer, diabetes, depressão do sistema imunológico, redução da resistência óssea, infertilidade, distúrbios neurológicos e, até mesmo, alterações genéticas estão associadas à exposição dos humanos aos POPs.

“A toxicidade desses poluentes é tão grande que não existem bactérias capazes de degradá-los”, destacou o professor de Engenharia Ambiental da Universidade Metodista, Luiz Rogério Mantelli.

A pesquisadora e professora de química do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), Régia Maria Avancini, classifica os problemas ocasionados pelos POPs como gravíssimos. “Pequenas quantidades no organismo já são suficientes para problemas danosos”, alertou.

Por causa dos perigos, em 2001, 90 países, incluindo o Brasil, em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas), assinaram um Tratado Internacional de Banimento dos POPs em Estocolmo, na Suécia. O objetivo da iniciativa era conseguir o comprometimento das nações em banir da produção industrial todos os poluentes considerados nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. O Brasil legitimou o acordo em 2004.

Para o mestre em saúde pública e membro do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Luiz Antônio Dias Quitério, a probabilidade dos perigos à saúde podem aumentar ou diminuir de acordo com os fatores de risco ou proteção envolvidos. “É necessário estudar a realidade concreta na qual a contaminação se deu, tais como a concentração, rotas e vias de exposição humana. Só assim será possível avaliar corretamente todos os riscos.

Por Claudia Mayara - ABCD Maior
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