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DATA DA PUBLICAÇÃO 14/07/2008 | Informática
Apagão de internet revela os riscos da ciberdependência, diz especialista
Uma pane no sistema da empresa responsável por 68% das conexões paulistas à internet provocando, no último dia 3, prejuízos, longas esperas em órgãos públicos e lamento entre usuários de todo o Estado, pode ser um lembrete de que o indivíduo está demasiadamente dependente da rede.

A Folha ouviu o psicólogo Jean-Charles Nayebi, ex-pesquisador da Universidade de Paris 13, para comentar o caso a partir de sua especialidade: a "ciberdependência" ou vício em internet.

Segundo Nayebi, autor de "La Cyberdépendance en 60 Questions" (A Ciberdependência em 60 Questões, ed. Retz), pelo menos 8% dos mais de 1 bilhão de internautas sofrem do transtorno.

Quanto à sociedade, ele diz que não a considera doente, mas compara a dependência sistêmica da internet, que faz com que serviços básicos deixem de funcionar sem ela, à incapacidade, devido ao advento da calculadora, de fazer uma simples conta de adição.
Leia abaixo trechos da entrevista, concedida por e-mail.

Folha - Podemos falar em "sociedades dependentes"?

Jean-Charles Nayebi - Sou contra a generalização do termo "dependência", que tem um sentido psicopatológico para um cientista como eu. Prefiro "sociedades do excesso", pois o consumo abusivo ou excessivo é certamente problemático, mas diferente da dependência. O futuro do homem na sociedade industrial parece, no entanto, ser um futuro dependente da tecnologia em particular.

Folha - Um Estado que quase pára quando 68% das conexões à internet param de funcionar é um Estado com problemas mentais?

Nayebi - É uma questão de ponto de vista. Se considerarmos que a alienação é um problema mental, deveremos responder afirmativamente.

Mas, se considerarmos que a escolha por "tudo informatizado" é simplesmente a única via de atingir a modernidade, a resposta será mais branda.

Tome-se como exemplo a calculadora. A geração jovem atual nos países que generalizaram o uso da calculadora na escola é certamente muito menos forte em cálculo mental do que a geração precedente.

Hoje, os contadores deixam de trabalhar se há uma pane informática, a administração fica paralisada se há uma perda de conexão, mesmo que seja para entregar um certificado banal!

A perda de uma capacidade corresponde mais a uma "deficiência" que a um "problema mental".

Folha - Para evitar que a internet "coma seus filhos", como o sr. diz, é o caso de restringir a liberdade de uso? Como resolver esse paradoxo?

Nayebi - Não se pode fazer um uso qualquer da liberdade. Ter uma boa "higiene" no consumo da internet não está absolutamente em contradição com sua liberdade de uso.

Folha - Quantos ciberdependentes existem hoje no mundo?

Nayebi - Em 2006, estimávamos o número de internautas em 1,1 bilhão. As previsões para 2011 são de 1,5 bilhão de internautas. Os estudos ocidentais mais concordantes estimam a quantidade de ciberdependentes em 8% dos internautas. Essas estimativas são amplamente revisadas pela alta na Ásia, onde as autoridades evocam cifras que podem atingir até 20%.

Folha - A internet criou mais doenças do que outras inovações revolucionárias, como o rádio e a televisão? Por quê?

Nayebi - Os casos de dependência da televisão ou do rádio são excessivamente raros. Os 'teléfagos' são apenas consumidores excessivos, e não dependentes no sentido psicopatológico do termo.

Ouvir rádio ou assistir à TV são atos passivos em que o papel do utilizador se resume a escolher um canal.

As atividades no computador e na rede são muito mais numerosas e demandam uma vigilância e uma interatividade maior da parte do usuário. O que eleva consideravelmente o potencial vicioso da internet é a interatividade.

Folha - O sr. classifica a ciberdependência em quatro tipos, ciberdependência de jogos, relacional, sexual e ciberacumulação, o vício por colecionar dados e acrescenta que os primeiros três são objetos de consulta. Mas não seria o último o mais freqüente?

Nayebi - A ciberacumulação transparece nas consultas de todos os pacientes.

Os compradores patológicos, os tecnófilos apaixonados ("geeks"), os cinéfilos renitentes, os musicófilos loucos pela tecnologia (o "peer-to-peer") passam seu tempo acumulando objetos comprados na net, informações técnicas e tecnológicas sobre o último aparelho da moda, centenas de filmes e músicas pirateadas em transmissões ilegais.

A indústria da estocagem de dados tem bons dias pela frente. O mais estarrecedor é que o ciberacumulador não encontra tempo nem para ver metade do que baixou!

Folha - Em suas manifestações mais amenas e no contexto da "sociedade da informação", a ciberacumulação é um novo etos cultural?

Nayebi - A mutação que nossa sociedade está em via de viver, graças às novas tecnologias da comunicação, é imensamente mais profunda do que parecemos mensurar no momento. A 'sociedade da informação', em termos psicossociais, é a árvore que esconde a floresta da 'sociedade de consumo'.

A angústia do homem moderno está em encontrar os meios de consumir e possuir.

Pouco importa se o filme que se baixa é a versão italiana de um filme japonês que o francês nada compreenderá. Baixamos arquivos porque estão disponíveis e gratuitos, além de ser agradável o fato de constituir uma desobediência à lei que proíbe o download ilegal.

Folha - Os celulares têm mensagens e acesso a internet e são utilizados por cada vez mais crianças. Já representam uma ameaça de ciberdependência relacional?

Nayebi - Eles aumentam o acesso ao objeto de dependência. Hoje tratamos, na Espanha, duas crianças com dependência grave de telefone celular.

Outros problemas como ansiedade e falta de concentração são encontrados mais comumente em pessoas que fazem uso excessivo do celular.

Folha - Uma das questões de "Ciberdependência em 60 Questões" é sobre os tamagotchis (bichos de estimação virtuais). Preocupa que mais pessoas tenham sociabilidade com robôs, ao invés de humanos?

Nayebi - Acho o caso dos tamagotchis bastante preocupante.

O ser humano é capaz de ter afeição por uma máquina que não corresponde. O investimento afetivo torna-se, portanto, pura perda. No caso de crianças pequenas, pudemos notar verdadeira escravidão afetiva, com baixa de rendimento escolar e ansiedade.

Aconselho sempre aos pais recusarem quando a criança pedir um tamagotchi e proporem um animal de verdade no lugar, pois um cão ou um gato correspondem ao afeto da criança e evitam que a criança seja uma "devedora afetiva".

Por Ernane Guimarães Neto - Folha de São Paulo
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